Tédio, desmotivação e subutilização de competências no trabalho podem ser a raiz do boreout, síndrome organizacional pouco discutida, mas que impacta equipes e organizações.

De acordo com dados da pesquisa State of the Global Workplace, promovida pela Gallup, no último ano, apenas 21% dos trabalhadores no mundo estavam engajados em seus empregos, enquanto 62% não estavam engajados e 17% eram ativamente desengajados. 

Na América Latina e Caribe, o índice de engajamento ficou em 31%, acima da média global, e no Brasil chegou a 34%, mas ainda significa que dois terços dos brasileiros não se sentem conectados ao trabalho

O estresse diário foi relatado por 40% dos trabalhadores globalmente e por 45% no Brasil, enquanto sentimentos de tristeza atingiram 23% no mundo e 20% entre os brasileiros. Além disso, metade dos profissionais globalmente está em busca ou atenta a novas oportunidades de emprego. 

A falta de engajamento gerou um prejuízo estimado de US$ 438 bilhões em produtividade perdida no último ano, evidenciando o impacto negativo do desinteresse e do tédio no ambiente corporativo. 

Em um contexto de trabalho onde muito se fala sobre produtividade, clima organizacional e satisfação profissional, as empresas investem, cada vez mais, em estratégias para motivar equipes e reter talentos, enquanto profissionais buscam sentido e realização em suas carreiras. No entanto, há desafios silenciosos que podem afetar profundamente o cotidiano empresarial e o bem-estar dos colaboradores. Compreender esses fenômenos é essencial para promover ambientes mais saudáveis e sustentáveis nas organizações. Bora falar sobre boreout?

O que é boreout?

O boreout é uma síndrome caracterizada pela insatisfação e desmotivação resultantes da falta de desafios, estímulo e propósito no trabalho. 

Diferente do burnout, que surge do excesso, o boreout nasce da ausência: tarefas repetitivas, subutilização de habilidades e rotina monótona levam à sensação de inutilidade e apatia profissional. Esses fatores levam a um ciclo de insatisfação, em que o profissional perde o interesse pelo trabalho, apresenta queda de produtividade e, muitas vezes, desenvolve sintomas físicos e emocionais, como ansiedade, irritabilidade e episódios depressivos. 

O ambiente organizacional também sofre: equipes desmotivadas tendem a colaborar menos, aumentar o turnover, comprometer o clima e impactar negativamente os resultados da empresa. Por isso, reconhecer e combater o boreout é fundamental para promover bem-estar, engajamento e retenção de talentos nas organizações.

Qual é a diferença entre boreout e burnout?

Embora ambas as síndromes estejam relacionadas ao mal-estar no trabalho, elas surgem em contextos opostos e têm origens distintas:

  • Burnout: resulta do excesso crônico de demandas, pressão constante e esgotamento emocional. O profissional afetado apresenta exaustão física e mental, irritabilidade e sensação de incapacidade, muitas vezes acompanhados por sintomas como insônia e ansiedade.
  • Boreout: surge da falta de estímulos, tarefas repetitivas ou subutilização das habilidades. O colaborador experimenta tédio prolongado, desinteresse e sentimento de inutilidade, o que pode levar à apatia e até à perda de autoestima profissional.
  • Impacto comum: tanto o burnout quanto o boreout prejudicam a produtividade e a saúde mental, mas exigem abordagens diferentes para prevenção, da redistribuição de cargas de trabalho à revisão de funções e metas alinhadas ao propósito do colaborador.

O que caracteriza o boreout?

Silenciosa e subdiagnosticada, a síndrome de boreout surge em ambientes de trabalho onde há subcarga, ou seja, contextos profissionais onde as exigências são inferiores às capacidades do indivíduo, gerando falta de perspectiva, tédio e falta de propósito.

Esse problema é alimentado pela monotonia, tarefas repetitivas ou insignificantes e pela falta de reconhecimento do potencial do colaborador e, entre os principais sintomas que ele ocasiona, estão:

  • Tédio prolongado: sensação de vazio e desinteresse pelas tarefas, mesmo quando há tempo disponível.
  • Desmotivação profunda: falta de energia para iniciar ou completar atividades, ainda que simples.
  • Sentimento de inutilidade: a percepção de que o trabalho não agrega valor, levando à queda da autoestima profissional.
  • Estratégias para parecer ocupado: o colaborador simula estar ocupado (ex.: alongando tarefas ou ocupando tempo com atividades irrelevantes) para mascarar a ociosidade.

Causas comuns:

  • Falta de alinhamento entre as habilidades do profissional e as funções atribuídas;
  • Gestão desatenta que não identifica ou não redistribui tarefas de forma equilibrada;
  • Estrutura organizacional rígida, com pouca autonomia ou oportunidades de crescimento.

Consequências:

Além do impacto na produtividade, o boreout pode desencadear problemas de saúde mental a longo prazo, como depressão, ansiedade e somatizações como: dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais e insônia. Além da desconexão com a carreira e à rotatividade voluntária.

Por que o boreout é negligenciado?

Muitas empresas interpretam os sintomas como “preguiça” ou má vontade, ignorando que o problema pode estar na estrutura do trabalho, não no colaborador. 

A falta de discussão sobre o tema, em contraste com a visibilidade do burnout, agrava o quadro.

Quais são os sintomas do boreout?

Entre os principais sintomas do boreout estão:

  • Cansaço constante, mesmo com baixa carga de trabalho;
  • Falta de motivação e energia;
  • Sentimento de apatia e desinteresse;
  • Baixa autoestima e sensação de inutilidade;
  • Ansiedade, irritabilidade e, em alguns casos, tristeza persistente;
  • Dificuldade de concentração e procrastinação;
  • Sintomas físicos, como insônia, dores de cabeça e baixa imunidade.
Boreout é uma síndrome causada pelo tédio e desmotivação no trabalho

Como evitar esse problema?

Para evitar o boreout, tanto empresas quanto profissionais podem adotar estratégias como:

  • Buscar novos desafios e responsabilidades no trabalho;
  • Investir em aprendizado contínuo e desenvolvimento de novas habilidades;
  • Conversar com líderes e gestores sobre expectativas e possibilidades de crescimento;
  • Promover ambientes que valorizem a criatividade e a inovação;
  • Estabelecer metas e objetivos claros, alinhados ao propósito da organização.

Como lidar com o boreout?

O boreout é um problema que, quando identificado precocemente, pode ser gerenciado com ações práticas e mudanças na divisão de tarefas ou no nível de complexidade das demandas. Para lidar e intervir em situações como essa, recomenda-se:

  • Identificação proativa através de pesquisas de engajamento e people analytics;
  • Redesenho de funções com rodízio de atividades e projetos desafiadores;
  • Programas de desenvolvimento com planos de carreira personalizados e mentorias;
  • Cultura de reconhecimento que valorize contribuições além da produtividade;
  • Apoio institucional com mentorias e acompanhamentos focados na saúde mental.

Essas iniciativas ajudam a reter talentos, fortalecer o engajamento e transformar as pessoas no maior diferencial competitivo da empresa. O RH deve priorizar um diagnóstico inicial, focar em áreas críticas e estabelecer métricas contínuas para mensurar resultados.

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