A cada 28 dias, a mulher passa pelo ciclo da menstruação que acarreta não apenas em sintomas físicos, mas também psicológicos. Pensando no bem-estar das colaboradoras, as empresas já estão adotando a chamada Folga da Lua, licença menstrual garantida por lei.
O Japão foi pioneiro na iniciativa. A legislação do país prevê a licença menstruação como direito das trabalhadoras desde 1947, sendo que o debate se iniciou 20 anos antes por meio de uma demanda das funcionárias da companhia de ônibus municipal de Tóquio. Segundo as normas trabalhistas, as mulheres têm direito à “licença fisiológica”, chamada de seirikyuuka.
O benefício se expande por outros países asiáticos, que concedem de dois a três dias de licença, chegando à Taiwan, Coreia do Sul e à China, mais especificamente nas províncias de Shanxi, Anhui e Hubei, onde é necessário certificação médica para obtê-la.
Apesar de existir na Inglaterra, a folga remunerada trouxe outras ações empáticas com a parcela feminina que sofre desconfortos durante o período menstrual. Pensando em criar um ambiente de trabalho mais acolhedor, a marca de absorventes veganos Natracare passou a oferecer itens como bolsas de água quente e alimentos que combatem as cólicas dentro da empresa.
A Zâmbia foi o primeiro país africano a implementar a lei, em 2015. Já a Itália tentou, mas não conseguiu emplacar a medida. E há quem não se prenda à legislação para tomar partido. A gigante Nike optou por implementar a medida por conta própria, adicionando a folga no código de conduta no trabalho global a partir de 2007.
Enquanto isso no Brasil foi um homem que encaminhou uma proposta semelhante à Câmara dos Deputados. O projeto de lei do deputado federal e ex-governador do Mato Grosso Carlos Bezerra (MDB-MT) defende o afastamento do trabalho por até três dias de período menstrual da colaboradora. O documento reforça que a compensação das horas não trabalhadas poderá ser exigida.

Uma lei, muitos obstáculos

O assunto, ainda considerado tabu, divide opiniões, visto que ter o direito garantido não significa deixar os contestamentos de lado. Discriminação, sexismo e desigualdade de gênero se destacam entre os desafios da licença menstrual.
Entre os problemas relatados pelas chinesas na província de Guangdong em relação ao descanso estão “não querer expor a vida privada”, “desagradar a equipe” e nem “atrasar as atividades no trabalho”.
Parte das japonesas que não usufruem da lei também afirmaram temer preconceito no mercado de trabalho. Nas Filipinas, surge uma polêmica a mais: as profissionais que tiram o período de folga acabam recebendo apenas metade do salário.
Outra questão dos críticos se esbarra na equidade, visto que a licença menstrual acabou virando argumento e tensão entre colegas de posições e salários iguais dentro da empresa. Os custos das folgas também são apontados como resistência por parte dos patrões.
Na Rússia, a proposta não foi pra frente em meados de 2013 visto que grupos feministas discordavam do documento que alegava “desconforto emocional” e “diminuição de competência” como justificativa para implementação da medida. Existia a conotação de que as mulheres estavam se “aproveitando da situação”, embora seja um fator biológico.

Saúde da mulher em pauta

Entre prós e contras, os argumentos a favor se respaldam na própria saúde da mulher que, segundo estudos, já possui acúmulo de tarefas no dia a dia, chamado de “trabalho invisível”. Um estudo da Universidade Nacional da Austrália aponta que o limite saudável seria trabalhar 34 horas por semana, em razão da carga extra enfrentada em casa.
Já a OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) calcula que o tempo de dedicação às tarefas do lar é 4,5 horas para as mulheres, enquanto os homens cumprem metade do tempo.
O Dr. Huong Ding, líder da pesquisa australiana, afirmou que qualquer pessoa trabalhando demais terá a qualidade de vida afetada: “dada a extraordinária carga de demandas colocada sob os ombros das mulheres, é impossível que elas continuem mantendo uma rotina assim sem comprometer sua saúde.”
Condições crônicas de saúde que dificultam a vida de qualquer pessoa precisam entrar em debate de forma constante. Com a menstruação não deveria ser diferente, pois o descanso se faz realmente necessário para uma parcela considerável da população mundial.
O período menstrual, assim como o fluxo sanguíneo e seus sintomas, tem inúmeras variáveis. A oscilação hormonal pode trazer transtornos físicos e psicológicos. Em estudos foi constatado que 90% das de mulheres sofrem com cólicas menstruais, sendo que 14% delas colocaram a dor como incapacitante na realização de tarefas.
Cólicas intensas podem indicar endometriose, inflamação no útero que se agrava com a menstruação. Estima-se que mais de 10 milhões de pessoas sejam portadoras da doença ao redor do mundo.
Além do incômodo uterino, cansaço e queda de energia afetam, consequentemente, os níveis de rendimento. Dados da pesquisa Dismenorreia & Absenteísmo no Brasil apontam que 70% do público feminino têm queda da produtividade do trabalho durante a menstruação. Entre os principais sintomas apresentados pelas entrevistas estão:

