O plano do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de ter 70% dos adultos vacinados com uma dose e 160 milhões de pessoas totalmente imunizadas até o Dia da Independência dos EUA, em 4 de julho, tinha tudo para ser um sucesso, mas não deu totalmente certo.

Apesar de ter o volume de doses suficientes para vacinar a população, muitos americanos ainda não tomaram o imunizante. Para ajudar na questão e conscientizar sobre a importância da vacina, a iniciativa privada assumiu um papel de protagonista no país.

Foram feitos acordos com instituições de cuidados infantis para que os pais pudessem deixar seus filhos nos locais de forma gratuita enquanto vão se vacinar ou se recuperam de possíveis efeitos colaterais da dose. Aplicativos de transporte, como a Lyft e a Uber, também ofereceram corridas grátis até os centros de vacinação.

Há até recompensas para quem já foi vacinado. Fãs da NFL (a liga de futebol americano) que tiverem o comprovante de imunização, por exemplo, ganham 25% de desconto em produtos oficiais, além da participação em sorteios de ingressos para o Super Bowl LVI – a final do campeonato, em 2022.

A onda de convencimento alcançou o mercado corporativo. Algumas empresas norte americanas criaram benefícios para incentivar os funcionários. A Amazon, por exemplo, oferece US$ 80 aos empregados de sua linha de frente que forem se vacinar.

Apple, Lego, Starbucks, Pepsi, Disney e McDonalds cedem folgas remuneradas parciais ou totais para que o trabalhador procure os centros de vacinação. A rede de supermercados Walmart juntou os dois: licença remunerada e mais US$ 75.

Mas a verdade é que muitos americanos têm negado a vacina por medo de possíveis efeitos colaterais – o argumento utilizado é o de que os imunizantes foram desenvolvidos e aprovados pelo FDA (a Anvisa americana) muito rapidamente, de forma emergencial.

Além dos céticos, uma pesquisa realizada pela Universidade de Monmouth (EUA) indicou também a influência política na hora da vacinação: ao serem questionados, 43% dos republicanos disseram que não planejavam se vacinar; entre os democratas, essa taxa foi de 5%.

Como está o cenário no Brasil?

Ter um estoque sobressalente de vacinas, como está acontecendo nos Estados Unidos, ainda não é uma realidade no Brasil. Por aqui, a campanha segue um ritmo, mas as doses de imunizantes recebidas ainda não são suficientes para a totalidade da população.

Contudo, a expectativa é que nos próximos meses haja doses para todos. Nesse cenário, como fica o papel do mercado corporativo: as empresas e gestores podem encorajar sua equipe a se vacinar? Há mais de um ano essas perguntas dividem as opiniões de advogados e juristas.

Para Gabriel Affonsino, especialista em gestão ocupacional, a questão da vacinação é um desafio nas empresas antes mesmo da pandemia. “Vivemos um cenário em que cerca de 76% dos pacientes não completam os calendários básicos de imunização. Por isso, é um assunto delicado”, diz.

Ele afirma que todos os lados ganham com a imunização dos funcionários. “A vacina é capaz de proteger os trabalhadores e, inclusive, evitar a transmissão de doenças para clientes e parceiros. É uma ação que amplia a proteção da população e, no fim das contas, todos saem ganhando”, afirma Gabriel.

Segundo o especialista, o discurso amistoso de conscientização é o caminho mais indicado. “As companhias podem abordar os benefícios da vacina no controle da pandemia. Inclusive, acredito que isso é uma obrigação”, afirma.

Uma das primeiras a tomar iniciativa formal em defesa da vacina foi a Abrasel, associação de bares e restaurantes, que lançou a campanha “Vacina: eu confio”.

Ela abrange vídeos e cartazes com cerca de mil personalidades em todo o país como chefes de cozinha, empresários e celebridades com declarações de estímulo à vacinação.

“Acredito que esse é o papel do mercado corporativo, de estímulo, de conscientização e de educação”, diz Gabriel.

Em entrevista recente, Cláudia Abud, professora de direito da PUC-SP e sócia da Abud Marques Sociedade de Advogadas, também reforça a ideia mais consensual existente no meio jurídico: as empresas devem conscientizar os funcionários sobre a importância da vacina para o bem coletivo.

Mas ela destaca um outro lado: a recusa ao imunizante pode ser interpretada como um risco à saúde de todos os colaboradores.

Neste caso, o empregador pode desligar o funcionário como em qualquer outra situação. “Qualquer pessoa pode ser demitida sem justa causa, se recusar a vacinação. Essa dispensa não precisa de motivo [declarado] desde que a empresa pague indenização de 40% do FGTS, o aviso prévio e todas as verbas indenizatórias”, avalia.

Por isso, a recomendação geral é que as empresas e gestores podem, sim, estimular os funcionários a tomarem a vacina contra a Covid-19.

Para Raquel Medeiros, especialista em RH e saúde, há algumas ações que podem ser tomadas. “Além da comunicação constante sobre o tema em e-mails, murais e conversas formais, as companhias podem oferecer um período de folga ou algum benefício, como vale em dinheiro”, diz.

Ela destaca que os líderes têm um poder de persuasão muito importante nessa hora e devem ser exemplo. “Não é momento para disputa política ou ideológica. Precisamos de ações efetivas para barrar o contágio e a vacina é nossa maior arma disponível. Não acredito em obrigar os funcionários, mas ajudar na conscientização é essencial”, finaliza.

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