Com a adoção do home office, as reuniões virtuais se multiplicaram e os médicos alertam para um mal que deve nos acompanhar por anos.
Você está trabalhando em casa, mas está mais cansado do que ficava ao ir para o escritório? Não é só com você, acredite! Com o isolamento imposto para conter a disseminação da Covid-19, uma das principais mudanças no dia a dia do mundo corporativo foi o aumento do uso das plataformas online de videoconferência como forma de manter o contato social entre as pessoas. Mas o excesso de encontros virtuais, que nem sempre são apenas profissionais, acabou produzindo uma espécie de “fadiga do zoom”, segundo identificou a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Para mostrar o impacto das videoconferências na saúde mental dos brasileiros, a ABP conduziu uma pesquisa ainda em 2020, entre agosto e novembro. A sondagem aponta o aumento das queixas de pacientes sobre o excesso de trabalho por videoconferências durante o período, recebidas por 56,1% dos psiquiatras entrevistados.
Em entrevista para a Agência Brasil, o presidente da entidade, Antonio Geraldo da Silva, comentou que as pessoas estão adoecendo. “Os pacientes relataram que a ‘fadiga do zoom’ é um fato na vida delas. Elas aumentaram o trabalho via teleconferência, adoeceram e precisaram de ajuda”, diz.
O levantamento, realizado junto aos profissionais da rede pública e privada, mostrou que 63,3% deles perceberam um aumento de prescrição de remédios controlados para tratar pessoas que tinham a queixa de excesso de trabalho por videoconferência. Para 70,1% dos entrevistados, a necessidade de prescreverem psicoterapia para seus pacientes também foi outro resultado dessa fadiga.
Analisando esse fenômeno mais a fundo, um estudo recente observou que as mulheres são mais afetadas pela exposição prolongada às reuniões virtuais do que os homens. A constatação foi publicada em artigo pré-print, ou seja, sem revisão por pares, no repositório Social Science Research Network (SSRN), sob autoria dos cientistas da Universidade de Gothenburg, na Suécia e da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
A pesquisa aponta que, a razão das mulheres sofrerem mais com esta exaustão do que os homens, poderia estar associado a um comportamento chamado “ansiedade do espelho”, uma forma de atenção extrema devido ao constante olhar para si mesmo que causa tensão mental. O estudo aponta que as mulheres tendem a concentrarem-se mais na imagem de si mesmas do que os homens. O resultado disso são os transtornos de ansiedade e depressão, ligados a preocupação constante sobre como as pessoas as veem.
Outro ponto que causa a exaustão é a falta de limites no trabalho em home office. Se antes tinha a parada para o café e a conversa no corredor, hoje os profissionais engatam uma reunião na outra e, ao final do dia, passaram 8, 9 e até 12 horas em frente a tela. Segundo o estudo, as mulheres normalmente fazem menos pausas e suas reuniões são mais longas, fazendo com que se sintam presas devido a constante exposição através da câmera, que exige delas aparentar estar centrada.
Para além disso, ainda existe o estresse cognitivo causado pela falta de outros sinais não-verbais que normalmente são utilizados na comunicação cotidiana. “É uma situação nova, é um fato novo. Mas estamos percebendo que há um cansaço das pessoas em usar a videoconferência, porque ela retira de você toda privacidade, aumenta sua carga de trabalho e seu descanso fica comprometido e isso é, realmente, adoecedor”, disse Silva à Agência Brasil.
De acordo com o presidente da ABP, as pessoas passaram a trabalhar em casa e os horários rotineiros foram rompidos. “Muitos chefes passaram a entender que as pessoas estão disponíveis 24 horas”. No teletrabalho, muitas vezes, as pessoas entram em uma videoconferência às 8h e saem somente ao meio-dia”, completou.
A Associação Brasileira de Psiquiatria estima que há 50 milhões de pessoas com algum tipo de doença emocional no Brasil. O país engloba o maior número de pessoas com casos de transtornos de ansiedade do mundo. São cerca de 19 milhões de casos, que correspondem a 9% da população. Além disso, o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo e o primeiro na América Latina em pessoas com quadros depressivos.
A seguir, sete dicas para minimizar o estado de fadiga:
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