Não é segredo para ninguém que a pandemia do coronavírus mudou completamente nossos hábitos, trazendo incertezas e insegurança para a nossa rotina. Nesse contexto, passamos a ser mais cautelosos com o consumo, poupando, pesquisando preços, cortando os gastos supérfluos e pensando mais antes de comprar. O impacto disso pôde ser mesurado por uma pesquisa realizada pela Federação do Comércio (Fecomércio), em outubro passado, que revelou que 7 em cada 10 pessoas mudaram os padrões de consumo por causa da pandemia.

Comportamento do consumidor durante a pandemia

Segundo o economista responsável pelo estudo, Guilherme Dietze, “o isolamento fez com que os brasileiros demandassem mais artigos domésticos e produtos ligados à saúde e ao bem-estar, itens que permitissem se manter durante a quarentena, além de passarem a comprar mais pela internet”.

Mais da metade da população (54%) teve que cortar gastos em função do desemprego e da diminuição na renda e o que mais chama atenção é que aproximadamente 22% economizaram em bens essenciais como alimentos e remédios.

Comportamento do consumidor pós-pandemia

O cenário pareceu desanimador, mas é possível aproveitar oportunidades para fazer parcerias e movimentar o mercado local. “Se você tem uma loja de congelados por que não faz parceria com um restaurante vizinho? Se tiver uma padaria, que tal oferecer lanches dos bares do entorno? ”, sugere Dietze. Além de uma mão lavar a outra, essa é uma forma de diversificar os negócios.

André Melo, dono de um pequeno mercado na zona oeste de São Paulo, afirma que para atender os desejos desse novo perfil de consumidor é importante ter várias opções de produtos. “Nesse momento é muito arriscado apostar numa coisa só. Ter variedade de produtos, de preços e facilidade de pagamento são fundamentais para se manter ativo. No comércio, de uma maneira geral, a gente não pode se limitar”, afirma. O atendimento é outro ponto que deve ser levado em consideração. “O ato da compra é um ato social, por isso, é muito importante o bom atendimento. Nesse sentido, o comércio de bairro leva vantagem por ter uma relação muito mais próxima com os consumidores”, afirma o economista Marcel Solimeo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Empresários da área de restaurante e de bares tiveram queda de até 80% do faturamento. Daí a necessidade de se reinventar para garantir a permanência pós-pandemia. Para adaptar-se à crise, muitos estabelecimentos adotaram o delivery, reserva de mesas ou diminuição dos itens dos cardápios. “Tem que ter perseverança. Essa é a palavra-chave nesse momento. Oferecer um produto diferenciado para cair no gosto do cliente e com matéria-prima de boa qualidade para fidelizá-lo”, aconselha a doceira Renata Soares.

A pesquisa da Fecomércio também mostra que o e-commerce cresceu vertiginosamente nesses 12 meses de pandemia. Cerca de 46% dos entrevistados passaram a usar mais a internet na hora das compras, o que aconteceu em todas as classes sociais. No entanto, engana-se quem pensa que a web vai substituir as lojas físicas. “A tendência é que o e-commerce conviva com as lojas físicas no pós-pandemia. Ao longo prazo, os jovens consumidores de hoje vão acelerar essa forma de compra nas próximas décadas. Mas, por enquanto, os consumidores mais velhos preferem a loja física, principalmente, nos setores de roupas e calçados”.

O trabalho em home office é um dos hábitos que veio para ficar. Depois de ser adotado em larga escala pelas empresas, o trabalho remoto acabou se tornando menos dispendioso e muito mais atrativo para as organizações e os trabalhadores. A expectativa da Fecomércio é que isso também gere uma movimentação maior no comércio local. “As pessoas viram que sai mais barato cozinhar em casa. Por isso, elas estão comprando mais em mercadinhos, feiras e mercearias próximas ao lar”.

Sai na frente quem entende as preferências do consumidor. A gerente de uma boutique de roupas, Cássia Santos, diz que apesar da queda nas vendas, a relação com os clientes é um diferencial que garante a continuidade das atividades. “Para você resistir, precisa saber quem é seu público-alvo. Aqui em no bairro, por exemplo, nós atendemos muito idosos. Então, a gente resolveu levar para casa das clientes as roupas que estavam no estoque”.

Os hábitos do consumidor foram forçosamente mudados nesse “novo normal”, tornando-o muito mais criterioso e racional. “Com a renda mais contida é natural que as pessoas sejam mais cautelosas, por isso, elas selecionam mais e tendem a levar somente o que cabe no bolso”, afirma o economista da ACSP. Por isso, quem compra vai estar mais atento à relação de custo x benefício, colocando no carrinho somente o que for essencial e as marcas que confia.

Como 2021 é um ano de transição, a retomada das atividades vai exigir muitos cuidados e obediência às regras de segurança. Os comerciantes terão o desafio de obedecer às normas de convivência, reduzir os gastos, ao mesmo tempo, que precisam cativar novos clientes e fortalecer a conexão com os fregueses. “São os desafios que o cenário econômico nos impõe, mas o que não dá é para ficar parado, reclamando da crise”, conclui a Fecomércio.

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