A comida japonesa é muito popular no Brasil, mas vai muito além do peixe cru que mergulhamos no shoyo. Vem entender como essa culinária se popularizou por aqui!

Para ir a um restaurante japonês, décadas atrás, era preciso se aventurar em restaurantes no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo. Muitos desses estabelecimentos comerciais tradicionais, atendiam a colônia local, e poucos “forasteiros” eram vistos. Existiam alguns restaurantes fora do bairro, nas imediações do Paraíso e ao redor do Largo da Batata, onde fica o Mercado Municipal de Pinheiros, na zona oeste paulistana. Aos poucos, eles se espalharam pela cidade e pelo país, fazendo do sushi o queridinho do #sextou.

Mas como os sushis e sashimis se tornaram tão amados por aqui? Primeiro porque caiu no gosto do brasileiro as iguarias frescas. Mas também porque, como tudo que chega com a imigração, o brasileiro adaptou, colocou o seu jeitinho e criou sua própria forma de fazer comida japonesa. Hoje é possível entrar em restaurantes em praticamente qualquer capital brasileira sem encontrar um descendente nipônico. E comer um sushi cheio de cream cheese, para desespero dos puristas.

Um pedacinho do Japão do outro lado do mundo

Quando o navio Kasato Maru aportou no porto de Santos, no dia 18 de junho de 1908, vindo de Kobe, a embarcação trouxe, após 52 dias de viagem, os 781 primeiros imigrantes vinculados ao acordo imigratório estabelecido entre Brasil e Japão. Começava, assim, uma significativa onda de imigração, que influenciaria, em muito, a cultura brasileira, que se iniciava com o recebimento de cerca de 3.000 trabalhadores por força de um acordo bilateral.

Inicialmente, os japoneses recém-chegados foram viver em seis fazendas paulistas. Enfrentaram, porém, um duro período de adaptação. O grupo contratado pela Companhia Agrícola Fazenda Dumont, por exemplo, não permaneceu ali mais do que dois meses. As outras fazendas também foram sendo gradativamente abandonadas pelos trabalhadores de costumes tão diferentes. Em setembro de 1909, restavam apenas 191 pessoas nas fazendas contratantes.

Ainda assim, a imigração continuou tornando a difícil adaptação menos traumática. Em 1914, o número de trabalhadores japoneses no Estado de São Paulo já estava em torno de 10 mil pessoas.

Com o tempo, o aumento do número de colônias agrícolas japonesas, em direção ao noroeste do Estado de São Paulo, deu início também a muitas escolas primárias destinadas a atender os filhos dos imigrantes. Em 1918, formaram-se as duas primeiras professoras oficiais saídas da comunidade pela Escola Normal do Rio de Janeiro.

Em 1932, segundo informações do Consulado Geral do Japão em São Paulo na época, a comunidade nikkey era composta por 132.689 pessoas, com maior concentração na linha noroeste sendo 90% de trabalhadores agrícolas.

Ainda que guardando suas tradições, a colônia japonesa no Brasil hoje está bastante disseminada e adaptada, formando parte integrante do povo brasileiro.

Comida tradicional japonesa e suas adaptações

Pode até parecer estranho, mas o sushi não é uma comida do dia a dia dos japoneses. A iguaria é reservada para ocasiões especiais e festas na terra do sol nascente. Ainda que o consumo de arroz e peixe seja bastante grande, no Japão é muito comum encontrá-los em pratos quentes. Também é habitual o consumo do macarrão, como o ramén e bifum, este último feito de arroz, sempre com muitos legumes. Quem lembrou das maravilhosas barraquinhas de yakisoba da Liberdade?

Por aqui, é mais comum encontrar esses pratos em restaurantes tradicionais, enquanto o sushi está muito mais popularizado (até em churrascaria!). Nós deixamos de lado alguns costumes originais para que a comida se adapte ao nosso gosto. Tal como o acréscimo de cream cheese no sushi.

A forma de consumo também é bastante peculiar ao olhar do japonês. Ainda que presente nos pratos, o gengibre e o nabo, para muitos brasileiros é apenas decoração (ainda que deliciosos e que combinem bastante com o frescor dessa culinária). Temos o costume de comer muito molho shoyu, cujo uso é bastante moderado entre os japoneses.

Ainda, o rodízio (ou festival) de comida japonesa pode parecer bastante estranho para a comedida etiqueta japonesa. Esse hábito da culinária brasileira, ainda mistura pratos bastante diferentes que dificilmente ficariam juntos por lá.

Em mais de 100 anos, absorvemos muito da cultura culinária japonesa e a transformamos para apreciar do nosso jeito, a ponto de ser muito fácil, inclusive, encontrar seus ingredientes em mercados ou pedir a entrega na porta de casa um belo combinado. Mas também fizemos isso com outras tantas culturas, como a libanesa ou a italiana.

Seja em um restaurante tradicional, em um moderninho ou um popular, é importante lembrar que as culturas conversam e que só temos a ganhar com essa relação. Um brinde (de saquê!) ao sushi e a toda comunidade nikkey! Arigatou gozaimashita.

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