Nunca o trabalho e as tarefas domésticas estiveram tão interligados para aqueles que puderam atuar no modelo de home office durante a pandemia. E quem não pode, foi obrigado a lidar diariamente com os temores do vírus ainda desconhecido.
O cenário de incertezas gerou uma onda de preocupação com a saúde mental das pessoas. Se há pouco tempo os cuidados com a mente ainda eram deixados para segundo plano, sentimos na pele como é necessário olhar para nossas emoções e sentimentos.
Nos últimos meses se tornou mais habitual falar sobre sintomas de depressão, ansiedade e Síndrome de Burnout, doenças cada vez mais comuns no mercado de trabalho. Assim, líderes e gestores precisam estar preparados para lidar com consequências deste momento conturbado.
Recentemente a associação americana de profissionais da área de gestão de pessoas, Society for Human Resource Management (SHRM), divulgou o estudo “Lidando com funcionários em crise: opções e recursos para os tempos turbulentos de hoje” e apresentou algumas dicas que podem ser importantes para este momento.
Para o órgão, o líder ganha mais um papel: o de observador de comportamentos. A ideia é que ele haja logo que perceba uma mudança repentina de posicionamento de seu subordinado para que uma eventual intervenção ganhe tempo e traga melhores resultados. Outro conselho é criar um ambiente propício e acolhedor para que a pessoa compartilhe suas angústias com os companheiros.
“Estender a mão amiga para aqueles que se desvencilharam do grupo social pode ser uma tarefa assustadora, mas é essencial neste momento”, alerta o SHRM.
O estudo também reforça que o setor de recursos humanos das empresas deve estar preparado para lidar com situações críticas e que o gestor pode, e deve, procurar os profissionais em busca de ajuda depois do consentimento do funcionário. O encaminhamento, que parece óbvio para alguns, pode ser o diferencial para aquele funcionário.
O que as empresas estão fazendo na prática
A preocupação das empresas com a saúde mental ficou evidente este ano. Tanto é que empresas como a Ambev, conhecida pelo forte foco em metas e meritocracia, mudaram seu escopo em 2020. Para se ter uma ideia, a empresa de bens de consumo criou uma diretoria de saúde mental para subsidiar ações que tragam mais tranquilidade e acolhimento para os colaboradores.
Uma das iniciativas aconteceu em setembro, quando lideranças da empresa compartilharam durante evento virtual os maiores erros de suas carreiras. “A permissão para errar é um dos sinais que a companhia está buscando para tranquilizar os funcionários”, diz Mariana Holanda, primeira diretora de Saúde Mental da Ambev.
Enquanto isso, na Alelo, o time de gente também viabilizou iniciativas para cuidar da saúde emocional das equipes, como palestras sobre o assunto e grupos de debate sobre hobbies para momentos de descompressão e interação entre diferentes times.
Segundo Carolina Ferreira, profissional de Gente & Transformação da Alelo, em 2020 a empresa teve um grande foco em ações de Saúde & Bem Estar. “Aplicamos pesquisas para saber o momento de cada um, quais seus sentimentos e preocupações e, a partir daí, preparamos ações de impacto”, diz. A companhia realizou palestras sobre Empatia, Mindfullness, Felicidade, Prevenção ao Suicídio, Saúde Mental, entre outras.
A fim de ajudar as empresas a encontrarem seu caminho no quesito de saúde mental, o Blog da Alelo também ouviu Thais Mendes, head de RH da consultoria de gestão de pessoas GTO RH, para colher dicas de como criar um ambiente mais saudável para 2021, ano que ainda será impactado pelas consequências da pandemia.
Confira a entrevista com a profissional:
1. O ano de 2020 foi atípico e muitas pessoas tiveram que lidar com um verdadeiro turbilhão de emoções. Como criar um ambiente saudável para o trabalho neste cenário?
A pandemia da COVID-19 trouxe uma série de necessidades para as quais ninguém estava preparado. Assim, muita tensão e ansiedade são geradas afetando a todos e, portanto, a relação entre saúde mental e trabalho não pode ser desconsiderada. Diante de tantas pressões, existe um risco real para a saúde mental. Nesse sentido, é essencial tomar medidas que compensem e equilibrem esse estado.
As empresas podem desempenhar um importante papel nesse esforço para ajudar a manter seus colaboradores saudáveis. Sentir-se acolhido, quando os índices de ansiedade crescem à proporção em que o tempo passa e a pandemia permanece ceifando vidas, tem um valor incalculável. Assim, não apenas para fins de se evitar o contágio, mas também com vistas a promover a atenção da empresa para com a sua equipe.
É preciso alertar para os riscos de excesso de informações; esclarecer sobre a necessidade de qualidade no sono e sobre o papel de uma alimentação saudável; ressaltar a importância de se adotar um hobby e estimular para implementação de rotinas.
2. Quais sinais um gestor deve ficar atento para evitar que um colaborador “exploda”?
Existe uma linha bem tênue e direta entre estresse no trabalho e produtividade. A empresa tem que identificar as situações que podem gerar incômodos futuros e cuidar de seu maior ativo: as pessoas. As companhias devem ter em seus quadros efetivos pessoas capacitadas para perceberem e combaterem os graves problemas que o estresse pode trazer, não só para os colaboradores, como também para a empresa.
Portanto, devem adotar medidas para reduzir ou, preferencialmente, eliminar situações geradoras de conflitos – sejam internas ou externas, principalmente durante a pandemia.
3. E quais os sinais que um gestor deve ficar atento para não explodir com a equipe?
É preciso estar de olho em sintomas como a sensação de esgotamento físico e/ou mental, refletindo em vários outros sintomas secundários como agressividade, isolamento, mudanças de humor constantes e irritabilidade, além de ansiedade, lapsos de memória, pessimismo e baixa autoestima. Esses sinais podem revelar a síndrome de burnout ou esgotamento profissional.
4. Na sua visão, os profissionais estão mais preparados para lidar com cenários de lockdown, home office e conflitos entre a vida profissional e pessoal?
Antes restrito a alguns profissionais, o home office precisou virar a realidade de milhares de trabalhadores no Brasil e no mundo. Nem todas as profissões podem simplesmente migrar para o formato a distância, mas, para serviços de escritório, essa foi a alternativa encontrada por diversas empresas e órgãos públicos para manter a produtividade e, ao mesmo tempo, preservar a saúde dos funcionários. Isso também é aplicado ao lockdown. Não há mais como voltar, esse é um processo futuro que apenas foi acelerado. E, diante das adaptações que vemos tanto do mercado quanto dos colaboradores, acredito que estamos todos mais preparados e adaptados para essa realidade nova.
5. 2021 ainda parece ser um ano cheio de incertezas. Dá para preparar a equipe?
É preciso investir em valores corporativos para diminuir o impacto do que há de vir. Isso inclui o fornecimento de treinamento para executivos sobre como liderar em tempos difíceis e à distância, fornecer mais recursos de apoio à saúde mental para os membros da equipe e continuar a revisar e testar novas estratégias de trabalho em casa. Investir em inteligência emocional, líderes com alta IE podem reconhecer, compreender e ter empatia com suas próprias emoções e as dos outros, e transformar essas reflexões em ação. E, por último, exercer a capacidade de adaptação. É preciso desenvolver equipes adaptáveis a novos obstáculos em 2021.
Leia mais sobre como cuidar da saúde mental dos colaboradores em tempos de isolamento social aqui.
O blog Alelo também fez uma matéria imperdível sobre alimentos que contribuem com a saúde emocional, confira aqui.