Uma pesquisa realizada pela Catho, para a CNN, com mais de cinco mil pessoas em todo o país, mostra um dado expressivo: 42% dos profissionais brasileiros afirmaram que pretendem mudar de carreira em 2025. Essa intenção é ainda mais presente entre pessoas de 26 a 45 anos, consideradas em fases cruciais da trajetória profissional.
Entre os principais motivos citados estão qualidade de vida (42,7%), plano de carreira (41,8%), aumento salarial (41,7%), ambiente de trabalho saudável (31,1%) e novos desafios (29%). Ainda assim, 30% dos entrevistados estão indecisos quanto à mudança, demonstrando o grau de complexidade envolvido nesse tipo de decisão.
Mas o que está por trás desse desejo? Seria uma vontade genuína de buscar novos caminhos ou uma resposta à insatisfação provocada por ambientes de trabalho desgastantes, lideranças ineficientes e culturas organizacionais desalinhadas?
Para responder a essa questão, a Alelo conversou com Elcio Teixeira, CEO da Heach RH, especialista em gestão de pessoas e comportamento organizacional, para entender quais são os fatores que influenciam essa escolha e o papel das empresas, gestores e áreas de RH nesse processo.
Quando a vontade de mudar vem de dentro
“A vontade genuína de mudar de carreira nasce de um processo mais profundo de reflexão, geralmente sustentado por autoconhecimento, reavaliação de propósito, valores e habilidades”, explica Elcio Teixeira.
Segundo ele, esse tipo de movimento é persistente, mesmo quando o ambiente de trabalho é positivo. O profissional sente que sua trajetória atual já não representa quem ele é ou quem deseja ser.
Por outro lado, a insatisfação momentânea geralmente está relacionada a fatores externos e mais pontuais, como uma liderança imatura ou ausente, metas inalcançáveis, falta de reconhecimento ou sentimento de não pertencimento.

“Um bom critério para diferenciar é imaginar o mesmo cargo sendo exercido em outro contexto mais ético, inspirador e equilibrado. Se o desejo de sair ainda persiste, há um chamado mais profundo a ser escutado”, afirma Elcio Teixeira, CEO da Heach RH.
O que mais tira as pessoas de suas áreas
Diversos fatores organizacionais funcionam como gatilhos para o desejo de transição de carreira. Elcio aponta os mais recorrentes:
- Lideranças tóxicas ou omissas, que geram insegurança e desvalorização emocional;
- Falta de desenvolvimento, ausência de trilhas claras de crescimento ou oportunidades de aprendizado;
- Desalinhamento de valores entre o colaborador e a cultura da empresa;
- Ambientes excessivamente competitivos, onde a colaboração dá lugar à rivalidade;
- Cargas excessivas de trabalho que desrespeitam os limites pessoais;
- Falta de reconhecimento, tanto simbólico quanto financeiro;
- E, mais recentemente, a falta de propósito, especialmente entre as novas gerações.
Esses fatores, quando acumulados, comprometem o vínculo entre o profissional e sua carreira. “Ele não questiona apenas onde trabalha, mas com o quê deseja realmente se envolver”, completa Elcio.
A liderança como elo ou ruptura
“A liderança é o principal elo entre o colaborador e a organização”, afirma. “Estudos internacionais reforçam que pessoas não deixam empresas, mas sim gestores”, completa o profissional.
Quando uma liderança inspira, escuta e orienta, ela pode manter o engajamento mesmo em períodos difíceis. Por outro lado, líderes autoritários, ausentes ou emocionalmente instáveis aceleram o desgaste emocional e favorecem a desconexão.
A percepção de carreira, nesse contexto, pode ser contaminada por experiências negativas. “A experiência com a liderança tem o poder de reconectar ou desconectar o indivíduo daquilo que um dia o motivou”, conclui.
Para aprofundar a discussão sobre os impactos da liderança nas relações de trabalho, assista ao episódio do Pod Papo sobre liderança.
Esgotamento não é simples insatisfação
Elcio também explica que o esgotamento profissional é algo mais profundo do que a insatisfação momentânea. É preciso ficar atento a situações como:
- Fadiga constante, mesmo após o descanso;
- Dificuldade de concentração, lapsos de memória e apatia emocional;
- Despersonalização: o profissional começa a tratar os outros com distanciamento e frieza;
- Cinismo e perda de sentido nas atividades;
- Irritabilidade fora do padrão habitual e retraimento social;
- Problemas psicossomáticos, como insônia, dores musculares, enxaquecas e doenças gástricas;
- Perda da autoconfiança e sensação de incapacidade.
Esses sinais indicam que não se trata apenas de um problema organizacional, mas de uma ameaça à saúde integral do indivíduo.
Quando mudar, então?
Na dúvida sobre mudar de carreira ou seguir na mesma área, Elcio recomenda um processo de autoinvestigação, com perguntas como:
- O que me frustra é o conteúdo do meu trabalho ou o contexto em que ele ocorre?
- O que me traz vitalidade e significado hoje?
- Tenho clareza do que desejo ou apenas do que quero evitar?
- Estou disposto a recomeçar, inclusive financeiramente e hierarquicamente?
- Meus valores e habilidades estão sendo aproveitados na função atual?
- Essa decisão está sendo tomada com consciência ou como resposta a uma dor momentânea?
Essas reflexões ajudam a diferenciar fuga de reconstrução.
A cultura organizacional pode afastar talentos
“A cultura organizacional é o ambiente invisível que modela comportamentos, decisões e sentimentos”. Segundo Elcio, quando a cultura naturaliza o medo, a sobrecarga ou a falta de empatia, ela desestrutura a autopercepção do colaborador e o afasta da carreira.
Para reverter esse processo, ele recomenda três frentes:
- Escuta ativa: RHs e lideranças precisam mapear percepções antes que virem decisões irreversíveis.
- Ações de reposicionamento interno: oportunidades reais de transição, desenvolvimento e visibilidade.
- Promoção de diálogo transparente: sobre metas, propósito e reconhecimento.
O desejo de mudança pode ser revertido quando o colaborador percebe que sua dor foi vista e acolhida.
O papel do RH nesse processo
Para Elcio, “o RH precisa assumir um papel menos operacional e mais humanizador”. Algumas das iniciativas mais eficazes incluem:
- Mapeamento de sinais precoces de desengajamento
- Desenvolvimento de políticas de bem-estar emocional
- Promoção de feedbacks frequentes
- Oferta de mentorias e orientação de carreira
- Capacitação das lideranças para uma atuação mais empática
“Mais do que impedir saídas, o RH que acolhe dúvidas ajuda os colaboradores a fazerem escolhas conscientes, e isso, por si só, já fideliza”, conclui.
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O RH pode ser o ponto de virada que seu time precisa
Lideranças ineficientes ou imaturas, desigualdade no mercado de trabalho, falhas na cultura organizacional, políticas de gestão fragilizadas e benefícios corporativos desatualizados são fatores que impactam diretamente a decisão de permanência ou saída de um colaborador.
Especialistas como Elcio Teixeira apontam que o desejo de mudar de carreira pode muitas vezes ser uma resposta a esses problemas institucionais, e não uma vontade genuína de redirecionamento profissional.
Nesse cenário, o RH ganha protagonismo como agente transformador. Com escuta ativa, iniciativas de desenvolvimento e apoio contínuo, é possível restaurar o vínculo entre o profissional e sua trajetória.
Na Alelo, apoiamos a transformação de ambientes corporativos com soluções em benefícios que promovem saúde emocional, qualidade de vida e desenvolvimento profissional.
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