Os últimos meses fizeram o mundo inteiro rever o conceito de normalidade. Os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus podem ser sentidos em todas as áreas e o mercado de trabalho também terá de lidar com uma nova configuração. Afinal, como se preparar para as mudanças?
O conceito de trabalho já dava sinais de mudança veloz nos últimos anos, por conta do uso cada vez mais assíduo da tecnologia em todas as frentes. Comitês de inovação digital e estruturas para buscar aplicações para a tecnologia como forma de melhorar a produtividade estavam em pauta em quase todas as companhias, não importa o porte.
Este ainda deve ser o pano de fundo do mercado de trabalho. Mas talvez agora a motivação vá além do aumento de produtividade e do bom resultado na última linha do balanço e leve em conta a disponibilidade de tempo para viver além do trabalho.
“Acredito que a forma de lidar com o trabalho será repensada. As pessoas tendem a apostar mais nas relações e o propósito deve ser evidenciado. Isso pode alavancar ainda mais o uso da tecnologia, mas também como agente poupador de tempo para que haja mais espaço para atividades estratégicas e prazerosas”, diz a psicóloga Joana Ventura.
Segundo ela, “as pessoas ficaram em casa em situações adversas e o trabalho passou a não ser mais a única, ou até mesmo a principal, preocupação do dia. Fomos obrigados a lidar com nossas relações íntimas sem tempos para pausas”, diz. Cuidar dos filhos, da casa, estreitar o convívio com a família, ainda que de forma virtual, passou a estar na lista de afazeres ao lado das metas e planejamentos. “Não tem como ficar tudo igual”, diz Joana.

Profissionais mais autônomos e empoderados

O fato é que de repente tudo mudou, drasticamente, e precisou ser redefinido de uma vez. Para Gustavo Costa sócio fundador do Unique Group, consultoria de recrutamento de líderes, as mudanças causadas pela pandemia do Covid-19 remoldarão nossa maneira de trabalhar.
“Acredito que esta crise deixou os profissionais mais autônomos. Afinal, em meio ao caos eles tiveram de buscar autodesenvolvimento, consumir cursos e acessar informações de forma avassaladora. Isso deixará as organizações mais ágeis, pois todos aprenderam na marra a tomar decisões remotas e confiar em seus profissionais sem uma presença ou controle físico. E quem não aprendeu nada com isso está em uma situação complicada”, diz.
O trabalho remoto também é outro ponto que deve ser observado. Para Carlos Perron, especialista em RH do IAG – Escola de Negócios da PUC-Rio, a necessidade do isolamento social forçou a adoção de trabalho remoto, mas as empresas ainda estão em uma fase inicial e não se pode esquecer dos desafios do formato. “Temos que pensar nas questões legais, como possível necessidade de alteração em contratos de trabalho, adequação à cultura de cada organização, e tipos de função que podem ou não ter ganhos com esta modalidade”, diz o especialista.
Para ele, uma das principais oportunidades pós pandemia é que essa experiência traga reflexões para líderes e equipes sobre a forma de se comunicarem, trabalhar em equipe e ajustar processos.
Mas antes de pensar no futuro, Carlos defende que há alguns temas que devem ser tratados o quanto antes pelo RH. “As empresas precisam estar atentas à viabilidade financeira dos custos envolvendo gestão de pessoas, influenciadas por medidas como a MP936, que prevê a suspensão temporária de contratos de trabalho e por consequência, as adequações e formalizações que devem ser feitas”, diz Carlos.

As novas competências pós-pandemia

O especialista em gestão de pessoas Walter Longo, membro de vários conselhos de empresas como SulAmérica, Portobello, Cacau Show e MGB, acredita que os profissionais com uma visão intraempreendedora terão destaque na nova realidade do mercado de trabalho.
“Estamos falando de um perfil de funcionário que questiona, que se aprimora, que não se conforma. Hoje essas pessoas são cerca de 10% de uma empresa e são elas que terão destaque na nova configuração do mercado”, avalia.
Para ele, as hierarquias perdem um pouco do sentido na nova fase pós-pandemia. Afinal, todos fomos obrigados a nos reinventar. “Isso não quer dizer que o líder deve ser desrespeitado, mas há espaço para questionamento, empoderamento e autonomia. Tivemos que aprender a ser mais ágeis e ter iniciativa. Isso pode ajudar a salvar empresas”, afirma Walter.
Na lista de competências necessárias para a nova fase, Gustavo lista a capacidade de dividir tarefas. Perfis centralizadores devem perder a vez. “Os profissionais sêniores delegarão mais tarefas a equipes mais jovens, passando a confiar mais nelas e trocando maior conhecimento. As gerações vão ficar mais conectadas e mais próximas”, diz.
Gustavo ainda lista competências como agilidade, comunicação clara e objetiva, resiliência, gestão remota e confiança. “Isso sem falar na reputação das marcas e dos ambientes de negócio que estarão ainda mais em voga. Todos avaliarão como as empresas se comportaram nesse momento e os impactos que geraram em seus setores, e isso será de grande valia quando a nossa rotina entrar de vez no novo normal”, afirma o executivo.
Há mais uma tendência que o RH deve ficar atento: uma alta no fenômeno de passagens curtas por empresas. “As relações de trabalho irão ficar ainda mais breves, as pessoas terão a tendência de trabalhar mais por projetos e menos por função”, avalia Gustavo. Nessa toada, cabe ao RH pensar em formas de atrair talentos e em questões trabalhistas para contratar por projetos. A única certeza é que há muitas mudanças pela frente.

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