Talvez os conceitos de Open Banking e Open Finance ainda não sejam familiares para a maioria dos brasileiros, mas com certeza você já notou as mudanças práticas que as iniciativas do Banco Central vem gerando no mercado financeiro brasileiro nos últimos meses. A transformação está apenas começando e deve promover uma corrida entre os players do setor para se adequarem às novas regras do jogo.

Um exemplo prático dessa transformação é o PIX.  O meio de pagamento instantâneo entrou em vigor em novembro de 2020 e já tem mais de 300 milhões de cadastros no Brasil. Desde o início, as operações superam 2 bilhões de PIX realizados.

Esse sistema é um dos resultados de uma revolução no sistema bancário do Brasil, que vem em linha com uma evolução que acontece ao redor do mundo. Muitos países já realizaram grandes mudanças e servem de exemplo para nós.

Mas afinal, o que são Open Banking e Open Finance? Em suma, são iniciativas encabeçadas pelo Banco Central para colocar o sistema financeiro do país no caminho de uma digitalização e transparência sem iguais.

O tal “serviço aberto” foi criado pelo Banco Central do Brasil para possibilitar que os dados da conta de um cliente, como informações cadastrais e histórico de transações, sejam compartilhados de forma padronizada – por meio de APIs (interfaces de programação de aplicações) – com instituições devidamente reguladas, de maneira segura e rápida.

A ideia central é trazer mais competitividade para o setor, além de mais praticidade e opção de escolha ao consumidor. Tudo isso com respaldo na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais).

Enquanto o Open Banking pode ser descrito como um primeiro passo para o sistema financeiro aberto, o Open Finance aparece como um degrau a mais nessa escalada e deve ser o responsável por movimentar ainda mais o setor financeiro brasileiro.

Além de bancos e fintechs, o Open Finance prevê que outras entidades, como corretoras de seguros, plataformas de investimentos e fundos de pensão, poderão participar desse sistema regulado pelo Banco Central. E é aí que mora a real oportunidade para as empresas — e para os consumidores, que se tornam protagonistas de vez nessa história.

Como o varejo pode ser impactado?

Segundo Monica Reis, especialista em produtos financeiros, o open banking tem um impacto tanto nas operações de retaguarda, quanto no relacionamento com o cliente final. “Varejistas que estiverem atentos e aproveitarem as oportunidades trazidas pelas mudanças no setor financeiro podem se tornar mais competitivos, melhorar o relacionamento com os consumidores, aumentar suas vendas e resultados”, explica.

Nas operações de retaguarda, o open banking vai proporcionar aos varejistas os recursos necessários para melhorar a eficiência de suas operações de crédito. Por exemplo, como o sistema facilita a migração de contas para outras instituições financeiras, o varejo poderá negociar condições comerciais mais eficientes. Seja conseguindo descontos com o atual banco, ou migrando para outro que ofereça uma condição melhor, o resultado é o mesmo: redução de custos nas atividades financeiras.

Além disso, as operações de recebíveis do varejo se tornarão ainda mais valiosas, já que o comércio poderá negociar esses créditos em condições mais vantajosas com mais instituições financeiras. Como consequência, as empresas podem aumentar o capital de giro, ganhando competitividade.

“Como o histórico de relacionamento com a instituição financeira poderá ser transportado para outras instituições, o varejista terá informações completas sobre sua capacidade de pagamento e necessidade de captar recursos. Essa transparência é uma informação muito importante para o aumento da governança”, diz a especialista.

Com o aumento da concorrência pela prestação de serviços financeiros, surgirão instituições financeiras especializadas em determinadas modalidades de crédito. Dessa forma, haverá mais flexibilidade para realizar algumas transações com um banco ou outro a partir das melhores condições oferecidas.

Ela avalia que um sistema financeiro mais aberto traz uma série de benefícios para as estratégias comerciais e para o relacionamento da empresa com fornecedores, parceiros e clientes. “Os dados de crédito poderão ser compartilhados com instituições financeiras para melhorar o score da empresa junto aos fornecedores, o que viabiliza prazos de pagamento mais elásticos e melhores condições comerciais. Com isso, o varejo aumenta sua capacidade de geração de caixa”, afirma.

Na prática, o open banking permite que as redes varejistas criem condições mais favoráveis de pagamento para os clientes com melhor histórico de pagamento. Em um futuro que não está distante, será possível parcelar as compras da Dona Maria em seis vezes e entender que, para o Senhor Joaquim, essa mesma condição tem um risco alto demais, por exemplo.

“Uma consequência dessa capacidade de customizar o crédito para os clientes é reduzir o volume financeiro necessário para prover perdas, o que tem um impacto direto no balanço da empresa”, afirma Monica.

Conheça as fases do Open Banking no Brasil

Fase 1: Ocorreu em fevereiro de 2021. As instituições participantes disponibilizaram ao público informações padronizadas sobre seus serviços. Não houve compartilhamento de nenhum dado de clientes.

Fase 2: Início do compartilhamento de dados entre instituições participantes. A ideia é que o consumidor possa receber ofertas de produtos e serviços mais adequados a seu perfil, a custos mais acessíveis e de maneira ágil e segura.

Fase 3: Em andamento. Os clientes poderão fazer compartilhamento dos serviços de iniciação de transações de pagamento e de encaminhamento de proposta de operação de crédito. O sistema financeiro ficará ainda mais aberto, com novas soluções e ambientes para a realização de pagamentos e outros serviços.

Fase 4: Até dezembro de 2021. Nesta fase passa a valer o Open Finance, com dados sobre outros serviços financeiros fazendo parte do escopo do Open Banking. Sempre que os clientes autorizarem, eles vão poder compartilhar suas informações de operações de câmbio, investimentos, seguros, previdência complementar aberta e contas-salários.

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