Desde o dia 1º de janeiro de 2025, as apostas esportivas online, popularmente chamadas de Bets, estão regulamentadas no Brasil.

O Secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Dudena, disse que o Brasil inicia 2025 com apostas de quota fixa regulamentadas, sob controle estatal e com regras claras, fruto do esforço do Ministério da Fazenda e do Governo Federal. 

“O país está dando um passo fundamental para enfrentar os potenciais problemas associados ao setor. A conclusão da regulação e a finalização da primeira rodada de autorizações colocam as apostas de quota fixa ofertadas em âmbito nacional sob controle do Estado. Começamos 2025 com regras rígidas e claras, além de mecanismos para cobrar seu cumprimento e de operadores a serem responsabilizados. A imposição dessas regras e sua implementação são resultados de um empenho gigante de servidoras e servidores do Ministério da Fazenda”, disse.

Os impactos do mercado de apostas sobre o ambiente corporativo têm se tornado cada vez mais evidentes. A regulamentação trouxe novas regras para a operação das casas de apostas, mas ainda não resolveu um dos maiores desafios: os efeitos da ludopatia (vício em jogos de azar) entre os trabalhadores.

Empresas de diferentes setores começam a perceber como o vício em apostas afeta a produtividade, o clima organizacional e até mesmo a segurança financeira de seus colaboradores. A influência digital, o fácil acesso às plataformas e a falta de políticas claras dentro das empresas agravam o problema, tornando essencial que gestores e profissionais de RH adotem estratégias para lidar com essa questão.

Bora entender o impacto desse fenômeno no ambiente corporativo e apresentar formas de conscientizar e apoiar colaboradores que enfrentam dificuldades relacionadas ao jogo compulsivo?

Regulamentação das apostas esportivas em 2025: o que mudou?

A regulamentação das apostas de quota fixa entrou em vigor no Brasil no primeiro dia de janeiro de 2025. Desde então, apenas operadoras autorizadas pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) podem oferecer esse tipo de serviço no país. 

De acordo com o Ministério da Fazenda, o mercado regulado de apostas de quota fixa começou a operar com 66 empresas autorizadas pela Secretaria de Prêmios e Apostas, do Ministério da Fazenda. No total, foram pagos R$ 2,01 bilhões em outorgas ao Governo Federal. Clicando aqui, você confere a lista de empresas autorizadas pelo Ministério da Fazenda a ofertar apostas de quota fixa em âmbito nacional.

Para garantir a legalidade e o funcionamento adequado do setor, as empresas precisam pagar uma taxa de R$ 30 milhões para obter a licença e operar exclusivamente com domínios terminados em “.bet.br”.

Além da arrecadação bilionária prevista para os cofres públicos, a regulamentação tem como objetivo combater a atuação de plataformas ilegais. A Anatel já recebeu solicitações para bloquear sites que não seguem as novas regras, com o objetivo de proteger os consumidores e reduzir os riscos de fraudes no setor.

Porém, apesar das medidas adotadas pelo governo, o impacto social e econômico das bets vai muito além da regularização das empresas que operam no segmento. 

O aumento dos casos de ludopatia entre brasileiros tem preocupado especialistas, e muitas empresas já começam a sentir os reflexos desse problema dentro do ambiente de trabalho.

Perfil do apostador brasileiro

De acordo com o estudo “Análise técnica sobre o mercado de apostas online no Brasil

e o perfil dos apostadores”, feito pelo Banco Central do Brasil, de janeiro a agosto de 2024, quando o assunto é o perfil do apostador brasileiro, estima-se que cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de jogos de azar e apostas, realizando ao menos uma transferência via Pix para essas empresas durante o período analisado.

A maioria tem entre 20 e 30 anos e o valor médio mensal das transferências aumentou conforme a idade. Para os mais jovens, o valor gira em torno de R$ 100 por mês, enquanto para os mais velhos o valor ultrapassa R$ 3.000 por mês, de acordo com os dados de agosto de 2024.

Ainda em relação ao perfil dos apostadores, estima-se que, em agosto de 2024, 5 milhões de pessoas pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família (PBF) enviaram R$ 3 bilhões às empresas de aposta utilizando a plataforma Pix, sendo a mediana dos valores gastos por pessoa de R$ 100. 

