Necessidade de compreensão e acolhimento, redução da sensação de solidão, ajuda na organização dos pensamentos, alívio no sofrimento e busca por orientação são apenas alguns dos muitos e complexos motivos que fazem com que alguém procure por apoio emocional.
Mas se antes essa procura por suporte e acolhimento era feita exclusivamente por meio de uma relação humana, seja com um familiar, amigo ou profissional da área de saúde mental, os tempos mudaram e o amparo pode ser conseguido de outras maneiras que não envolvam na escuta alguém de carne e osso (e empatia).
Seja para desabafar sobre as questões que afetam o bem-estar psicológico ou mesmo como uma forma de incentivo e orientação emocional, tem se tornado cada vez mais comum o uso de ferramentas de Inteligência Artificial como suporte para enfrentamento de desafios relacionados às emoções.
Chatbots terapêuticos, como Woebot e MindDoc, oferecem apoio 24 horas por dia, 7 dias por semana, ajudam a gerenciar emoções, sugerem práticas de autocuidado e até identificam sinais precoces de estresse ou depressão. Mesmo IAs generativas como o ChatGPT também têm desempenhado esse papel de conselheiro.
Um estudo global da empresa de dados e consultoria Kantar Profiles, com mais de 10 mil pessoas entrevistadas em 10 países, inclusive no Brasil, revela que 54% delas já usaram IA para pelo menos um propósito de bem-estar emocional ou mental.
Outros dados apresentados são:
- 29% dos entrevistados usou a IA para coaching pessoal ou motivação;
- 25% usou para apoio ao bem-estar mental;
- Entre os entrevistados da Geração Z, 35% já usaram IA para apoio emocional. Entre os Millennials, 30%;
- Em comparação, apenas 14% da Geração X e 7% dos Baby Boomers recorreram aos robôs com essa finalidade;
- 41% disseram que se sentiram um pouco ou muito confortáveis ao discutir detalhes pessoais ou emocionais com uma ferramenta;
- 60% das pessoas concordam que a IA não possui empatia humana.
Em um momento em que o bem-estar e a saúde mental corporativa são amplamente discutidos como demandas legítimas, e que são analisados comportamentos como os vícios em apostas online e a “adoção” dos bebês reborns, o que essa tendência da relação entre humanos e máquinas pode revelar aos times de Recursos Humanos?
Para construir essa análise, convidamos para um bate-papo Daniela Bauab, consultora de RH, fundadora da consultoria IQONES e integrante do comitê do CONARH 2025.
Bora lá?
Apoio emocional na IA: buscar ajuda humana é difícil?
Esse aumento observado na procura por apoio emocional em ferramentas de Inteligência Artificial revela primeiramente a maior acessibilidade diária a ferramentas de IA, potencializada pelas travas que muitas pessoas sentem no momento de recorrer a outro ser humano para desabafar sobre os percalços da vida.
“Atribuo esse crescimento ao reflexo de dois movimentos simultâneos: por um lado, a crescente familiaridade das pessoas em usar e conversar com tecnologias, que oferecem disponibilidade e resposta imediata, sem julgamento e com um certo grau de anonimato. Por outro, a persistência de barreiras culturais e emocionais para procurar ajuda humana”, analisa Daniela Bauab.
Ela avalia que, para muitas pessoas, falar com um assistente virtual pode ser mais seguro do que expor vulnerabilidades a um gestor ou a um colega, especialmente em culturas organizacionais que ainda associam fragilidade emocional a menor competência profissional.
“Ou seja, sim, essa tendência pode ser vista como um sintoma da tecnologia estar sendo escolhida não apenas pela conveniência, mas porque, em alguns ambientes, pedir ajuda ainda carrega um custo social alto”.
Estigmas na procura por apoio: o que isso revela sobre a cultura?
No momento de procurar apoio psicológico presencial ou humano dentro das empresas, muitas pessoas preferem deixar de lado o acolhimento para não encarar possíveis estigmas que podem inclusive prejudicá-las profissionalmente.
As barreiras vão desde o medo de exposição e julgamento até a falta de confiança no sigilo do processo. Ainda existe o receio de que procurar apoio psicológico no trabalho possa gerar rótulos e influenciar decisões de carreira.
“Outro obstáculo é a forma como a saúde mental é tratada em algumas empresas. Enquanto ainda for abordada como pauta pontual e reativa e não como parte integrante da cultura e do papel da liderança, mais difícil será criar um espaço verdadeiramente seguro para que os profissionais expressem vulnerabilidades sem receio de consequências”, alerta Daniela.
A contribuição da IA aos programas de bem-estar nas empresas
Um primeiro ponto de contato para o cuidado emocional: esse é o modo como chatbots terapêuticos e assistentes virtuais devem ser trabalhados no contexto de apoio psicológico no ambiente organizacional.
Ou seja, essas plataformas de Inteligência Artificial em um cenário de apoio emocional não precisam ser demonizadas. Elas podem servir perfeitamente como um recurso complementar, oferecendo acolhimento, orientação inicial e suporte contínuo, sem substituir a atenção de profissionais capacitados.
Se a ferramenta for bem desenhada, explica a fundadora da IQONES, pode identificar sinais de sobrecarga, fadiga, insatisfação ou queda de engajamento e direcionar para ações adequadas.

“Para funcionar sem invadir a privacidade ou gerar desconfiança, é fundamental ter transparência sobre quais dados serão coletados e para que serão usados, ter o consentimento do usuário, dar a garantia de anonimato das informações e de como elas serão tratadas, além de enfatizar na comunicação que a ferramenta será um recurso complementar – e não um substituto – de apoio humano”, enfatiza Daniela Bauab.
O uso da IA no bem-estar corporativo vai evoluir?
A utilização das ferramentas tecnológicas como suporte no bem-estar corporativo deve se tornar um caminho sem volta. Por isso, cabe ao RH e gestores entenderem a maneira mais “humana”, ética e transparente de incorporar isso na cultura da empresa.
Daniela Bauab avalia que desde já a IA faz ainda mais sentido dentro de uma estratégia de Employee Experience, proporcionando a personalização de ações de saúde mental, monitoração do clima e o oferecimento de recursos sob demanda por meio de detecção de comportamentos.
“Esta análise preditiva ajudará a empresa a se antecipar a crises individuais ou coletivas e a promover programas preventivos. Sempre em complemento ao apoio humano”, completa.
A saúde mental e a utilização da Inteligência Artificial no ambiente corporativo são temas que estarão presentes em diversos palcos do CONARH 2025, maior evento de gestão de pessoas da América Latina e que tem data e local marcado para acontecer: 19, 20 e 21 de agosto, São Paulo Expo.
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