Fundamental para o desenvolvimento pessoal, a interação humana está presente em todos os âmbitos da vida. E isso inclui o ambiente de trabalho. Afinal, as relações interpessoais são indispensáveis para o bem-estar e para uma convivência mais agradável com as pessoas.
Inclusive, segundo a Universidade de Harvard (EUA), a amizade está entre os fatores que mais influenciam a saúde.
De acordo com os estudos, a prática de construir laços afetivos e de ter bons amigos pode prevenir doenças, aumentar a longevidade e ajudar a levar uma vida mais feliz.
Logo, as conexões criadas com o bate-papo no cafezinho, os desafios enfrentados juntos nos projetos e as risadas nos happy hours, devem ser incentivados.
Afinal, um bom relacionamento entre os colaboradores pode melhorar o engajamento da equipe e manter a saúde da cultura organizacional.
Pensando nisso, o Blog da Alelo conversou com Patrícia Ansarah, psicóloga organizacional, mentora executiva e sócia-fundadora do Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP). Vamos nessa?
O que é relacionamento interpessoal?
O conceito de relacionamento interpessoal é dinâmico, ou seja, ele é mutável. Por isso, precisa ser analisado e avaliado com frequência, pois ele está em evolução constante para atender aos costumes e às necessidades dos diferentes grupos sociais.
Patrícia Ansarah reflete sobre as relações interpessoais: “Por natureza, somos seres sociais e, portanto, relacionais. Isso significa que somos capazes de desenvolver habilidades para nos relacionar com diferentes personalidades e viver em sociedade de forma harmônica. Para que isso aconteça, precisamos saber identificar e lidar com os sentimentos que o outro desperta na gente, além de compreender que os nossos comportamentos também impactam positiva ou negativamente o nosso entorno”.
Como são as relações interpessoais no trabalho?
Para exemplificar a importância dos laços afetivos nas empresas, Ansarah fala sobre o período de pandemia de Covid-19, em que as pessoas precisaram estar isoladas socialmente para evitar o contágio da doença.
“O distanciamento social nos trouxe a necessidade de estabelecermos laços verdadeiros e finalmente nos fez perceber que as pessoas não se engajam com processos, mas sim com outras pessoas. No entanto, não aprendemos a nutrir relacionamentos afetivos dentro do trabalho e tampouco sabemos como fazer isso acontecer”, afirma.
Em vista disso, os relacionamentos interpessoais devem ser reconhecidos pelas empresas, através da promoção de espaços emocionalmente seguros e ambientes humanizados.
Pessoas devem ser prioridade
Uma questão importantíssima ressaltada por Patrícia Ansarah é o formato de trabalho previsto por uma companhia. Ao invés de valorizar apenas metas, tarefas e resultados, é importante priorizar os colaboradores.
Como o ambiente de trabalho está relacionado com as relações interpessoais?
Para refletir sobre os relacionamentos interpessoais no trabalho, é preciso pensar em quais momentos as relações existem para que elas possam ser melhor desenvolvidas.
Segundo a psicóloga organizacional, elas acontecem a todo momento – seja “na socialização com colegas, nas dinâmicas colaborativas, nas reuniões de trabalho ou nas interações do dia a dia”.
“Há estudos que indicam que passamos mais de 2/3 (dois terços) de nosso tempo nos relacionando no trabalho e, por isso, a qualidade das relações precisa entrar na agenda do negócio urgentemente”, alerta.
Por essa razão, é importante que as empresas incentivem a amizade entre os colaboradores. Para isso, precisam proporcionar espaços de trabalho em que todos possam saber ouvir e ter oportunidade para falar, seja de forma presencial, ou remota.
Para incentivar as relações interpessoais, não basta criar “ambientes de descompressão ou iniciativas de bem-estar como espaços coloridos, salas de massagem, mesa de ping-pong, aula de mindfulness, open spaces, etc”, como pontua Ansarah, mas também garantir “espaços psicologicamente seguros” e que valorizam as interações humanas.
