A atualização da Norma Regulamentadora Número 1 (NR-1), em vigor a partir de maio de 2025, representa, no Brasil, um marco na gestão de saúde e segurança no trabalho, especialmente ao tornar obrigatória a inclusão dos riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que faz parte da norma.
E tanto para o setor de Recursos Humanos (RH) quanto para líderes já atuantes, o desafio é duplo: adaptar processos internos e desenvolver novas competências entre os times e as lideranças, garantindo o alinhamento com as exigências da legislação e do mercado.
Principais mudanças da NR-1 e o papel do RH
Gestão de riscos psicossociais
A NR-1 agora exige que as empresas identifiquem, avaliem e controlem riscos como estresse, assédio, sobrecarga de trabalho e outros fatores que afetam a saúde mental dos colaboradores.
Esses riscos devem ser documentados e monitorados com o mesmo rigor dedicado aos riscos físicos e ambientais.
Participação ativa dos colaboradores
O RH deve estabelecer canais acessíveis e seguros para que colaboradores possam relatar algum risco.
Esses canais devem permitir a participação ativa na gestão do ambiente de trabalho, sempre em alinhamento com a CIPA e outras ferramentas de escuta ativa.
É essencial garantir que denúncias e feedbacks sejam tratados com imparcialidade, sem retaliações, reforçando o compromisso da empresa com um ambiente ético, acolhedor e transparente.
Capacitação e treinamento
Treinamentos específicos para líderes e equipes são mandatórios, com foco em identificar sinais de problemas psicossociais e agir preventivamente.
A norma permite que os eles ocorram nas modalidades presencial, semipresencial ou a distância (EaD), desde que mantenham qualidade e efetividade.
Documentação e monitoramento
Todos os registros de treinamentos, avaliações e planos de ação devem ser mantidos atualizados e disponíveis para fiscalização.
Auditorias internas e pesquisas de clima organizacional ajudam a acompanhar, de forma contínua, os impactos da NR-1 e das ações da empresa.
Como treinar líderes para a nova NR-1
A adequação das lideranças é estratégica para o sucesso da implementação das novas propostas da NR-1, mas desenvolver novas competências em líderes já atuantes pode ser um desafio.
Por isso, esse foi o tema central do 2.º episódio do Pod Papo, videocast exclusivo da Alelo que aborda temas relacionados a gestão, inovação, cultura organizacional e recursos humanos.
Nele, os convidados Cynthia Kitasato, superintendente de experiência do cliente na Alelo, e Anderson Bars, especialista em cultura organizacional e fundador da Escola do Caos, compartilharam cases e insights sobre o tema.
Quais são os principais desafios na hora de desenvolver líderes?
Cynthia Kitasato explica que comandar pessoas que já são líderes é muito diferente de gerenciar outros profissionais, porque muitas vezes as características principais da liderança são comando e controle.
Mas será que isso combina com a gestão de um time formado por outros líderes?
Para Cynthia, “a grande questão é conseguir dar autonomia e liberdade com responsabilidade para que cada líder possa atuar do seu jeito, imprimindo seu ritmo e suas características às novas competências exigidas pela empresa ou pelo mercado”.
Ela também reforça que muitas vezes o papel do líder é romantizado e inserido apenas no contexto de liderar pessoas, quando, na verdade, a liderança deve estar voltada ao negócio, em extrair o melhor dos colaboradores tendo em vista métricas e resultados esperados pela companhia.
Principais pontos na hora de desenvolver a liderança
A Escola do Caos elaborou o relatório “A Liderança do Futuro”, com o objetivo de entender melhor o perfil da liderança brasileira e identificar os principais pontos de desenvolvimento desses profissionais.
Anderson explica que, durante o processo, esperava-se que habilidades técnicas, como domínio de tecnologia e hard skills, fossem as mais citadas. No entanto, a pesquisa destacou outras competências: confiança, ambiente psicologicamente seguro, comunicação, alinhamento estratégico e a capacidade de inspirar o time.
