Uma pesquisa divulgada pelo IFB (Instituto Foodservice Brasil) e pela consultoria Mosaiclab mostra a nova realidade do setor de alimentação após a pandemia. A progressiva reabertura de estabelecimentos para consumo no local deve influenciar o comportamento do consumidor deste setor que movimenta R$ 215 bilhões por ano.
O levantamento contou com 72 mil entrevistas e abordou todas as classes sociais, faixas etárias e regiões do país para traçar o perfil atual dos consumidores. De forma geral, observou-se uma queda de 40% no consumo de alimentos fora de casa a partir de meados de março e um princípio de retomada no fim de maio, mas ainda abaixo do volume registrado em 2019.
Estes períodos coincidem com as fases da Covid-19 no Brasil e as medidas de isolamento social, responsáveis pelo fechamento do comércio não essencial.
A primeira conclusão mais concreta do levantamento é que o delivery deixou de fato de ser apenas um serviço a mais para se tornar um diferencial capaz de fazer o cliente optar pelo estabelecimento que tem maior alcance na modalidade. Outro modelo de consumo que cresce é o formato “carry out”, o famoso “para viagem”.
O estudo mostrou que em junho de 2019 apenas 20% dos consumidores compraram uma refeição para viagem. O delivery foi ainda menos representativo, com apenas 10%. Um ano depois, em plena pandemia, os formatos atingiram 80% quando somados, sendo que cada um representou metade desse bolo.
Com a disseminação do home office e mesmo a suspensão do contrato de trabalho, muitas pessoas passaram a cozinhar as próprias refeições. E mesmo assim o delivery cresceu, com destaque para estabelecimentos de fast food ou full service.
Já o serviço de carry out, ou para viagem em tradução livre, teve desempenho acima do esperado pelo mercado. O fato de precisar ficar pouco tempo dentro do estabelecimento e o consumidor ser o responsável por transportar a refeição são pontos que jogam a favor da modalidade.
Pedidos noturnos em alta
Apesar das mudanças de rotina e comportamento durante a pandemia, o consumo no período noturno e em família segue com maior relevância entre os entrevistados. Jantar e lanche noturno ocupam quase metade do mercado, com a outra metade dividida entre refeições matinais, almoço e lanche da tarde.
Reforçar a equipe no período noturno pode ser uma boa estratégia para os estabelecimentos neste momento. Na comparação entre março e abril deste ano, 43% dos entrevistados respondeu que fez refeições no período noturno e com três ou mais pessoas por meio do delivery, contra 33% do ano passado.
Outro dado interessante mostra que 37% dos respondentes fez a refeição com crianças ou adolescentes à mesa. Em 2019, o índice era de 27%.
Indicadores financeiros medem temperatura do setor
A Alelo, em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), também desenvolve dois índices que ajudam a mostrar o comportamento do consumidor: o ICS (Índice de Consumo em Supermercados) e o ICR (Índice de Consumo em Restaurantes).
O último levantamento, realizado em todo o território nacional, mostrou que o consumo em supermercados encerrou junho de 2020 com aumento de 5% no valor total gasto, na comparação anual, reforçando a tendência de consumir em casa por conta da pandemia.
Já o número de estabelecimentos que utilizam o benefício alimentação como meio de pagamento registraram queda de 17,8% no volume de transações realizadas na comparação com junho de 2019.
Enquanto isso, o consumo em restaurantes registrou queda de 33,4% no valor total gasto, aliada à retração de 53,4% no volume de transações realizadas com vale refeição.
Retomada pelo mundo
O levantamento do IFB também mostrou que o setor de alimentação foi impactado no mundo inteiro, e não só no Brasil. Levando em consideração apenas o gasto com alimentação, os Estados Unidos viram uma queda de 55%, enquanto na Alemanha e Rússia o consumo caiu 25%. Por aqui, a queda está entre 35 e 40%.
A pesquisa também mostrou que as pessoas não voltarão a realizar todas as atividades no mesmo ritmo. Enquanto viagens e passeios têm um retorno mais lento, voltar a investir em refeições em casa, no trabalho ou na escola tem uma resposta mais rápida. Com isso, os estabelecimentos podem aproveitar esta onda e aumentar o faturamento.
Já o hábito de comer fora fica no meio do caminho, uma vez que algumas restrições ainda são impostas, como capacidade reduzida e distanciamento entre as mesas.
Entre os entrevistados, 75% aprovam distância entre os assentos, 73% consideram a lotação parcial positiva, 65% consideram determinante o uso de máscaras e luvas, 45% esperam o uso de barreiras de acrílico na mesa e 43% dizem que o pagamento digital é um diferencial.