Poder “discordar abertamente, falar dos problemas que ninguém fala, pedir ajuda, dar uma ideia, aprender com os erros e dialogar”.
Quais são as consequências de um ambiente organizacional que não é saudável?
“Quando as pessoas deixam de se expressar, criamos ambientes onde o medo se instala. O resultado disso é a baixa positividade, pouca geração de ideias novas, falta de segurança para arriscar algo novo, baixa performance e engajamento, aumento do comando-controle e geração de estresse e adoecimento”, aponta Ansarah.
Não à toa, as doenças ocupacionais e o alto nível de estresse são um grande problema das organizações na atualidade.
Uma pesquisa conduzida pela empresa Gattaz Health & Results, liderada pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP), Wagner Gattaz, e publicada em 2022, revelou que 18% dos profissionais do Brasil, ou seja, 1 a cada 5 brasileiros, sofrem com a síndrome do burnout.
O mesmo estudo mostrou que 43% dos brasileiros relataram sintomas depressivos, com 13% tendo sido diagnosticados com a doença; e 24%, com queixas relacionadas à ansiedade. 5% destes recebendo o diagnóstico da síndrome.
Para fortalecer os laços afetivos entre a equipe, as empresas precisam contar com líderes que saibam priorizar uma dinâmica saudável de socialização, segundo Ansarah.
Isso porque, assim, os colaboradores sentirão mais vontade de contribuir, “aumentando a produtividade individual e coletiva, e melhorando, consequentemente, a saúde organizacional”.
E o posicionamento da liderança?
É fundamental pensar sobre o posicionamento da liderança quando se fala em relações interpessoais. Afinal, é a figura do líder que deverá tomar as rédeas em relação à socialização da equipe.
Conforme destaca Ansarah, “a liderança deve estar preparada para perceber quando o seu time está sofrendo e falar sobre isso, fazendo mais perguntas e dando menos respostas. É preciso que a liderança assuma seu lugar dentro do time e não acima dele, se aproximando de todos e encontrando soluções práticas juntos”.
Como o clima organizacional pode influenciar os resultados?
A partir da valorização dos laços afetivos, portanto, a empresa consegue melhorar o clima organizacional, e criar espaços mais seguros, saudáveis e produtivos.
Nesse cenário, que preza pela humanização do ambiente de trabalho, os resultados serão ainda melhores. Patrícia Ansarah cita uma pesquisa realizada mundialmente pela Gallup, que contou com mais de 3 milhões de pessoas para exemplificar a informação.
“[O estudo] mostra que apenas 25% dos profissionais estão engajados no trabalho. A estimativa é que isto custe US$ 7,8 trilhões à economia global. Ou seja, o nível de engajamento impacta diretamente na produtividade, que passa a depender de um ambiente de trabalho onde as relações entre as pessoas são mais fortes e saudáveis”, explica.
E como melhorar as relações interpessoais em uma empresa?
No livro “Relações Interpessoais e Qualidade de Vida no Trabalho”, Edina de Paula Bom Sucesso lista as principais práticas, em ordem de prioridade, para que se tenha bons relacionamentos entre colaboradores.
São elas:
- 1.º ouvir
- 2.º clarear as dúvidas
- 3.º checar oposições
- 4.º atenção ao comportamento não verbal
- 5.º desenvolver a autoestima
- 6.º reconhecer e valorizar o outro
- 7.º dar e receber feedback
- 8.º estimular o outro à conduta assertiva
Ainda, Patrícia Ansarah deixa o alerta: “É fundamental que a qualidade das relações e das conexões estabelecidas sejam priorizadas, independentemente se a empresa atua no formato presencial, híbrido ou virtual”.
Cuide dos colaboradores!
Apoie ações que incentivem os laços afetivos e fortaleça os relacionamentos de confiança dentro da empresa. Além disso, as lideranças devem ressaltar, com frequência, a importância de saber ouvir e ter empatia com o outro.
Uma cultura organizacional saudável faz a diferença para o bem-estar e qualidade de vida de toda a equipe!