O leite materno é muito mais do que um alimento. Esse líquido poderoso reforça a imunidade do bebê, ajuda o organismo da mãe a se recompor e ainda fortalece o vínculo entre essa dupla.

O corpo feminino é pura perfeição. Depois de nove meses gestando o bebê, ele automaticamente se prepara para garantir todos os nutrientes que o recém-nascido precisa. O aleitamento materno é tão fundamental, que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) dedica um mês todos os anos para incentivar a prática: o Agosto Dourado.

O RH das empresas também pode incentivar essa boa prática. Boas razões não faltam para que a mãe amamente o bebê com exclusividade até os seis meses e como complemento até os dois anos. “O leite materno traz toda a memória imunológica da vida da mãe. O bebê estará protegido dos mais diversos tipos de infecção”, explica Marisa Aprile (SP), pediatra, Consultora Internacional em Lactação e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Logo após o nascimento, a melhor maneira de dar as boas-vindas ao bebê é amamentando o recém-nascido na primeira hora de vida. Essa é uma recomendação da OMS e é fundamental para estabelecer o vínculo entre mãe e filho.

Medo, desconhecimento e falta de informação – não apenas das mães, mas também dos médicos – são os maiores impeditivos para as mães desistirem de alimentar os seus filhos. “Já durante a gestação a mãe deve se preparar para amamentar. A Sociedade de Pediatria recomenda que ela passe por consulta por um pediatra em torno da 32ª semana de gestação, para que tire todas as dúvidas, conheça o seu corpo e se empodere desde já”, completa a pediatra.
Para ajudar as lactantes e futuras mamães, elencamos os principais motivos para amamentar o bebê e ainda dicas para transformar a amamentação em um momento de tranquilidade entre mãe e filho.

Escolha um pediatra pró-amamentação

O primeiro passo para garantir o sucesso do aleitamento começa ainda na gestação. Conhecer o pediatra que acompanhará o seu filho no primeiro ano de vida é uma das melhores maneiras de garantir esse apoio. “Busque um pediatra alinhado com as suas expectativas. Pesquise, converse com outras mães e, se necessário, consulte quem são os profissionais que fazem parte do comitê de aleitamento da Sociedade de Pediatria”, recomenda a pediatra Marisa Aprile. A medida evita surpresas e correria com o recém-nascido, já que tudo o que a lactante precisa é de segurança e tranquilidade. As consultoras de amamentação também oferecem suporte para este momento e podem acompanhar as mães desde a gravidez.

A mama já está pronta para amamentar

Esfregar os seios com uma bucha, puxar o bico – são dicas ultrapassadas e incorretas. “Essas recomendações já caíram por terra. A mama já está naturalmente pronta para alimentar o bebê. Uma conversa ainda na gestação ajuda a acabar com esses mitos e deixar a mãe mais segura”, recomenda. Eventuais barreiras são mais facilmente transpostas após o nascimento, segundo Marisa. “Dizer para uma mãe que ela tem o bico invertido pode desestimular a amamentação, por exemplo. Com o efeito dos hormônios, os tecidos estão mais cheios de leite, mais elásticos e muito mais fácil de manusear e corrigir eventuais problemas”, complementa.

Acerte a pega logo no início

A postura da mãe é o primeiro ponto a ser observado. Sente-se confortavelmente, relaxe e se entregue ao momento. “O bebê deve estar bem próximo da mãe, o queixo vai encostar na mama, o nariz fica liberado, os lábios ficam para fora, como uma boquinha de peixe”, descreve a médica. Quando o bebê busca o peito (sem que a mãe leve o peito até a boca do bebê), os lábios do bebê ficam pra fora e isso ajuda na “pega”. Também é muito importante que a mãe não sinta dor na mamada. “Se houver algum desconforto durante a sucção, é sinal de que algo está errado”, alerta. A amamentação também não deve ser barulhenta, então estalos e outros ruídos devem ser investigados com ajuda de uma consultora.

A mãe deve tomar bastante líquido

Para dar conta de alimentar o seu bebê, a lactante precisa ter em mente que é a sua ingestão de alimentos que também o atenderá. Assim, para produzir o leite materno em boa quantidade, é importante aumentar a ingestão de líquidos. “Se ela tem um bebê dependendo do leite dela, é preciso aumentar a ingestão de água em pelo menos um litro, que pode ser complementado com outros líquidos, como chás e sucos. O chá de erva-doce ajuda na produção de leite”, recomenda Marisa.

