Você já reparou nas cores dos alimentos durante a refeição? Para muitos, quanto mais cores tiver um prato, mais rico em nutrientes ele será, o que é fundamental para o organismo. Porém, essas cores devem vir dos pigmentos naturais presentes nos alimentos e não daqueles artificiais que são adicionados aos produtos, como os corantes.
Embora tenha crescido o número de consumidores que estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade e origem dos alimentos consumidos, ainda é forte a presença de produtos industrializados nas refeições brasileiras.
Segundo a Anvisa, os corantes fazem parte dos aditivos alimentares – qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos com o objetivo de modificar suas características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais.
Sem valor nutricional, o corante é usado para alterar a aparência dos produtos industrializados.
Um estudo realizado pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), com 96 produtos, mostrou que corantes e aromatizantes são os aditivos alimentares mais utilizados, variando muito a quantidade dessas substâncias de uma marca para outra.
De acordo com o levantamento, 41,6% dos produtos avaliados contêm corantes. São embutidos, refrigerantes, balas, doces, salgadinhos, sorvetes, sucos artificiais e gelatinas, entre outros produtos similares.
A salsicha, por exemplo, tem cor avermelhada graças ao corante natural carmim de cochonilha, fabricado a partir de um inseto, o Dactylopius Coccus. O extrato do corante é obtido por meio do processamento do corpo seco de fêmeas dessa espécie.
Esse corante também costuma ser encontrado em outros embutidos, como o presunto, sendo a cor um forte atrativo para os consumidores, a ponto de muitos recusarem o alimento quando apresentado sem a coloração avermelhada conhecida.
Executivos da indústria e profissionais de engenharia de alimentos, sabem que, por exemplo, se o corante avermelhado do presunto é retirado, as vendas despencam, daí o motivo das empresas manterem a cor artificial.
Atualmente, existem três categorias de corantes permitidas pela legislação brasileira para uso em alimentos:
1 – Corantes naturais
Podem ser de origem vegetal (exemplos: clorofila, betacaroteno – de alimentos como: cenoura, abóbora, manga, mamão, beterraba), de origem animal (exemplos: cochonilha – um inseto) ou mineral (exemplos: hidróxido de ferro).
2 – Corante caramelo
Obtido pelo aquecimento do açúcar e da caramelização.
3 – Corantes sintéticos artificiais
Podem ser orgânicos artificiais (exemplo: tartrazina, vermelho 40) ou orgânicos idênticos aos naturais (complexo cúprico de clorofila e clorofilina).
A nutricionista Mirelli Dantas, de São Paulo, relata que os corantes naturais são obtidos do pigmento extraído de algum vegetal ou animal e não causam prejuízos à saúde.
Segundo a nutricionista, de modo geral, alimentos industrializados e ultraprocessados possuem em sua composição substâncias que viciam o nosso paladar.
Alimentos ricos em gorduras, sódio e açúcares possuem essa característica, pois o sabor dos alimentos é realçado, gerando uma sensação de prazer após o consumo, e essa sensação boa faz com que as pessoas queiram comer mais.
Já os refrigerantes de cola, assim como doces, salgadinhos, balas, caramelos, cereais e molhos usam o corante caramelo, extraído por meio do processo de caramelização e aquecimento de determinados produtos, que confere à bebida ou alimento uma coloração que vai de levemente amarelada a marrom escuro.
Entretanto estudos mostram que o grande consumo desses produtos pode aumentar o risco de certos tipos de câncer como o de pulmão, devido à presença do subproduto 4-Metilimidazol no corante de caramelo.
“Os consumidores de refrigerantes estão sendo expostos a um risco de câncer evitável e desnecessário de um ingrediente que está sendo adicionado a essas bebidas simplesmente para fins estéticos “, disse Keeve Nachman, autora sênior de um estudo sobre os riscos do corante caramelo nos refrigerantes, realizado no Johns Hopkins Center for a Livable Future, em Baltimore (EUA).
Segundo Keeve, essa exposição desnecessária ao corante representa uma ameaça à saúde pública e levanta questões sobre o uso contínuo de corante caramelo em refrigerantes.
Reações alérgicas como irritações e coceiras na pele, vermelhidão, urticária, inchaço nos olhos, enjoo e mesmo asma também têm sido associados ao consumo de alimentos que contêm o corante artificial amarelo tartrazina.
Trata-se de um pó fino sintético derivado de uma substância chamada coaltar (com ação anti-inflamatória), que contém algumas semelhanças com o ácido acetilsalicílico (AAS) e outros anti-inflamatórios não hormonais.
Por causa disso, pessoas sensíveis a esses remédios podem vir a ter uma reação alérgica ao ingerir a substância.
No geral, os corantes sintéticos derivados do carvão, como o tartrazina, azul brilhante e vermelho eritrosina, são os que causam as reações alérgicas. Nas crianças, há registros também de hiperatividade associada ao corante azul brilhante e vermelho 4.
Se antes a tecnologia e a ciência se voltavam a melhorar os processos industriais e a adição de conservantes, hoje há um movimento crescente que valoriza a saúde e o bem-estar das pessoas. Por isso, a tendência é priorizar alimentos com menos ou sem nenhum aditivo.
A “Natu”, refrigerante da linha Guaraná Antarctica, por exemplo, diz no rótulo ser 100% de ingredientes naturais, sem corantes artificiais.
Da mesma forma, a “Coca-Cola Clear”, lançada na Ásia, é uma variante incolor do refrigerante Coca-Cola, que não tem o corante de caramelo, nem a cor escura típica dessa bebida.
Mirelli sugere fazer em casa o próprio hambúrguer, com carne e temperos naturais, ou nuggets feitos com frango em sua totalidade.
Quanto ao refrigerante, que tal optar por uma água com gás e limão espremido? Existem também versões de bebidas gaseificadas sem adição de açúcares e adoçantes.
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