Palestra comandada pela estadunidense Karith Foster tratou sobre conceito que sugere um olhar diferente e mais efetivo para a inclusão
O segundo dia de CONARH 2024 contou com uma mensagem inovadora dentro da palestra “Inversity: diversity without division” (em português, “Inversity: diversidade sem divisão”), comandado pela estadunidense Karith Foster, palestrante formada em Diversidade e Inclusão por Yale e que participou por vídeo. O bate-papo teve abertura de Felipe Calbucci, CEO TotalPass, e apresentação musical da cantora Vanessa Jackson.
O conceito de “Inversity” sugere um olhar diferente para a inclusão, com a inserção da diversidade e da acessibilidade como ponto central da discussão. A proposta dessa definição partiu da própria Karith.
“É uma espécie de junção dessas duas palavras, com o objetivo de tirar o DIV de ‘diversidade’ que passa a mensagem de divisão e substituir por IN, de ‘inclusão’”, explicou a palestrante.
Karith define Inversity como a partir das primeiras letras das seguintes palavras: Comunicação, Aceitação. Respeito e Engajamento. Essas quatro palavras formam o acrônimo C.A.R.E., que em português significa “cuidado”.
O que é diversidade?
Para explicar o novo conceito de melhor forma, Karith emendou: “O que é diversidade? Resposta curta: todos nós somos diversos. Resposta longa: ser diverso pode falar sobre diferença de idade, gostos, nacionalidades, etnia, necessidades especiais, etc.”, disse.
Segundo ela, nos Estados Unidos pesquisam apontam que programas de diversidade não são efetivos e, em muitos casos, possuem o efeito contrário ao pretendido, gerando ainda mais conflitos, preconceitos e incômodos.
“Diversidade é uma palavra que não diz sobre inclusão. Na verdade ela começa com DIV, que comunica a divisão. Apenas nos Estados Unidos, anualmente cerca de 11,5 mil cadeiras de rodas são quebradas por empresas aéreas. Isso demonstra o quanto as empresas não estão preparadas para lidar com demandas específicas relacionadas à inclusão e ao atendimento especializado.
“Outro exemplo: sabia que carros autônomos têm mais probabilidade de atingir pessoas pretas que pessoas brancas? Os algoritmos desses carros, muitas vezes, não reconhecem pessoas pretas como um ‘obstáculo’ a ser desviado e que pode causar um acidente, custando a vida de quem foi atingido. Isso remonta ao viés social e às crenças de seus próprios criadores. Não significa que o problema existe de forma consciente, mas indica que não há o cuidado com a diversidade”, argumentou Karith
Ainda no campo dos exemplos em que a forma pouco efetiva de como a diversidade é entendida atualmente, ela relatou o caso de uma grande empresa que possui um aplicativo de monitoramento de saúde superavançado, mas que não inclui opções para monitoramento do ciclo menstrual da mulher.
“Isso porque os homens responsáveis pelo projeto não possuem essa demanda e não estão preocupados sobre metade de seus consumidores, que são mulheres, e nem consideram essa demanda como algo relacionado à saúde e bem-estar de pessoas com útero”, afirmou.
A inclusão é desafiadora
Trabalhar em prol da inclusão é desafiador e cada vez mais necessário, mas isso não significa que todos estão dispostos a fazer esse esforço e entender essa demanda. A palestrante afirmou acreditar que assim como as outras pessoas, os líderes têm a responsabilidade por ter um olhar mais positivo, e precisam fomentar a discussão sobre inclusão e diversidade.
“Para ser parte do esforço que luta pela inclusão, precisamos ter mais pensamento crítico, parar de pensar apenas na nossa realidade e expandir nossa visão para a realidade dos outros”, elucidou.
“Os CEOs não se sentem acuados com as mudanças, entendendo-as como oportunidades de aprender, impulsionar a energia e evoluir. Ao invés de se manterem inflexíveis, eles entendem que precisam mudar e aprender para continuar evoluindo e se tornando, cada dia melhores”, avaliou Karith.
