Existe um roteiro para contratação de funcionário?
Contratar um funcionário sem o perfil adequado para a empresa gera custo e ainda pode afetar a produtividade. O processo, entretanto, não é simples e deve ser feito com tranquilidade e cuidado, na visão de especialistas.
Para Renata Maiorino, diretora de desenvolvimento do escritório Mattos Filho Advogados, a contratação significa muito mais do que preencher vagas. “Trata-se de adquirir talentos e buscar por pessoas que vão fazer a diferença nas organizações, independentemente de qual seja o segmento.”
Especialistas elencam quais os erros mais comuns de empreendedores ao agregar novos colaboradores ao seu negócio. Confira abaixo.
1 – Avalie se a contratação é mesmo necessária
A primeira pergunta que o empregador deve se fazer: preciso mesmo contratar uma pessoa para esta vaga?
Roberto Falcão, coordenador de pós-graduação em marketing da Fundação Álvares Penteado (FECAP), lembra que é muito comum na época de fim de ano as empresas recorrerem à contratação de vendedores temporários. Segundo ele, este profissional é peça-chave de muitos empreendimentos, principalmente no varejo, por isso, é preciso atenção.
“O vendedor é a interface entre a empresa e o mercado, é crucial na formação da reputação da organização e tem grande impacto no nível de satisfação dos consumidores. Empresas que não preparam adequadamente sua mão de obra e negligenciam o potencial de um vendedor podem apresentar resultados inferiores a seu melhor desempenho”, explica Falcão.
2 – Tenha domínio sobre os processos que o funcionário fará
É comum que o contratante não conheça a rotina de processos que o futuro colaborador fará. Neste caso, é fundamental se inteirar sobre as competências e habilidades necessárias para esta função antes de iniciar o processo de contratação.
“Se você está distante da rotina que o funcionário realizará, não parta do pressuposto que você compreende o trabalho dele. Converse com supervisores ou outras pessoas na mesma posição para compreender quais são as reais habilidades e conhecimentos necessários”, sugere Augusto Galery, coordenador da pós-graduação em gestão estratégica de pessoas da FECAP.
3 – Explore, na entrevista, habilidades que não estão no currículo
Nem só a formação e experiência no mercado de trabalho formal são válidas no momento de selecionar novos colaboradores. Por isso, especialistas recomendam que os contratantes peçam que os candidatos contem histórias de vivências profissionais anteriores.
“Se o entrevistado afirma que conhece um determinado sistema de informática, acrescente perguntas como ‘de que forma você aprendeu a usar esse sistema?’ ou ‘você já teve que gerar relatórios nesse sistema?’’, diz Augusto Galery, da FECAP.
Renata Maiorino, do Mattos Filhos, reforça que é um erro o gestor se basear apenas na experiência formal do candidato estampada no currículo. “É necessário explorar o que a motiva, o que ele já fez de bom na vida, como aprendeu com os erros, saber da experiência de vida.”
Roberto Falcão, da FECAP, reitera que as competências técnicas são mais fáceis de serem ensinadas e treinadas, por isso contratar apenas por currículo é realmente uma falha dos empregadores. “Mais importante é a dimensão comportamental, as habilidades chamadas soft skills. Em uma entrevista, deve-se conseguir captar aspectos como, por exemplo, liderança, trabalho em equipe, inteligência emocional, empatia, perseverança, entre outros.”
4 – Não despreze as motivações
Outra dica de Augusto Galery, coordenador de pós-graduação da FECAP, é para que o contratante no momento da entrevista tente descobrir as motivações relacionadas à aprendizagem que a vaga poderá trazer.
“Um erro comum é achar que apenas o salário manterá o colaborador motivado. Isso não significa que o dinheiro não é motivador, mas não é o único. Funcionários que trabalham apenas pelo dinheiro não criam comprometimento com os resultados, nem engajamento com a empresa, mesmo quando são comissionados”, diz Galery. Ele sugere tentar descobrir se a pessoa tem interesse nas tarefas que assumirá e se as considera desafiadoras ou se poderá aprender com elas.
5 – Entenda se o funcionário em potencial se adéqua à cultura da empresa
Conhecer se o candidato possui hobbies, pratica esportes ou realiza trabalhos voluntários, por exemplo, pode ajudar gestores a descobrirem (ou não) habilidades valorizadas para a empresa.
Galery lembra de uma pesquisa da consultoria Robert Half que diz que uma em cada quatro demissões no Brasil acontecem por falta de adequação do funcionário à cultura da empresa.
“Questões relacionadas ao relacionamento com a equipe e o líder também estão entre as principais causas de demissão”, diz Galery. Assim, conhecer os valores do candidato torna-se importante para compreender se ele se adaptará à empresa. “Não é uma questão de descobrir valores certos ou errados, mas de checar aqueles que mais se adequam à sua cultura”, completa o coordenador da Fecap.
Contratação bem-sucedida, na visão da diretora Renata Maiorino, não é aquela que permite que a pessoa ingresse rapidamente na empresa. “É a que traz uma pessoa que vê na empresa sentido e propósito em sua carreira, mesmo que permaneça nela por pouco tempo.”