As transformações do mercado de mídia e como o maior conglomerado de comunicação do Brasil, o Grupo Globo, tem se adaptado a essas mudanças, foram os principais pilares da palestra de Paulo Marinho no primeiro dia do CONARH 2024.
Com o tema “Case Globo: A transformação do negócio através das pessoas”, Marinho, que é Diretor-Presidente da Globo desde 2022, falou para um público formado por profissionais de Recursos Humanos, que, pelo fato do setor de mídia ter sido um dos primeiros a passar por mudanças tecnológicas robustas nos últimos anos, foi preciso repensar toda a estrutura do grupo, que hoje em dia compete com outros grandes players de comunicação.
A conversa foi comandada pelo humorista Paulo Vieira e pela jornalista Aline Midlej, âncora da GloboNews.
Integração e estruturação
“Iniciamos um grande projeto de estruturação de uma só Globo e direcionamos nossos esforços na relação com o consumidor para a transformação digital” afirmou Marinho.
Segundo ele, uma necessidade que precisou ser sanada foi unir as várias empresas Globo (Rede Globo, Globoplay, Globosat, Globo.com e Som Livre) e, nesse processo, muita gente nova foi contratada, principalmente na área digital. “Também temos um trabalho de mudança cultural muito importante”, afirmou Marinho.
“O primeiro desafio de integração são as pessoas. Contamos com o apoio de uma consultoria que criou grupos multidisciplinares com as lideranças da Globo, onde redesenhamos todos os processos internos”, afirmou.
Ele revelou que o processo não foi nada fácil e que houve muitas brigas para conseguir implantar a integração.
“Não foi fácil. Saiu todo mundo machucado, arranhado, mas deu tudo certo. Mas é um processo que traz suas dores. Enfim, precisa do entendimento de todos para entender um novo modelo, mas tudo se ajeitou ao longo do tempo”, afirmou.
MediaTech e sucessão de lideranças
Termo que surgiu na era digital como uma fusão entre mídia e tecnologia, o conceito de MediaTech também foi bastante explorado pelo Grupo Globo durante esse momento de transformação.
“Usamos Inteligência Artificial para coleta de dados do nosso público e para criar publicidades direcionadas. Ressalto que respeitamos muito o talento humano, mas essas ferramentas ajudam a tornar os procedimentos mais ágeis” afirmou Paulo Marinho.
O presidente do Grupo Globo explicou ainda, que hoje em dia há um forte trabalho de sucessão dentro da empresa. “A gente também vem dando muita ênfase no desenvolvimento de pessoas e de lideranças para termos mais ferramentas em um cenário de muita transformação. Isso gera um engajamento maior da liderança, de pertencimento e de protagonismo”, explicou.
Retenção de talentos e diversidade
A implementação de uma estratégia de remuneração a longo prazo para reter talentos e a questão da diversidade também foram abordadas na palestra. “Acreditamos que a Globo fala com todos os brasileiros e temos que representar muitos ‘Brasis’ nas nossas telas” comentou.
Marinho destacou um trabalho chamado de “espelho da cultura”, onde foi levantado o que era positivo e negativo na corporação. Depois, foi criado um manifesto, sobre o que deveria ser continuado e o que não deveria, dentro da Globo.
Grupo Globo 100 anos
Em 2025, o Grupo Globo completará 100 anos, em que tudo começou com o Jornal O Globo, fundado por Irineu Marinho, bisavô de Paulo, que falou sobre a evolução.
“Em um ambiente com tantas transformações, é importante saber o que não muda também. Os nossos princípios e essência são imutáveis. A Globo tem como visão de ser um ambiente onde todo mundo pode se encontrar. Queremos continuar sendo esse ponto de encontro para os brasileiros. Também seguiremos com foco no Brasil, onde conhecemos a sociedade, as empresas e os consumidores” afirmou.
“O centenário vai ser um momento de celebração do passado e de fortalecer o olhar para o futuro. Queremos seguir aqui por mais 100 anos. Vamos seguir nos adaptando aos hábitos dos consumidores e ao mercado, mas preservando nossa essência e valores”, completou.