“Inversity” é lidar com as pessoas
A palestrante explicou mais detalhadamente sobre o conceito de Inversity, que segundo as suas próprias palavras “também tem a ver com sentir, lidar com humanos, sentimentos e com a forma como nos sentimos e nos expressamos.
“A autoexpressão é uma necessidade humana e precisamos entender isso. Podemos nos expressar sendo criativos, empáticos, coloridos e criando conexões fortes com outras pessoas. Quando nos comprometemos a criar um espaço psicologicamente seguro, temos um espaço de coragem, onde podemos ser nós mesmos, sem cair no ostracismo ou criar situações incômodas, para nós e para os outros”, apontou.
Karith demonstrou cientificamente como o conceito é válido para lidar com as pessoas em ambientes empresariais, afirmando que existe um componente biológico para que as pessoas sintam determinadas emoções.
“Isso acontece na nossa amígdala cerebral, responsável pelo medo, pela clareza ou pela calma. Ela manda mensagens para o nosso córtex frontal e define como serão as ações que tomamos, como ter medo, fugir, brigar, se deprimir ou congelar. Quando estamos lidando com pessoas, não podemos ter medo, não é com esse sentimento que fomentaremos iniciativas mais inclusivas, porque ao fugir, não resolvemos o nosso problema ou questões que afetam negativamente outras pessoas”, explicou.
A explicação científica do conceito de Inversity passa, ainda, pelo coração, contou Karith. “E como fica o nosso coração com tudo isso? Nosso coração é como um segundo cérebro, ele possui 40 mil células muito parecidas com as cerebrais, por isso quando terminamos com nosso amado, sentimos dor no coração, quando estamos com medo, sentimos que ele para ou parece que vai explodir. Ele também faz parte das nossas tomadas de decisão”.
Empatia consciente e escuta ativa
Inversity também tem a ver com empatia consciente, de acordo com a palestrante, o que leva a pensar de onde o outro veio, o porquê de ele ser como é, como é estar no lugar dele, entre outros.
A escuta ativa também é uma técnica de comunicação que deve estar presente, pois ela indica ação, diferentemente da escuta passiva.
“Porque a escuta ativa significa estar realmente presente, de oferecer ao outro o seu tempo, sua atenção, olhar o outro nos olhos, repetir o que o outro disse para ter certeza de que você entendeu o que o outro disse, para fazer que o outro se sinta valorizado e merecedor do seu tempo e da inclusão dele no mundo”, apontou.
Responsabilidade pelas próprias ações
Responsabilizar-se pelas próprias ações também tem relação com Inversity. É preciso pensar sobre como se vai reagir sem tomar decisões ou falar coisas impulsivas, que podem causar problemas ou machucar os outros.
“Especialmente na internet e nas redes sociais. Não briguem online, não falem qualquer coisa, isso apenas fomenta ainda mais divisão”, sustentou.
Karith ressaltou, ainda, as pessoas cruéis e más que andam pelas empresas, atrapalhando o bom convívio de todos. “Todo comportamento ruim, esconde alguma dor. Não estou dizendo que você precisa ser terapeuta e aceitar tudo, mas se blindar e entender que muitas vezes, a falha que o outro aponta de forma cruel diz sobre ele, não sobre você”, disse.
“E ainda dentro da corporação precisamos ser corajosos, curiosos e conscientes, porque é normal querermos conviver com nossos iguais. É preciso expandir nossos horizontes, enxergar oportunidades em pessoas diversas e ver cada um como uma chance de evoluir e tornar a empresa mais abrangente, com pessoas diferentes e que enxergam diferentes horizontes, para ir além, ao invés de ter um time que só consegue olhar para o mesmo lugar, porque possui perfis, pontos de vista e ideais parecidos”.
A 50° edição do CONARH será realizada até o dia 29 de agosto, de forma presencial, no São Paulo Expo, em São Paulo (SP).
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