  • cansaço maior que o habitual (59,8%)
  • inchaço nas pernas e enjoo (51%)
  • cefaleia (46,1%)
  • diarreia (25,5%)
  • dores em outras regiões (16,7%)
  • vômito (14,7%)

Em outra pesquisa realizada com mais de 3 mil australianas e imigrantes aponta que 58% delas acredita que um dia de folga poderia elevar a produtividade durante todo o mês.
Um dos pontos positivos da folga da lua, para além dos descansos, tem relação direta com a eficácia no trabalho. O ginecologista inglês Gedis Grudzinskas é um dos médicos defensores da ideia, liderando uma campanha que pede a implementação global da lei. Ao jornal Daily Mail ele disse que “as mulheres não devem se envergonhar da licença. Se os homens sentissem metade da dor que algumas meninas sentem no período menstrual, também gostariam de ter um dia de folga”.
Em se tratando de organismo e condições psicológicas individuais, realmente fica difícil pautar o tema com unanimidade. Porém, talvez seja o caso de olhar com mais carinho para a pluralidade e conceder o direito da folga em si, tanto para homens quanto para mulheres, dando-lhes poder de escolha sobre como irão utilizá-la. Esse posicionamento é defendido por grupos feministas.
Entre as mudanças sociais recentes, pesquisadores também apontam a flexibilização ou redução de carga horária de trabalho para que os homens atuem mais na vida doméstica e familiar, trazendo equilíbrio em relação às demandas das mulheres.

Outros benefícios

Indo além da folga da lua, existe um debate sobre outros benefícios que poderiam tornar a vida da mulher mais leve. O site InHerSight listou algumas medidas que podem atrair e reter talentos femininos, colocando no topo das prioridades a satisfação salarial e os horários flexíveis, garantindo mais autonomia.
A fundadora da plataforma, Ursula Mead, fez um apontamento certeiro em entr00evista à CNN: “elas não estão procurando as empresas que tenham necessariamente uma creche no local, mas querem ser pagas o suficiente para que possam tomar uma boa decisão sobre. A flexibilidade e a compensação  — isso dá às mulheres as ferramentas necessárias para moldar suas próprias rotinas, seu trabalho e o equilíbrio de vida como acharem melhor”.
Numa pesquisa do Center for Creative Leadership foi constatado que empresas com maior porcentagem feminina no quadro de funcionários possuíam características bem positivas. As pessoas afirmaram ter mais satisfação no trabalho; mais dedicação organizacional; trabalho mais significativo; e menos desgaste.
Na mesma amostragem as mulheres disseram o que gostariam de ter na empresa. Um trabalho significativo, que lhes oferece a oportunidade de fazer a diferença, se relaciona com seus valores, propósito e equilíbrio entre vida profissional e pessoal são itens relevantes. Elas também almejam flexibilidade em onde, quando e como trabalham.
A vantagem classificada como mais importante é a folga remunerada, seguida de plano de saúde, desenvolvimento de liderança remunerado, agendas flexíveis e oportunidades de crescimento na organização.
Depois de tantos argumentos, vai ficar cada vez mais difícil as empresas não se reinventarem a afim de manter uma boa equipe com alto desempenho. Quanto melhores as condições, melhores os resultados.

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