Você já teve a sensação de que o mundo estava girando a sua volta ou perdeu o equilíbrio sem motivo aparente? Essas são algumas das ilusões de movimento que caracterizam a tontura, um sintoma presente em diferentes doenças que levam ao distúrbio do labirinto (estrutura interna do ouvido responsável pela audição, percepção e equilíbrio do corpo) ou de suas conexões com o cérebro.
Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que cerca de 30% da população mundial, principalmente adultos e idosos, sofrem de tontura por causas diversas.
Já a labirintite é um processo inflamatório agudo raro, que afeta o labirinto, comprometendo a audição e o equilíbrio, podendo levar até mesmo à perda auditiva definitiva. Muitas pessoas que têm labirintite sofrem de tontura – daí porque é comum a confusão entre as duas situações –, podendo sentir também incômodos como zumbidos, vertigem, náusea, vômitos, sudorese e distúrbios gastrointestinais.
“Quando o paciente diz que está com a ‘labirintite atacada” ele quer dizer que está com tontura. Por outro lado, existem causas de tontura muito mais frequentes que a labirintite, como a enxaqueca do labirinto, a doença de Menière e a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB)”, explica o otorrinolaringologista Ricardo Dorigueto, especializado em tontura e zumbido.
Nathália Prudencio, otorrinolaringologista que também é especialista em tontura e zumbido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ressalta que com todo o avanço da medicina e uso de antibióticos, dificilmente uma infecção de ouvido chega até o labirinto antes de ser diagnosticada e tratada corretamente. “É importante que o paciente saiba que existem causas mais comuns que acometem o ouvido e provocam tontura, que não têm nenhuma relação com labirintite”, afirma ela.
A seguir, esclarecemos os sintomas, diagnóstico e tratamento para quem tem sinais de tontura frequentes.
O que causa a tontura?
A maioria dos pacientes que se queixa de tontura possui doenças localizadas no labirinto ou em suas conexões com o sistema nervoso, mas que não têm relação com a labirintite. A tontura também pode ser sinal de problemas cardiovasculares, neurológicos, metabólicos (como diabetes), doenças tireoidianas, colesterol alto, problemas na coluna cervical e dietas desregradas.
“A tontura pode ser sinal de problemas em diferentes sistemas do nosso organismo e por isso deve sempre ser investigada com um profissional capacitado nessa área”, destaca Nathália. Ela diz que doenças que acometem o sistema nervoso central, apesar de pouco comuns, como Acidente Vascular Cerebral (AVC), podem causar desequilíbrio e instabilidade no paciente.
Tontura pode ser apenas sinal de mal-estar?
Sim, algumas pessoas sentem desconforto em determinadas situações de movimento. Uma doença comum nesses casos é a cinetose, o enjoo em viagens de carro, barco ou mesmo avião. “Isso ocorre devido a informações que chegam de forma desencontrada no nosso sistema do equilíbrio. Nesse caso, orientamos os pacientes a usarem alguma medicação alguns minutos antes da viagem para alívio de sintomas”, explica a otorrinolaringologista. Ela acrescenta que também orienta o paciente a fazer uma reabilitação vestibular – exercícios feitos junto a um fonoaudiólogo ou fisioterapeuta, para que esses movimentos deixem de incomodar.
Quais as principais doenças que podem causar tontura?
Conheça algumas das doenças mais comuns que podem provocar tontura:
1. Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), quando as pedrinhas de cristal presentes no labirinto se soltam e se movem, provocando uma vertigem forte de curta duração após movimentos rápidos como abaixar, levantar e virar a cabeça para um dos lados.
2. Doença de Menière, outra vertigem forte que leva ao acúmulo excessivo ou aumento da pressão do fluído na orelha interna, e pode durar horas ou até dias.
3. Neurite vestibular, inflamação de nervos que conectam a orelha interna ao cérebro.
4. Enxaqueca vestibular, dor latejante na cabeça que pode produzir alterações no sistema vestibular durante a crise, levando em alguns casos à tontura.
5. Queda da pressão arterial, uma das causas mais conhecidas de tontura, provocada após nos levantarmos muito rápido, ou originada pela má alimentação ou ainda por outros problemas de saúde.
Como é feito o diagnostico quando há sinais de tontura?
A tontura deve ser investigada por um médico – como um clínico geral, otorrinolaringologista especializado em tontura (otoneurologista), neurologista ou geriatra – principalmente, quando intensa ou recorrente.
O diagnóstico da causa de tontura do paciente é feito em grande parte pela história que ele conta no consultório, em que deve detalhar o incômodo. “É muito importante que o paciente saiba relatar que tipo de tontura sente, se vê tudo girar, se é apenas um desequilíbrio, se é uma sensação de estar em um barco, se é um escurecimento visual, quanto tempo ela dura, se minutos ou horas, se percebe algum sintoma junto com a tontura, como sintomas no ouvido, dores de cabeça, aumento da frequência cardíaca, enjoos”, comenta a médica da Unifesp.
Após coleta detalhada desses dados, são definidos os exames complementares necessários para melhor esclarecimento do quadro do paciente, como os de sangue e outros para avaliação de equilíbrio.
Há tratamento para a tontura?
“Cabe ao profissional de saúde estabelecer o diagnóstico e planejar o tratamento adequado, seja por meio de modificações de hábitos de vida, medicações, fisioterapia labiríntica ou mesmo cirurgia para tontura. Inverter esta ordem, ou seja, tratar sem estabelecer o diagnóstico correto, pode ser imprudente e prejudicial à saúde do paciente”, alerta Ricardo Dorigueto.
Erros alimentares, estresse emocional, automedicação e hábitos inadequados de sono e postura devem ser corrigidos. Devido à pandemia, é necessário ficar atento também ao nervosismo, insônia e ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, nicotina e doces”, destaca o especialista.
Conflitos e estresse no trabalho podem de alguma forma interferir na tontura?
Sim. A tontura e o estresse são fortemente ligados. No caso do home office, o sintoma pode ser agravado pelas tensões sobre a musculatura dos ombros, coluna cervical e cabeça, devido os longos períodos em frente ao computador e às posições inadequadas de trabalho. “A dica é ficar atento à posição correta do corpo durante o trabalho, realizar descansos regulares, utilizar boa iluminação ambiente, praticar técnicas de relaxamento e realizar atividades físicas com regularidade”, conclui Ricardo Dorigueto.
