Desde que a produção do automóvel ganhou escala pelas mãos de Henry Ford, em 1914, muita coisa mudou. O conceito de mobilidade ganhou capítulos importantes ao longo das décadas, mas talvez estejamos passando pela maior transformação já vista. Durante o evento da NAFA, maior associação de gestores de frotas do mundo, realizado nos Estados Unidos, a discussão sobre a revolução da mobilidade foi o ponto alto do primeiro dia.

Especialistas em gestão de frota do mundo todo, incluindo profissionais da Alelo e do Instituto Parar, estão presentes no evento acompanhando as tendências do setor. Em sua palestra no evento, o americano Lukas Neckermann, autor de dois livros e expert em mobilidade alternativa, destacou o papel das cidades no processo de mudança. Atualmente, 70% das pessoas do mundo vivem em cidades, que por sua vez são responsáveis por 80% da geração de riquezas do mundo. Ou seja, o que acontece nas cidades irá moldar o mundo nos próximos anos e elas estão buscando soluções cada vez mais radicais para a questão dos carros. Segundo Neckerman, “as cidades estão se pedestralizando”.

Esse fenômeno de revisão do papel dos veículos pode ser facilmente exemplificado. Para se ter uma ideia, atualmente existem cerca de 200 tipos diferentes de restrições para carros em cidades da Europa. Em Paris, por exemplo, o uso de veículos à diesel fabricados antes de 2000 foi banido. Barcelona está atuando para eliminar um terço das vias disponíveis para carros nos próximos anos, mesmo exemplo seguido por cidades como Madrid e Helsinki, na Finlândia. Até mesmo, Nova York, um ícone com seus táxis amarelos e tráfego intenso, já entrou na onda e está eliminando vias completas para carros ou diminuindo o espaço disponível para que pedestres e ciclistas tenham mais facilidade para se locomover.

No lugar dos carros tradicionais, entram os veículos com combustíveis alternativos, elétricos e até mesmo autônomos, além de novos conceitos, como o compartilhamento de veículos. Tanto é que as próprias montadoras de automóveis já trabalham com essa nova realidade. Vender carros não será o bastante para manter o negócio centenário lucrativo. E o que antes era visto de forma negativa, agora brilha aos olhos dessas empresas. Segundo a consultoria Roland Berger, em 2030, 40% do lucro do setor automotivo será gerado por produtos que são incipientes hoje, como os autônomos, elétricos, e serviços como os de compartilhamento. Estimativas indicam que o faturamento do setor de serviços de transportes chegará a 5 trilhões de dólares em 2030, quase o dobro das receitas do mercado automotivo hoje.

A ideia é compreender que o papel das empresas que prestam serviços de transporte está em constante evolução e é movido pela demanda dos clientes — e evolução da sociedade. Prova dessa flexibilidade e participação ativa nessa mudança, a Alelo lançou esse ano a primeira Plataforma Digital de Gestão de Carro Compartilhado para empresas no Brasil. A iniciativa, em piloto com funcionários da empresa, deve reduzir os custos com deslocamento em até 30%. A ideia é que a Alelo desenvolva, futuramente, soluções neste segmento para as empresas-clientes da companhia, que hoje são mais de 100 mil em todo o Brasil.

“Com o carro compartilhado estamos pensando no futuro, nas tendências de mercado e em soluções com foco em frotas comerciais e operacionais, além, é claro, de trazer um modelo de inovador de negócio que já é sucesso em outros países”, avalia Roberto Niemeyer, diretor de Gestão e Despesas Corporativas da Alelo.

Rumo ao futuro

Ao que parece, aqueles carros do futuro, que víamos em desenhos e filmes, já estão cada vez mais perto de se tornar realidade e trarão com eles outros tipos de opção de uso, não somente baseados no conceito de posse. Porém, essa transição entre o que podemos — e almejamos — alcançar e o que de fato já é real exige atenção. Há questões como infraestrutura, investimento e legislação que ainda estão sendo desenhadas para atender o novo ideal de mobilidade. Em níveis internacionais, o processo está mais estruturado. Fatores relacionados à mobilidade já estão entre os assuntos mais importantes das eleições municipais em Londres, por exemplo. Da mesma forma, a qualidade do ar respirado em cidades da China também tem influenciado a escolha de novas políticas públicas.

Mas não podemos deixar de citar os avanços no Brasil. Ainda que as ciclofaixas em São Paulo causem polêmica e o uso de veículos elétricos tenha pouca adesão devido aos valores altos e restrição de legislação, já há programas mais estruturados de compartilhamento de veículos, como a Zazcar, por exemplo.

Para Neckerman, independente do país e do tempo que isso leve para acontecer, a mobilidade do futuro será pautada pela teoria dos três zeros (zero acidentes, zero emissões e zero posse). Confira a seguir:

Zero acidentes: Neckermann acredita que a chegada dos veículos autônomos em um futuro próximo irá reduzir drasticamente o número de acidentes de trânsito. Ele justifica a suposição usando um paralelo com a indústria da aviação: em um voo de nove horas o piloto atua em média durante apenas sete minutos, ainda assim ele é responsável por 60% dos acidentes em um dos modais mais seguros do mundo. Segundo o palestrante, o problema dos acidentes de trânsito não vem da falta de atenção dos nossos motoristas. “Nós não temos um problema de distração durante o volante. É a condução do veículo que nos distrai de outras atividades que gostaríamos de estar realizando”, afirma.

Zero emissões: O palestrante defende que está ficando cada vez mais caro para as montadoras criar tecnologias que aumentem a eficiência dos motores à combustão. Em contrapartida, a tecnologia para os carros elétricos está se popularizando e tem se tornado mais acessível. Em sua avaliação, é uma questão de tempo até que os motores elétricos (menos poluentes) substituam os seus colegas movidos à combustão. Um dos exemplos citados pelo autor é a montadora americana Tesla, que caiu nas graças dos consumidores politicamente corretos ao comercializar carros com emissão menor e motores elétricos. É importante ressaltar que esse será um processo mais rápido, pois já há tecnologia disponível para subsidiar essa mudança de fonte energética. Estamos falando de sistemas que recarregam veículos em menos de um minuto. Segundo Neckermann, todas as montadoras estão buscando opções para eletrificar seus modelos nos próximos sete anos.

Zero posse: Neckermann afirma que as montadoras de veículos estão buscando se tornar provedoras de mobilidade. Em sua avaliação, o interesse pela posse do carro é substituído, cada dia mais, pelo interesse em ter o acesso de um carro por um valor mais baixo. Ele afirma que praticamente toda montadora já possui um projeto de mobilidade próprio ou em parceria com outras empresas. Se antes o mercado estava bem segmentado entre empresas que vendiam carros, locavam carros e ofereciam soluções multimodais, hoje isso tudo está misturado. Montadoras estão se aproximando da locação, empresas aéreas estão se preocupando com a mobilidade em solo, locadoras estão se interessando por projetos de bicicletas e assim por diante. Além disso, essa mudança é reforçada por ganhos econômicos, uma vez que o custo por quilômetro rodado em um carro compartilhado chega a ser 68% menor do que nas alternativas convencionais.

Ao que tudo indica, as mudanças na mobilidade impactarão diretamente na forma de gerir as frotas e prestar serviços nesse segmento. Flexibilidade e atenção às necessidades dos clientes ganharão ainda mais destaque em um mundo cada vez mais integrado e em busca de custos menores.

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