Perguntas do RH para Paulo Marinho
Ao final da palestra, representantes da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) fizeram perguntas para Paulo Marinho. Confira:
Que mensagem você passaria para os profissionais de RH?
“Eu acredito que ter coragem é uma qualidade muito importante para RH hoje, para superar vários desafios como mudanças e sucessão. É preciso coragem para desafiar as lideranças da empresa em prol da melhoria. A nossa visão é de uso de dados e tecnologia no RH, que possibilita desenvolver cada vez mais os times. Enxergo ainda o RH como guardião da cultura das empresas e isso se materializa na Globo”.
Qual o papel hoje do líder?
“Precisamos ter a capacidade de formar times com diferentes competências e de alto rendimento. Certamente essa característica irá ser desenvolvida nos colaboradores. É necessário que o líder tenha capacidade de se adaptar. O mundo dos negócios não comporta mais acomodação”.
Qual o segredo da longevidade para a Globo e outros negócios?
“É um pouco de tudo que já falamos hoje. Adaptação, estar inquieto com o futuro e entender os movimentos do mercado”.
O que é a “brasilidade” da Globo?
“Eu tenho viajado por várias afiliadas da Globo no Brasil e no exterior e tenho notado que a brasilidade é a grande força da Globo. O brasileiro produz conteúdo infinito de histórias e a brasilidade é a nossa forma de fazer as coisas. Estamos felizes em contribuir para que o Brasil seja um só e o RH é a tecnologia para gestão de pessoas. As pessoas são o nosso maior ativo e por isso é fundamental exaltar esses profissionais”.
Paulo Marinho
Paulo Marinho é o Diretor-Presidente da Globo desde de 2022. Ele é filho do jornalista José Roberto Marinho, neto do empresário Roberto Marinho, que foi proprietário do Grupo Globo de 1925 a 2003 e bisneto de Irineu Marinho, fundador do jornal O Globo.
Formado em Administração, Paulo Marinho já revelou em entrevistas que gostava de ter longas conversas com o avô (Roberto Marinho). Ele iniciou a carreira em 1998 no jornal o Globo, já foi coordenador de Conteúdo e Marketing no Sistema Globo de Rádio, Diretor do canais infantis Gloob e Gloobinho, Diretor de Canais e Conteúdo da então Globosat e também responsável pelos canais de TV aberta e por assinatura, além da rede de afiliadas da Globo.
Grupo Globo
A TV Globo foi fundada em 1965 por Roberto Marinho. A emissora é líder de audiência no Brasil desde 1969, possuindo mais de 120 emissoras próprias e afiliadas, além de transmissão no exterior. É assistida diariamente por cerca de 200 milhões de brasileiros e é a segunda maior rede de televisão comercial do mundo, atrás apenas da norte-americana American Broadcasting Company (ABC).
Em entrevista ao jornal Valor Econômico em março deste ano, Paulo Marinho revelou que a Globo encerrou o ano de 2023 com uma receita de R$ 15,16 bilhões, recuperando os índices pré-pandemia. Entre os grandes investimentos da emissora está a “TV 3.0”, que busca derrubar as barreiras entre a televisão tradicional e o universo digital.
A proposta é a convergência dos sinais de televisão e internet nos aparelhos de TV conectada, que já estão presentes em 60% dos lares brasileiros. Pelo controle remoto, o usuário poderá alternar entre programas da TV aberta e distribuídos via internet, como se estivesse em único ambiente.
Para isso, terá de fazer “login”, ou seja, se identificar na hora de se conectar, o que vai ampliar significativamente as oportunidades de negócio. Os testes devem começar em 2025, com a interatividade sendo uma das principais características desse novo padrão.
Uma dessas oportunidades é a publicidade dirigida, que já foi testada no Globoplay. Enquanto uma pessoa vê uma propaganda, o seu vizinho assiste outra. Ela obedece às preferências de cada tipo de consumidor.
Uma possibilidade também é o comércio eletrônico integrado. O telespectador poderá, por exemplo, comprar a roupa do protagonista da novela sem sair da tela em que assiste ao capítulo.