Dessas pessoas apostadoras, 4 milhões (70%) são chefes de família (quem de fato recebe o benefício) e enviaram R$ 2 bilhões (67%) por Pix para as bets.

A influência digital e a normalização das apostas

As apostas esportivas deixaram de ser uma prática ocasional para se tornarem parte do cotidiano de vários brasileiros. A presença massiva de publicidade em redes sociais, a influência de personalidades digitais e a grande visibilidade nos esportes fazem com que o hábito de apostar pareça inofensivo, quando, na realidade, pode se transformar em um comportamento compulsivo.

O impacto dessa influência é notável. Segundo um estudo realizado pelo Instituto Locomotiva, 51% dos brasileiros que apostam relataram um aumento nos sintomas de ansiedade. Além disso, 42% dos apostadores usam essa atividade como uma forma de escapar dos desafios diários, reforçando a dependência emocional e financeira que pode se formar em torno do jogo.

Esse cenário de estresse e ansiedade pode levar a:

  • Diminuição da concentração e qualidade do trabalho;
  • Aumento de conflitos interpessoais no ambiente profissional;
  • Maior propensão a erros e acidentes.

Empresas que não adotam políticas preventivas podem enfrentar um aumento nas distrações, dificuldades no cumprimento de prazos e até mesmo falhas graves em processos operacionais.

Os impactos das bets dentro das empresas

O ambiente corporativo não está imune aos efeitos da ludopatia. A compulsão por apostas pode levar a problemas financeiros significativos, e um funcionário endividado tende a sofrer com altos níveis de estresse e ansiedade, comprometendo seu desempenho profissional.

“Ao notar que o profissional está apresentando mudanças em seu comportamento e performance, é importante haver uma conversa franca entre liderança e liderado ou com os pares, levando em conta a dificuldade em identificar o problema que esse funcionário está vivendo. Aliás, muitas vezes nem a própria pessoa adicta sabe que está passando por esse desafio”, explica a Especialista em Desenvolvimento Humano, Beatriz Nóbrega.

Entre os principais impactos observados nas empresas que lidam com colaboradores afetados pelo vício em apostas, destacam-se:

  • Queda na produtividade devido à falta de concentração e distrações frequentes com plataformas de apostas.
  • Aumento de faltas e afastamentos relacionados a problemas emocionais e financeiros.
  • Dificuldades na gestão do clima organizacional, com tensões entre equipes devido a empréstimos entre colegas e problemas financeiros pessoais.
  • Riscos éticos e legais, incluindo tentativas de fraude para cobrir perdas financeiras decorrentes das apostas.

O economista Ricardo Rodil já havia alertado sobre esses desafios, em uma entrevista para a Alelo, no final de 2024. Segundo ele, a ludopatia promove uma transferência de riqueza sem a criação de um produto ou serviço, o que afeta não apenas a economia de forma macro, mas também a conduta dos trabalhadores dentro das empresas.

“Quando olhamos o contexto macroeconômico, o vício em jogos promove transferências de riqueza sem a criação de um produto ou serviço. Com isso, a moeda em circulação acaba aumentando, mas não há um aumento correspondente nos bens e serviços disponíveis na sociedade”, explicou Rodil.

O que as empresas podem fazer para lidar com esse problema?

Diante desse cenário, gestores e profissionais de Recursos Humanos precisam desenvolver estratégias para identificar e lidar com o impacto das bets no ambiente corporativo. 

Algumas ações que podem ser implementadas incluem:

  • Criação de programas de conscientização, abordando os riscos das apostas e seus impactos financeiros e emocionais.
  • Estabelecimento de políticas claras, definindo regras sobre o uso de dispositivos móveis e acesso a plataformas de apostas durante o horário de trabalho.
  • Oferta de suporte psicológico e financeiro, incluindo acesso a aconselhamento profissional e iniciativas de educação financeira.
  • Treinamento de lideranças, capacitando gestores para identificar sinais de alerta e oferecer apoio adequado aos colaboradores em situação de risco.

Além disso, é essencial que as empresas promovam um ambiente de trabalho que valorize o bem-estar dos funcionários, oferecendo benefícios que ajudem a melhorar sua qualidade de vida. 

