O dia 2 de abril foi escolhido como Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST), desde 2012, o Brasil conta com a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei 12.764/2012). Entre outros temas, ela prevê o direito e o estímulo à inserção da pessoa com TEA no mercado de trabalho. Para efeitos legais, quem tem autismo é considerada pessoa com deficiência. Assim, sua contratação também é considerada para o cumprimento da cota prevista na Lei 8.213/1991.
Esta é uma forma de apoiar a inclusão desta população cujos números ainda são imprecisos. A Associação Amigos do Autista (AMA) diz que 1 em cada 160 crianças tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Contudo, nem sempre o diagnóstico ocorre na infância.
Hoje vamos conhecer o alelover Jonatas Silva Ribeiro, de 39 anos, Analista de sistemas e líder do Grupo de Afinidades PcDs da Alelo, casado há quase 10 anos e pai do Bryan, de 5 anos.
Recebendo o diagnóstico de autismo
Jonatas trabalha na Alelo há 2 anos e 5 meses e foi diagnosticado com o transtorno em 2019, quando tinha 35 anos.
Ele diz que se assustou um pouco com o diagnóstico, procurou uma segunda opinião, mas depois que absorveu a informação sentiu uma sensação muito boa.
“Foi uma sensação de libertação. Hoje entendo melhor coisas do passado e presente, situações em que eu era considerado como ‘estranho’, ‘diferente’, que ficava isolado, e várias outras coisas que se deviam as minhas particularidades. Depois do diagnóstico, eu e várias outras pessoas na comunidade autista relatamos que o cérebro meio que ‘relaxa’.”
Jonatas conta que antes, quando era submetido a situações que faziam mal, acabava fazendo “poker face”.
“Você entende que aquilo faz parte da sua essência, e não se sente mal em ficar mal, e o que as pessoas vão falar se você fugir do padrão de aguentar tudo sem reclamar”, diz.
Desafios ao descobrir o TEA
O alelover conta que o maior desafio é ser compreendido enquanto autista.
“A sociedade tem uma visão muito equivocada do que é uma pessoa autista. Elas geralmente vinculam a ideia de que pessoas autistas não conseguem trabalhar, se relacionar e que precisam de suporte para a maioria das tarefas cotidianas”, conta Jonatas.
Ele diz ainda que dentro do espectro autista existem níveis de suporte que vão do 1 até o 3.
Jonatas revela que é preciso se validar em muitos espaços. “Sou questionado, por exemplo, ao pegar uma fila preferencial que é meu direito, simplesmente por ter uma deficiência invisível. Eu desempenho um alto nível (apesar de ser incomum em homens no espectro) de camuflagem social (conhecido como masking), o que acaba sendo como uma espécie de senso de sobrevivência, de forma que adapto o que dizer e como agir para não destacar as minhas diferenças de fala e comportamento, o que aumenta mais ainda a estranheza das pessoas ao achar que eu não tenho autismo.”
Ele compartilha que, infelizmente, as pessoas assistem a um vídeo na internet, a um filme, ou a uma matéria de jornal (em que costumam retratar quase sempre autistas de nível de suporte 3), e acham que sabem identificar o que é ou não ser autista.
Apoio da família
Ao receber o diagnóstico do espectro autista, Jonatas diz que isso ajudou a responder várias perguntas que a família tinha.
“No começo, houve certa estranheza e resistência de alguns membros da família. Percebo que para alguns é difícil lidar com o diagnóstico e evitam falar do assunto. Minha esposa foi a que mais me apoiou no processo, tendo estudado muito (junto comigo) sobre o tema. Inclusive ela foi a primeira a levantar a suspeita de que eu fosse autista, e me ajudou a conseguir o diagnóstico. Após a confirmação, continuamos pesquisando sobre o assunto para entendermos mais e também para adaptarmos determinadas situações da nossa vida”, conta.
Falando de estereotipia
Nenhum autista é igual ao outro, mesmo que sejam do mesmo nível de suporte.
“No meu caso, grande parte das características ‘mais evidentes’ do autismo passam despercebidas. Isso também se aplica às estereotipias. Quem convive mais de perto comigo e tem algum conhecimento sobre autismo consegue perceber algumas coisas, como, por exemplo, ao conversar tenho a tendência de pigarrear, ou ainda, ao precisar me concentrar em algo, costumo fazer movimentos aparentemente aleatórios com os dedos das mãos, rodar a caneta, manusear o cubo infinito (artifícios que uso como stim toys – brinquedos ou objetos que ajudam na autorregulação) ou movimentar uma ou ambas as pernas”, conta.
Hoje, Jonatas identifica que isso são estereotipias dele, mas como são sutis e por vezes podem passar despercebidas ou ainda serem associadas somente a traços de ansiedade.
As estereotipias não causam impacto no trabalho do nosso alelover, mas um ponto que ele identifica e que por vezes o impacta é quanto à rigidez cognitiva, que faz com que ele não tenha tanta flexibilidade para certas coisas, como parar uma tarefa sem concluí-la.
Ele diz que o autoconhecimento o auxilia muito. “Saber que determinadas situações vão me impactar de algum modo, faz com que me prepare melhor para lidar com aquilo”.
Autismo e trabalho
Nosso alelover conta que não tem muitas dificuldades no ambiente de trabalho. “A cultura na Alelo é bem legal no ponto de inclusão e a Elopar é totalmente contra discriminação.”
Jonatas diz ainda que como o trabalho é totalmente home office, tem menos impacto na parte de conviver com muita gente diferente diariamente.
“Conviver com muita gente diferente me desgasta muito. Tem até um termo que usamos na comunidade que seria a bateria social. Quanto mais se interage no dia, maior o cansaço e desgaste”, diz.
Ele conta ainda que vez ou outra, encontra alguma situação com alguém que fica meio reticente de dar feedback (por medo de falar algo errado e ser cancelado) ou que diz não saber como lidar (seja pelo autismo em si, ou por ser pessoa com deficiência).
Convivência com colegas de trabalho
Com a sabedoria alcançada pela idade, pelos vários cursos que já fez e pelos quase 7 anos que já atuou como gestor no último emprego em uma empresa pública, Jonatas acredita que a convivência é muito boa.
“Nunca tive feedback negativo pelo meu comportamento ou pelas minhas entregas, aliás, pelo contrário, a maioria das pessoas que interagem comigo costumam elogiar.
Grupo de afinidades PcDs
Quando entrou para a Alelo, Jonatas iniciou a participação no grupo. “Depois do diagnóstico, passei a defender muito a causa dos autistas e da inclusão, passando a ampliar os horizontes para pessoas com deficiência em geral, depois outros grupos de minoria. Tive a oportunidade de ser colíder, mas declinei por achar que ia atrapalhar o trabalho, assumindo então papel no grupo central que apoia a liderança mais de perto”, diz.
Foi só em 2024 que Jonatas se candidatou e assumiu a liderança do grupo. “Já fizemos várias ações na empresa, das quais algumas se repetem anualmente, como postagem na rede interna sobre a data, palestra com apoio de empresa especializada explicando várias nuances sobre o tema, rodas de conversa, seja no dia do orgulho autista ou ao longo do ano.”
Para finalizar, Jonatas deixa um recado: