No painel “Não quero ser líder!”, participantes questionaram o chamado pacto da branquitude e a maior presença de homens nos lugares de comando das empresas 

A figura da liderança nas empresas sempre foi e continua sendo muito valorizada, mas existem muitas pessoas que preferem passar longe dos cargos de comando ou que, mesmo demonstrando competência, veem as funções de chefia fora de alcance.

Essa questão esteve em pauta no painel “Não quero ser líder!”, realizado no terceiro dia do CONARH 2024. Participaram do encontro a Executiva Global (Nike, Apple, Microsoft) e autora do best-seller “Power Skills”, Dafna Blaschkauer, e o CEO & CO Founder do 99jobs, Du Migliano.

Migliano começou sua participação explicando que diferentes gerações enxergam e moldam a questão da liderança de formas diferentes. Já Dafna afirmou que há diferenças do que se entende como líder em empresas estadunidenses e brasileiras.

“Nos Estados Unidos, por exemplo, podemos ver o fator social e cultural, onde a liderança é mais distante e assertiva. Aqui no Brasil, temos uma liderança mais colaborativa e paternalista, porque somos uma sociedade mais coletivista”, analisou Dafna.

“Eu vim de posições de vendas e empresas de tecnologia e esporte, locais muito orientados por lideranças masculinas. E o viés cultural e social possui muita influência nisso, porque pode se tornar algo quase automático enxergar apenas líderes homens nesses lugares”, apontou a executiva.

Pacto da branquitude

Segundo Migliano, há um entendimento geral de que homens brancos se formam para se tornarem líderes, mas que é necessário questionar os milhares de formandos que não são homens brancos se essas pessoas também querem ser líderes.

“Esse ponto ‘não quero ser líder’ é algo coletivo e diverso, ou estamos falando apenas dos homens brancos héteros? Porque o contexto da liderança está muito relacionado ao pacto da branquitude”, analisou o Founder do 99jobs.

Ele explicou que em programas de estágio há a inclusão, porque a diversidade já faz parte da cultura desses processos, mas que durante os processos para formação de líderes, a inclusão não aparece nesse contexto.

“O analista homem, a analista mulher e o analista preto e LBTQIAPN+ recebem as mesmas oportunidades e possibilidades para ascenderem à liderança? Ou há uma parcela mais beneficiada e vista que outra?”, questionou.

Migliano explicou que o chamado pacto da branquitude faz das corporações um ambiente menos inclusivo, com posicionamentos tóxicos e “até mesmo a cultura de fazer coisas ilegais ou por baixo do pano”.

“E sabendo desse pacto, muitas pessoas acabam não querendo ascender ao papel de líder, porque tem consciência de que esse pacto representa um pacote e uma espécie de cartilha para os líderes, que não são diversos, especialmente em grandes empresas e no Brasil”, acrescentou.

“E além disso, estamos oferecendo segurança psicológica e as condições ideais para que todas as pessoas e contextos da organização possam escolher querer ou não ser líder?”, apontou Migliano.

Impacto da liderança

Dafna explicou aos presentes que aprendeu ao longo da carreira que liderança tem mais a ver com impacto, e menos sobre análise e desempenho. “É mais sobre o impacto que cada líder está deixando na vida e na carreira de cada profissional, para eles se tornarem quem se tornaram”.

 Ela, ainda, citou uma fala da escritora, poetisa e ativista Maya Angelou, mulher preta e figura influente da cultura afro-americana: “As pessoas irão esquecer aquilo que você disse, o que você fez, mas nunca irão se esquecer de como você as fez sentir”, referiu.

Dafna afirmou que ser líder é algo representativo, e quanto mais alto a pessoa está, mais exposta acaba ficando. “E com tudo que representa ser líder, como estamos nos mexendo para mudar o que vemos que não é positivo, para deixar de legado para as próximas lideranças?”, refletiu.

“O oposto de sucesso é desistir, mas quando falamos sobre fracasso, não estamos dizendo sobre o ponto final, mas sobre mais um degrau da nossa jornada. Então, se você não conseguiu a cadeira de líder ou não passou naquele processo seletivo, o que o fracasso diz sobre você e sobre as oportunidades de aprendizado que você pode tirar da situação?”, continuou a ressaltar Dafna.

Para ela, o fracasso nos mostra onde precisamos melhorar e os erros pontuam o que precisamos mudar, e como líder e jogadora de tênis nas horas vagas, ela teve erros que a fizeram evoluir. “A situação teria sido diferente se a partir do erro ou do fracasso, eu tivesse desistido”, pontuou.

Segundo Dafna, é preciso entender que hoje existem gerações diferentes, com sonhos diferentes, vontades distintas e olhares múltiplos, e a partir disso é necessário questionar o desenvolvimento das possíveis novas lideranças.

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