Programas como o vale-alimentação e refeição desempenham um papel fundamental na segurança financeira dos trabalhadores, garantindo que o orçamento seja direcionado para necessidades essenciais.

A importância da educação financeira no ambiente corporativo

Uma das formas mais eficazes de prevenir o endividamento dos colaboradores e o impacto das apostas no ambiente de trabalho é investir em programas de educação financeira. 

Segundo a pesquisadora Lina Nakata, da FIA, 12,2% dos trabalhadores brasileiros possuem dívidas fora de controle, e esse problema afeta diretamente sua percepção do ambiente de trabalho e da própria remuneração.

Funcionários endividados tendem a se sentir menos valorizados e menos comprometidos com a empresa, o que pode impactar a motivação e até mesmo levar a um aumento no turnover. 

Ao oferecer orientação sobre planejamento financeiro, organização de gastos e alternativas seguras de investimento, as empresas ajudam a reduzir a vulnerabilidade dos profissionais a práticas arriscadas, como as apostas.

Prevenção e apoio: o papel do RH

Os times de Recursos Humanos têm um papel essencial na identificação e no apoio aos funcionários que enfrentam dificuldades relacionadas às apostas. 

A especialista Beatriz Nóbrega destaca que o primeiro sinal de alerta geralmente está na mudança de comportamento do colaborador, que passa a se distrair com frequência, perder prazos e apresentar desmotivação.

Nesse contexto, é fundamental que as lideranças estejam preparadas para abordar o tema de forma empática e oferecer suporte adequado. Uma abordagem punitiva pode agravar o problema, enquanto uma postura de diálogo e acolhimento permite que o funcionário reconheça a dificuldade e busque ajuda.

Além disso, políticas internas que limitem o uso de dispositivos pessoais para atividades não relacionadas ao trabalho e que promovam um ambiente saudável e equilibrado são medidas importantes para mitigar os riscos da ludopatia dentro das empresas.

O futuro das bets e os desafios para as empresas

Mesmo com a regulamentação do setor de apostas no Brasil, os desafios para as empresas continuam. 

A influência digital e a facilidade de acesso às plataformas fazem com que o número de apostadores possa crescer, tornando essencial que as organizações adotem medidas preventivas e estratégias eficazes de gestão.

Empresas que investem no bem-estar de seus funcionários protegem seus negócios e fortalecem sua cultura organizacional, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.

Direitos e dicas para os apostadores

O Ministério da Fazenda separou algumas dicas para os apostadores. Vamos conferir?

 Jogo legal:

Fique atento: qualquer site de aposta que não tenha “.bet.br” é ilegal e você não terá garantias contra fraudes Em caso de dúvida, confira a lista dos autorizados | Link para lista de empresas autorizadas

 Jogo saudável:

Aposte apenas como diversão, sabendo que suas chances de perder são sempre maiores do que de ganhar.

Controle seus gastos: 

  1. O jogo não deve ser usado para melhorar as finanças pessoais.
  2. Estabeleça um limite para seus gastos.
  3. Não use em apostas dinheiro destinado a gastos essenciais, como: comida, aluguel e transporte.
  4. Não tente recuperar o dinheiro das apostas perdidas.

 Controle seu tempo

  • Monitore a frequência com que você joga.
  • Estabeleça um tempo máximo de apostas.
  • Dê a si mesmo um tempo fora do jogo (faça uma pausa, acompanhe quanto você está gastando, mantenha a mente limpa para não ficar sobrecarregado).

 Saiba seus direitos

Você tem o direito de suspender temporariamente a sua conta ou encerrá-la a qualquer momento e a resgatar os valores que estão na sua conta gráfica.

Também terá direito a resgatar o saldo da sua conta sem limite e sem ter de pagar nada por isso.

 Proteção de dados

Não empreste seus dados pessoais para outros abrirem contas de apostas e jamais ceda sua conta para outros apostarem.

Alerta

Caso você ou alguém que você conheça esteja enfrentando problemas relacionados a jogos e apostas, é fundamental procurar ajuda.

Quer mais conteúdos sobre desafios organizacionais e gestão de pessoas? Continue navegando na Alelo e descubra soluções para tornar sua empresa ainda mais eficiente e preparada para o futuro.

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