Nas últimas semanas a expectativa pelo resultado das eleições americanas movimentou os mercados ao redor do mundo. Agora, com o resultado definido, ainda que Donald Trump não reconheça sua derrota formalmente, os olhares se voltam para o que acontecerá com os Estados Unidos – e o mundo – sob o comando de Joe Biden.
Como uma das maiores potências e fio condutor da economia global, a cadeira de Biden está entre as mais importantes do mundo e deve ajudar a escrever a história ao menos nos próximos quatro anos. Mas afinal, como a nomeação do novo presidente americano pode impactar o dia a dia das empresas brasileiras?
Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest, avalia que o resultado da eleição traz um efeito geral positivo para o mundo, pois espera-se um governo mais ortodoxo e mais previsível. O maior impacto imediato está nas empresas que importam ou exportam produtos dos Estados Unidos.
A tendência é que Biden foque na recuperação americana e mantenha o mercado mais protegido, com as chamadas medidas protecionistas. Isso não quer dizer, necessariamente, que o Brasil corre riscos eminentes de perder um parceiro comercial.
Os Estados Unidos só perdem para China em relações comerciais com os brasileiros e na última década manteve o comércio bilateral estável. “Basicamente são US$ 60 bilhões na nossa balança comercial. Acredito que não deve haver nem muito aumento, nem muita queda no volume de importações e exportações entre os dois países no próximo ano”, avalia Barral.
O estrategista, que já ocupou o cargo de secretário de Comércio Exterior do Brasil, está atento à postura que o governo do Brasil vai adotar. “Se optar por uma postura de confronto contra o governo Biden, a deterioração pode até, no limite, levar a algumas sansões ao Brasil. Mas a aposta dos especialistas é de que o pragmatismo deve acontecer e as relações internacionais entre Brasil e EUA devem seguir de forma mais tranquila”, diz.
Marco Pozzebon Tacco, sócio-diretor da NDN Advogados Tacco prevê que com o governo Biden haja um afrouxamento da política monetária, elevando a taxa de juros americana, que serve como baliza para o mundo. Nessa toada, a taxa de juros brasileira também deve voltar a subir no próximo ano, o que impacta diretamente nos juros de financiamentos obtidos pelas empresas.
“As políticas de Biden vão ser muito mais voltadas para o reaquecimento dos Estados Unidos e mais para a parte social. Isso pode criar condições que não sejam tão boas para as empresas de fora dos Estados Unidos e refletir diretamente no Brasil”, diz.
A pandemia continua
Um outro ponto que merece atenção especial é a pandemia. O volume recorde de casos nos Estados Unidos pode afetar o consumo e inibir exportações. “Isso independe de quem ganhou a eleição. É uma questão global sem data para acabar”, diz Barral.
De acordo com um relatório divulgado pela Amcham Brasil, o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos até o mês de setembro registrou, em 2020, o pior resultado dos últimos 11 anos. Entre janeiro e setembro, os dois países transacionaram 33,4 bilhões de dólares, uma redução de 25,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
O ambiente pandêmico que encolheu as economias ajuda a explicar os números, mas também há um fator que envolve uma política protecionista do mandatário americano, que, por exemplo, restringiu a entrada de produtos da siderurgia brasileira para proteger a indústria nacional.
Por outro lado, a questão cambial também entra nessa conta. A previsão é de que, ao menos no curto prazo, os emergentes se beneficiem com um dólar mais fraco e as commodities apareçam em alta devido à percepção de menor risco de desglobalização.
Nessa hipótese, pode haver um maior incentivo às exportações brasileiras de produtos como grãos e proteínas e isso pode inflacionar ainda mais o preço dos alimentos no Brasil, contribuindo para um aumento da inflação nacional — o que muda a vida das empresas e dos cidadãos.
Meio ambiente em pauta
Um outro ponto que deve ganhar destaque nos próximos meses é a questão ambiental. Biden sinalizou que vai voltar para o Acordo de Paris, tratado que rege medidas de proteção ao meio ambiente. Essa pauta já está refletindo no Brasil. Desse modo, países que quiserem continuar fazendo negócios com os EUA devem adotar uma postura mais responsável e isso trará reflexo positivo em médio e longo prazo
Em evento recente, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho da Justiça Federal (CJF), ministro Humberto Martins, destacou o compromisso do Judiciário com o meio ambiente e propôs a discussão de novas formas de preservação da Amazônia Legal.
“É preciso deixar claro que não é só o poder público que tem a obrigação de cuidar do meio ambiente”, comentou Martins, lembrando que esse compromisso com a preservação se materializa também em pequenos gestos cotidianos, como economizar água ou energia em casa, e também em iniciativas do setor industrial e empresas em geral.
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