Os impactos da pandemia causada pela COVID-19 deixarão marcas em toda a sociedade, incluindo o mercado de trabalho. A forma de recrutar e contratar funcionários mudou e os processos online ganharam força.
Há muito tempo a internet é espaço essencial para pessoas em busca de trabalho e também para recrutadores procurando o candidato ideal. Com a pandemia, a web se tornou um canal ainda mais importante.
A busca por novos colaboradores e as etapas da seleção estão predominantemente virtuais. Em vez da entrevista física, agora as conversas são por videoconferência. Em vez de testes ou provas na empresa, os questionários agora são online. Não é mais difícil encontrar trabalhadores que foram contratados sem nunca terem encontrado cara a cara colegas e chefes.
O digital veio para ficar
A pandemia impulsionou a tendência digital para recrutamento e seleção e esse caminho parece não ter mais volta. Uma pesquisa realizada pela Weseek, startup da empresa brasileira de classificados de emprego Catho, revelou que cerca de metade de mil empresas entrevistadas (48%) pretendem manter os processos de seleção on-line pós-pandemia.
O levantamento apontou que o percentual de empresas que realizavam o recrutamento 100% digital quase dobrou durante os quatro primeiros meses de pandemia, passando de 23% para 42%.
Segundo a consultoria de recrutamento e seleção Robert Half, embora não seja um conceito novo, os especialistas de RH devem se habituar com a tecnologia e modificar processos para se adequar à nova realidade. Apenas profissões de áreas extremamente práticas, como a da saúde, não conseguem se adaptar totalmente ao ambiente virtual.
Algumas dicas práticas podem ajudar: os testes online devem ser aplicados de maneira mais estratégica que o habitual. Para ter um panorama completo sobre as soft skills (habilidades comportamentais) dos candidatos, é interessante utilizar mais de uma avaliação de perfil comportamental, combinando os testes adequados ao perfil da vaga.
Além disso, na hora de escolher a plataforma para aplicar as dinâmicas online, o empregador deve se certificar de que elas são acessíveis ao público e que as perguntas podem ser personalizadas de acordo com o cargo em questão.
O lado bom do recrutamento online
As medidas de recrutamento, seleção, integração e gestão de talentos no ambiente online trazem diversas vantagens para as empresas.
Entre as principais, destacam-se a comunicação mais ágil com ajuda da tecnologia e a ampliação do alcance social, uma vez que a tecnologia permite que a empresa se conecte a diversas plataformas, atingindo um maior número de candidatos mesmo à distância.
Além disso, a variedade de tarefas que podem ser automatizadas oferece ao recrutador a oportunidade de voltar suas atenções para outros aspectos estratégicos, como estudar o perfil dos colaboradores e fornecer uma política de benefícios mais adequada aos profissionais e ao cenário atual do mercado.
Os desafios do ambiente online
Em contrapartida, esse novo modo de encontrar e contratar candidatos também deve ser encarado com cautela.
Em entrevista ao podcast All Things Work From SHRM, veiculado nos Estados Unidos, Jim Bitterle, especialista em estratégia de talentos da companhia americana EDSI e autor do livro “Unquittable” (algo como impossível demitir, na tradução do inglês), afirmou que a principal mudança está mesmo na ausência de contato pessoal.
“Você consegue sentir menos como é um candidato quando a entrevista é online. Mesmo assim, eu acredito que as pessoas devem focar mais no conteúdo do que está sendo feito do que lamentar não ter aqueles minutos iniciais para sentir como é a pessoa, como ela se comporta, como ela se apresenta. Agora temos que ser mais objetivos”, diz.
O especialista destaca ainda a questão da integração, processo chamado de onboarding. “Muitos funcionários já começam trabalhando de forma remota e não conhecem as instalações físicas das empresas. Essa falta de contato precisa ser suprida com um processo de integração eficiente e prático de apresentação bem como muito estímulo ao senso de pertencimento. É um desafio diferente”, finaliza.