Segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), o fato de não estar doente não é sinônimo de estar saudável. A data 28 de maio marca o Dia Internacional de Ação para a Saúde da Mulher, conceito que vem se adaptando aos desafios contemporâneos, no qual o papel feminino vai muito além de ser mãe, esposa e dona de casa.
O tema precisa ser discutido para além das doenças porque existe todo um sistema, herança de um tempo de machismo, que contribui especificamente com a saúde da mulher. Neste caso, não entra em pauta apenas as diferenças físicas e biológicas com o corpo masculino, mas também questões acerca do bem-estar social e mental.
Historicamente, a mulher sempre desempenhou papéis ligados à casa e à família, ao mesmo tempo que estava se inserindo, mesmo que discretamente, no campo do trabalho. Sempre produtivas, ao longo do tempo foram se emancipando, conquistando autonomia, direitos e espaço em carreiras empresariais.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, apesar da participação mais ativa de mulheres no meio corporativo, elas ainda são minoria em cargos de gestão (37,8%), têm um rendimento financeiro menor em comparação ao dos homens (76,5%) e se dedicam aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos cerca de 73% de horas a mais do que o sexo oposto. A famosa dupla jornada e a dedicação a múltiplas tarefas ainda impede as mulheres de terem menos tempo para atividades de lazer e bem-estar.
Estes são apenas alguns exemplos de como as diferenças de gênero na vida em sociedade influenciam diretamente na saúde da mulher. Tais fatores têm um custo ao público feminino, que é mais propenso a desenvolver as doenças ocupacionais, conforme consta em estudo do Ministério da Previdência Social (MPS).
Lesões musculares e corporais, alterações hormonais, enxaqueca, gastrite, ansiedade, depressão, endometriose e mioma são alguns dos problemas enfrentados em decorrência das condições de trabalho. As adversidades não surgem por acaso ou por “fragilidade” de gênero, mas sim porque, como dito anteriormente, são parte de uma série de fatores que deixam a mulher em condições mais debilitantes.
Para contribuir com a saúde da mulher, as empresas podem ser protagonistas, compondo um conjunto de iniciativas conectadas entre si que promovam um ambiente de trabalho mais justo, agradável, satisfatório e, consequentemente, produtivo. A conscientização acaba sendo igualmente válida para os homens, que a partir do acesso à tais dados e informações, podem colaborar com as colegas e demais mulheres de seu convívio social.
Dentro desse plano de ações, também é necessário ter um posicionamento claro sobre a importância feminina no quadro de colaboradores, não admitindo que as mulheres sejam ameaçadas, assediadas, desrespeitadas, desvalorizadas e discriminadas no ambiente de trabalho.
O assédio sexual atinge cerca de 42% das mulheres, sendo 15% dos casos em ambiente de trabalho, conforme pesquisa divulgada pelo Datafolha. É importante manter as portas abertas para ouvi-las em relação às queixas, saber identificar quando há conflitos, garantir medidas de proteção e instruir a todos sobre quais serão as soluções tomadas pelo departamento jurídico e de recursos humanos mediante tais situações.
Com medidas simples é possível contribuir com a qualidade de vida das colaboradoras, afinal, saúde é fundamental para que desenvolvam plenamente suas carreiras.
Confira algumas dicas abaixo que podem ser colocadas em prática:
1 – Criação de ações de conscientização sobre doenças femininas: começando pelo mais simples, é importante que a empresa crie um planejamento de ações ao longo do ano que informem, tanto homens quanto mulheres, sobre as condições de saúde e as doenças que podem afetá-las. Medidas de prevenção em prol da saúde feminina devem ser incentivadas para evitar, por exemplo, câncer de mama, câncer de colo de útero, endometriose e fibromialgia, síndrome de dores crônicas por todo o corpo, que atinge apenas 1% do público masculino. Climatério e menopausa também podem estar entre os assuntos explorados pela empresa em comunicados, eventos, etc.
2 – Assegurar a assistência à saúde integral: não basta promover ações de conscientização se não oferecer apoio à saúde da mulher de forma prática. O convênio médico é um benefício voluntário das empresas, porém, uma pesquisa feita pela Catho revela que 74,6% dos brasileiros acreditam que este é o item mais importante para motivar o trabalho. Investir nos cuidados médicos dos colaboradores resulta também na contratação e fidelização de talentos, que se sentem atraídos e mais seguros pela oferta do plano.
3 – Colocar em prática o direito das mulheres: outro item essencial na empresa está relacionado aos direitos das mulheres, que contribuem para a saúde física, emocional e o bem-estar feminino. Entre eles estão a igualdade salarial entre as mesmas funções, a licença maternidade (mínimo de 120 dias), o descanso mínimo de 15 minutos para a realização de horas extras e o limite de carregamento de peso, que deve ser inferior à 20 kg para o trabalho contínuo, ou 25 kg caso seja ocasional.
4 – Ter e oferecer acompanhamento psicológico: o auxílio de um psicólogo contribui com a saúde da mulher para além do ambiente profissional. O acúmulo de responsabilidades, frustrações, cobranças, entre outros fatores, faz com que as mulheres tenham um esgotamento mental, que não tarda em mostrar sintomas no corpo também. Por vezes elas sofrem caladas. Reforçar os cuidados com a saúde mental e fazer com que se sintam acolhidas num espaço seguro e profissional para desabafarem pode dar uma baita ajuda no cotidiano feminino.
5 – Incentivar a contratação de mulheres e a sororidade: vivemos em tempos onde a rivalidade e a competitividade feminina estão, definitivamente, fora de moda. Além de não contribuírem para a evolução da sociedade, acabam prejudicando a saúde da mulher e o bem-estar coletivo. Mais do que necessária, a sororidade ( termo que designa a empatia e o companheirismo entre as mulheres), ajuda a manter o ambiente de trabalho mais equilibrado e bem-sucedido. Procure ter ao menos 50% da equipe formada por mulheres, aumentando os índices de pertencimento, e que sejam incentivadas a crescerem juntas, seja realizando projetos ou incentivando o trabalho umas das outras.