“Muitas vezes achamos que o mercado caminha para novas competências, mas no final das contas, a gente volta para aquilo que é a base das relações humanas.”
E as novas propostas da NR-1 estão voltadas justamente para isso: proporcionar um ambiente psicologicamente seguro, onde o bem-estar e a saúde mental dos trabalhadores sejam prioridades.
A atualização da norma exige que as empresas identifiquem e gerenciem riscos psicossociais, promovendo práticas que favoreçam a confiança, a comunicação aberta e o suporte emocional nas equipes.
O objetivo é criar um ambiente de trabalho mais humano, acolhedor e saudável, alinhado à importância das relações humanas para garantir desempenho e segurança nas organizações.
Como preparar líderes já atuantes?

- Treinamentos regulares e práticos: investir em capacitações recorrentes sobre comunicação não violenta, empatia, escuta ativa e gestão de conflitos. Essas capacitações devem ir além do conteúdo técnico, abordando também habilidades comportamentais essenciais para lidar com as novas demandas de saúde mental e segurança.
- Mentoria e desenvolvimento contínuo: oferecer programas de mentoria e coaching para que líderes possam compartilhar experiências, refletir sobre práticas e aprimorar sua atuação diante dos desafios psicossociais.
- Experiências práticas e feedback: atividades que tiram os líderes da zona de conforto e promovam o aprendizado prático são mais eficazes do que treinamentos expositivos. Por isso, que tal estabelecer ciclos de feedback e avaliações participativas, RH, para ajustar comportamentos e estratégias?
- Alinhamento com a cultura organizacional: RH e lideranças devem atuar juntos para fortalecer uma cultura de prevenção, acolhimento e respeito. Assim, a saúde mental deixa de ser apenas uma exigência legal e passa a fazer parte da estratégia corporativa.
O desenvolvimento da liderança e sua adequação a novas normas deve ir além do espaço corporativo. Anderson Bars reforça que é fundamental haver protagonismo dos profissionais no próprio processo de aprendizado.
“Os treinamentos na empresa são indispensáveis, mas devem atuar mais como aceleradores do que como pilares únicos do desenvolvimento. Cada colaborador — seja líder ou liderado — deve buscar se aprimorar individualmente também, seja com cursos, treinamentos ou literatura.”
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Como o RH deve aplicar as novas normas?
O departamento de Recursos Humanos é protagonista na implementação da NR-1. Para garantir a conformidade e promover um ambiente saudável, podemos elencar alguns passos importantes, como:
- Revisão do PGR: o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) deve ser atualizado, incluindo os fatores psicossociais, com base em diagnósticos internos, entrevistas e pesquisas de clima.
- Capacitação de todos os níveis: desenvolver um cronograma de treinamentos contínuos para líderes, gestores intermediários e equipes, focando na prevenção e gestão dos riscos psicossociais.
- Monitoramento e auditorias: implementar mecanismos de monitoramento contínuo, como auditorias internas e pesquisas periódicas, para avaliar a eficácia das ações e identificar pontos de melhoria.
- Gestão documental: organizar e manter atualizada toda a documentação relacionada à segurança e saúde no trabalho, facilitando auditorias e garantindo transparência.
- Engajamento da alta liderança: garantir o envolvimento da alta gestão para definir metas, alocar recursos e reforçar a saúde mental como prioridade estratégica.
- Canais de comunicação seguros: disponibilizar canais confidenciais para denúncias e relatos de riscos, incentivando a participação dos colaboradores e o aprimoramento contínuo do ambiente de trabalho.
Aprimorar os processos é um passo necessário
A nova NR-1 exige uma transformação profunda na gestão de pessoas e riscos nas empresas. Por isso, o RH deve atuar de forma integrada com as lideranças, promovendo treinamentos, monitoramento constante e uma cultura organizacional que priorize o bem-estar físico e mental.
A adequação a essas novas exigências gera impactos que vão além da obrigação legal, e que representam uma oportunidade de fortalecer a cultura de segurança, engajamento e produtividade em todos os níveis da organização.
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