As mulheres são mais exigentes consigo mesmas ao pensarem sobre suas competências e aderências às vagas que vão se candidatar, ou a questão é mais complexa que isso?
Segundo algumas pesquisas, os fatores que levam o público feminino a se candidatar menos a vagas de emprego, especialmente quando não atendem todos os requisitos, estão intrinsecamente relacionados a problemas estruturais do mercado em relação às profissionais.
Além disso, a sub-representação feminina em cargos de liderança é outro fator decisivo para que elas se sintam menos encorajadas, afinal esse fato retrata uma combinação de barreiras culturais, diferentes níveis de cobrança para homens e mulheres, e geram insegurança, perfeccionismo e outros desafios.
Vem com a gente entender!
Mulheres no mercado de trabalho
No último ano, os níveis de desemprego caíram e o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou, mas mesmo neste cenário as mulheres continuam com menos direitos e oportunidades de trabalho, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O estudo feito pelo Dieese indica que, entre as profissionais, há maiores taxas de desemprego e salários menores. Entre os dados mais relevantes podemos citar:
- 2024 fechou o terceiro trimestre com mais de 3,7 milhões de mulheres sem uma ocupação, o que representa 7,7% da parcela de trabalhadoras contra 5,3% dos homens.
- A situação é ainda mais crítica entre as mulheres negras, que apresentam taxas de desemprego mais altas e são mais propensas a estarem na categoria de mão de obra subutilizada.
- As mulheres recebem, em média, R$ 762 a menos que os homens. Em cargos de direção, essa diferença pode chegar a R$ 40 mil.
Trabalho não remunerado
Além das atividades formais, uma parcela significativa das mulheres que estão no mercado de trabalho possuem outras ocupações não remuneradas, como: cuidados parentais, com idosos da família e outras tarefas domésticas.
Estima-se que elas gastem, em média, 21 dias a mais por ano em tarefas familiares e relacionadas ao lar do que os homens, fator que afeta sua disponibilidade para o mercado de trabalho e qualidade de vida.

Mulheres em cargos de liderança
Quando as mulheres conseguem superar as barreiras iniciais no mercado de trabalho, como taxas de desemprego mais altas e salários mais baixos, elas enfrentam novos desafios ao buscar ascender a cargos de liderança, como:
Representação em cargos de liderança
- Em 2025, as mulheres ocupam apenas cerca de 35% dos cargos de alta liderança no Brasil, de acordo com um estudo da Diversitera.
- A pesquisa “Mulheres em cargos de liderança na burocracia federal” destaca que as mulheres enfrentam obstáculos significativos para ascender, incluindo cobranças excessivas, falta de credibilidade e estereótipos machistas.
- No setor público, por exemplo, elas ocupam cerca de 38% dos postos de alta liderança, conforme dados do estudo citado acima.
Barreiras culturais e estruturais
- Sexismo e estrutura machista: um estudo do Movimento Pessoas à Frente revelou que 64,2% das mulheres em cargos de chefia no governo federal citaram sexismo e estrutura machista como empecilhos para sua ascensão.
- Conciliação familiar e profissional: a dificuldade de conciliar responsabilidades profissionais e pessoais é um desafio significativo, mencionado por mais de 70% das entrevistadas.
E esses problemas não são intrínsecos ao serviço público, empresas privadas também enfrentam desafios quando falamos sobre equidade de gênero, entre eles podemos citar:
- Diferenças salariais: as mulheres recebem, em média, 21% menos que os homens em cargos de liderança, conforme o estudo da Diversitera.
- Presença na alta liderança: os dados também indicam que apenas 35% das vagas executivas são ocupadas por mulheres (gerência, diretoria e C-level).
- Operacionalidade: quando falamos especificamente sobre vagas operacionais, as estatísticas indicam que 70% da mão de obra é feminina, enquanto os homens são mais escalados para cargos estratégicos.
- Menos oportunidades de promoção: as mulheres recebem, em média, 20% menos promoções ao longo da carreira em comparação com os homens.
Quais são as raízes desse problema?
As questões de gênero no mercado de trabalho brasileiro remontam a uma história de desigualdade antiga e reforçada durante séculos.
Historicamente, as mulheres foram relegadas a papéis domésticos e de cuidado, enquanto os homens dominavam o mercado de trabalho.
A partir da industrialização no Brasil, no início do século XX, elas começaram a ser incorporadas ao universo profissional, inicialmente em setores como a indústria têxtil e voltados em atividades manuais.
Os primeiros passos relacionados aos direitos trabalhistas das mulheres foram dados a partir da Constituição de 1934, que garantia direitos trabalhistas básicos para as trabalhadoras, como a proibição de diferenças salariais por gênero e proteção ao trabalho feminino.
No entanto, apesar desses avanços legais, as condições de trabalho das mulheres continuaram precárias, com jornadas exaustivas e salários inferiores aos dos homens.
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em 1943 reforçou esses direitos, mas a igualdade efetiva no mercado de trabalho ainda é um desafio.
Afinal, ainda em 2025 temos uma sociedade que perpetua estereótipos de gênero, que reforçam a segregação ocupacional e a desigualdade salarial, limitando as oportunidades de carreira das mulheres.
Essas barreiras históricas e culturais contribuem para que as mulheres sejam mais cautelosas ao se candidatarem a vagas, especialmente quando não atendem a todos os requisitos, porque refletem uma combinação de insegurança, perfeccionismo e consciência de que o mercado ainda é, majoritariamente, ocupado e liderado por homens.
O que as empresas podem fazer para mudar isso?
Para mudar o cenário atual e promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho, as empresas podem adotar diversas estratégias, como:
- Vagas afirmativas;
- Planos de carreira estruturados e desenhados de acordo com a profissional e suas habilidades e competências;
- Treinamentos sobre igualdade de gênero para gestores;
- Garantir uma representação diversa em painéis de entrevista quando não forem vagas exclusivas;
- Manter relatórios de transparência salarial sempre atualizados para atrair talentos mais diversificados.
Além disso, é essencial criar um ambiente de trabalho que combata ativamente os vieses negativos contra as mulheres e incentive sua participação nas decisões importantes da empresa. Isso não só fortalece a inclusão, mas também amplia as perspectivas, promovendo um espaço mais justo e inovador.
Para isso, algumas ações são fundamentais:
- Incluir as mulheres em projetos e decisões estratégicas;
- Avaliar habilidades com base em competências, não em gênero;
- Desconstruir a ideia de que mulheres são frágeis ou guiadas apenas pela emoção;
- Promover mulheres a cargos de liderança ou projetos importantes, focando nas qualificações técnicas da equipe;
- Adotar medidas firmes contra qualquer forma de assédio ou desrespeito.
Criar um ambiente mais igualitário não é só uma questão de justiça — é um passo essencial para o crescimento e a inovação das empresas.
A possibilidade de oferecer flexibilidade no horário de trabalho também pode ser essencial para ajudar algumas mulheres a equilibrarem suas responsabilidades profissionais e pessoais.
Programas de mentoria e capacitação para mulheres em cargos de liderança também são mais uma alternativa para acelerar a ascensão profissional feminina.
As empresas também devem se comprometer com metas ambiciosas de igualdade salarial, representatividade e equidade, currículos, por exemplo, devem ser analisados a partir de competências intrínsecas à posição, não perante o gênero.
Fique de olho aqui e confira mais matérias sobre equidade de gênero e liderança feminina.