Nutrientes que ajudam a mãe e o bebê

As boas gorduras ajudam a deixar o leite ainda mais potente e repleto de nutrientes para os bebês. E a maneira de garantir esse aporte é a mãe cuidando da sua própria alimentação. “O leite maduro varia de 700 a 1000 kcal por litro e isso depende da alimentação da lactante”, explica a pediatra. Peixes, como salmão e pintado, e oleaginosas, como castanha de caju, castanha do pará, são boas apostas para o cardápio materno. “As mães vegetarianas podem apostar nos grãos, como soja, milho, canjica. Regar a comida com azeite também é uma boa maneira de melhorar essa ingestão”, recomenda.

Leite de vaca pode trazer desconforto

“O único alimento que tem comprovação cientifica que pode trazer problemas ou gerar desconforto é o leite de vaca”, alerta a pediatra, mas ainda assim não é regra. É preciso observar as reações e, em caso de cólica ou sangue nas fezes, o ideal é buscar orientação médica. Algumas mães relatam desconforto com a ingestão de certos alimentos, como alho, pepino, chocolate, entre outros. Porém, nestes casos, a recomendação é sempre observar caso a caso. “Se algum alimento que a mãe ingere traz desconforto para o bebê, o ideal é suspender. O ideal é observar se o desconforto se repete”, completa.

O leite empedrou, e agora?

O leite empedra em duas situações: quando a mãe produz em excesso ou quando a criança não consegue retirar o leite da mama por algum motivo. “Massagem e extração do leite, que pode ser manual ou com uma bombinha, ajuda a aliviar as mamas”, explica a pediatra. Em geral, pode ser um quadro presente após a descida do leite, o que acontece alguns dias após o parto. Para aliviar, use a palma das mãos para massagear as mamas e retirar o excesso. “Se a mãe estiver prestes a voltar a trabalhar, pode armazenar o excedente. Se não for o caso, vale doar ao banco de leite mais próximo”, indica Marisa. A restrição de mamadas também pode ocasionar o empedramento. “A livre demanda não é só para o bebê, mas também para aliviar a mãe. Ninguém melhor do que o bebê para sugar esse leite”, recomenda Tatiana.

Amamentar não precisa machucar

“As feridas mamarias não necessariamente tem que acontecer, como muitas mulheres acreditam, mas é uma queixa comum”, explica a pediatra. Para curar a fissura, o ideal é retirar o fator causal – seja uma pega incorreta ou até mesmo investigar se há alguma questão oral, como o freio lingual curto (a famosa língua presa). Segundo a pediatra Marisa Aprile, esvaziar a área da aréola do mamilo com as mãos ajuda a melhorar a pega e deixa o bebê mais confortável. “Quando a mama está ferida, o ideal é deixar o local arejado e seco”, recomenda.

Chupeta só atrapalha a amamentação

Bicos artificiais, como chupeta e mamadeira, são inimigos da boa amamentação. Isso porque o uso prolongado pode causar a chamada “confusão de bicos” e fazer com que o bebê passe a rejeitar o peito. “A mamadeira faz com que o leite seja liberado com mais facilidade, então o bebê não precisa fazer todo o movimento oral para sugar”, explica a pediatra. A Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria não recomendam o uso, já que o desmame precoce já foi comprovado cientificamente.

Doe leite materno para quem precisa

É sempre recomendado que o leite excedente não fique parado no peito, já que pode ser uma fonte de infecção. Uma boa forma de ajudar outros bebês que nasceram pré-maturos ou não podem ser amamentados pela mãe por outra razão, é doando o excedente para o banco de leite mais próximo. “É importante ressaltar que a mãe pode fazer um cadastro por telefone e os bancos retiram esse leite na residência, ela não precisa se preocupar em levar até o hospital”, alerta a pediatra. Para fazer a extração com esta finalidade, é importante seguir as recomendações de higiene indicadas e esterilizar o vidro. “A doadora recebe todas as orientações do banco de leite. Cada gota é importante, já que alguns bebês pré-maturos recebem apenas algumas gotas de leite materno por dia”, finaliza a pediatra.

 

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