Segundo dados do Sebrae e do IBGE, as empresas familiares geram 65% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e empregam  75% da força de trabalho, além de representarem 90% dos empreendimentos no Brasil. No entanto, apenas 15% desses negócios conseguem passar o patrimônio para a terceira geração.

Trabalhar com pessoas com as quais existe uma ligação afetiva nem sempre é fácil. “E preciso saber separar as duas instituições – família e negócio – e definir as prioridades de cada uma delas”, afirma a gestora de carreira Madalena Feliciano.

Para o empreendedor Marcos Kalvelage, que em 2013 lançou com o irmão Maurício uma marca de vodka nacional, manter a saúde de um negócio familiar exige que os sócios tenham interesses e objetivos em comum e possam confiar um no outro.

“Abrir um negócio com o meu irmão foi ótimo, pois já tínhamos esse interesse em comum pelo universo de bebidas. E tem essa questão da confiança, de saber quem é a pessoa que está do nosso lado. Claro que algumas vezes temos opiniões contrárias, mas sabemos como lidar com isso pois nos conhecemos muito bem”, explica o empresário.

 

A seguir, veja algumas das dicas dadas por Marcos e por Madalena sobre os cuidados a tomar para que o negócio familiar seja gerido com sucesso.

1. Sócios com interesses em comum

É fundamental empreender em uma área que seja de interesse de todos os sócios, para que estes se empenhem e tenham prazer com o trabalho, aumentando as chances de sucesso do mesmo. “Se alguém embarca no negócio apenas por empolgação, com o tempo, pode acabar desistindo da sociedade”, alerta o empreendedor.

2. Separação entre o pessoal e o profissional

Quando se fala em sociedade entre parentes, muitos acreditam que o simples fato de ter intimidade com o sócio garantirá a boa relação entre eles e o sucesso do negócio, mas não é bem assim. “É importante distinguir as questões familiares e pessoais das questões profissionais, para evitar discussões, desgaste na relação e até mesmo prejuízos financeiros”, ressalta Marcos. Uma prática comum, por exemplo, é misturar as contas bancárias pessoal e da empresa, destinando dinheiro da empresa para uso próprio ou o contrário, recursos pessoais para operações do negócio – o que não é recomendado. Os gastos referentes à empresa devem sempre ser contabilizados e constar como despesas no fluxo de caixa.

3. Instrumentos jurídicos societários

Há quem avalie que por se tratar de uma empresa familiar, não é preciso formalizar a sociedade, podendo contar apenas com um contrato social, verbal e informal. Porém, documentos como o memorando de entendimento, o contrato social, acordo de quotistas e as atas de assembleias, em que se formalizam os acordos, são fundamentais por resguardar os sócios e administradores de uma empresa familiar.

4. Mediação de conflitos

“Quando família e negócios se misturam, é de se esperar que, mais cedo ou mais tarde, crises ocorram”, afirma Madalena. Para evitar brigas e possíveis problemas que possam surgir a partir de pequenos desentendimentos, ela sugere a criação de um conselho de família, que estabeleça regras claras para a solução de conflitos. “Se essa estrutura é bem conduzida, ela auxilia a minimizar os conflitos, porém, sua ausência fará com que eles surjam com muito mais frequência e rapidez”, destaca a especialista.

5. Responsabilidades bem definidas

Em qualquer sociedade, familiar ou não, é preciso que todos os sócios tenham claro quais são seus direitos e deveres. Isso facilita o trabalho no dia a dia sem atropelos – isto é, que um passe a fazer o que é papel do outro – e permite também que todos sejam cobrados pelo que de fato lhes cabe fazer – evitando questionamentos descabidos.

6. Contratações baseadas em critérios objetivos

Para que a empresa funcione a contento, é preciso que o profissional comprove sua competência na gestão, e não apenas assuma o cargo por ser da família ou um ‘velho amigo’. Um colaborador altamente competente, por exemplo, pode ser elegível pelo conselho para ocupar um cargo de gestão, sendo ou não da família. “Antes de tudo é preciso que ele seja competente e confiável, para depois levar em consideração seu sobrenome”, recomenda a gestora de carreira.

Ela diz que, muitas vezes, os donos da empresa decidem colocar em posições de destaque na empresa seus filhos ou familiares, mesmo que sejam inexperientes e pouco motivados. “Isso pode fazer com que os funcionários com mais tempo de casa sintam-se frustrados, pois eles já trouxeram bons resultados ao negócio, e isso não é algo bom para a empresa, pois ela precisará, cedo ou tarde, de colaboradores ‘de fora’ e competentes.

7. Diálogo constante entre os sócios

Ter uma sociedade exige debater as medidas mais importantes da empresa com todos os sócios. Tomar decisões sem consultá-los pode ser mal interpretado e dar abertura a que outras pessoas atuem da mesma forma. “Embora o sócio seja alguém da família, é importante sempre compartilhar ideias, e antes de tomar qualquer decisão, conversar para evitar atritos”, orienta Marcos Kalvelage.

8. Diferenças respeitadas (e valorizadas)

Cada pessoa, ainda que da mesma família, tem suas particularidades e preferências, e com a conivência no dia a dia isso fica ainda mais evidente. Portanto, é mais produtivo tirar proveito das diferenças e dos talentos individuais, e mostrar-se aberto a novas ideias que contribuam para fazer o negócio prosperar e dar certo.

9. Planejamento da sucessão

Para que o negócio obtenha sucesso é preciso que os sócios tenham confiança entre si e tomem cuidado com a sucessão da empresa, que deve ser planejada com antecedência e cuidado. “Uma instituição não é apenas uma questão de herança, mas sim de competência: é preciso que o sucessor passe a confiança de que irá manter o negócio funcionando”, declara Madalena.

10. Separação entre empresa e família

A gestora recorda uma frase do escritor e economista Peter Drucker, também conhecido como o “guru da administração”, que dizia que “a empresa e a família somente sobreviverão e se sairão bem se a família servir à empresa e não o contrário”. Para a gestora, tal afirmação fica ainda mais clara com o passar do tempo e, portanto, é preciso saber separar as duas instituições e definir as prioridades de cada uma delas.

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