“Todos estão preocupados com o que vem depois de amanhã: emprego, liderar as equipes, mergulhar nessa nova fase do mundo e trazer as pessoas para o mesmo lugar”.
Foi assim que a jornalista, empresária e apresentadora de TV, Ana Paula Padrão, abriu sua palestra “Manual da mudança em cinco regras: porque o futuro será feminino”, na tarde do segundo dia do CONARH 2025.
A mudança, disse Ana Paula, é fonte de angústia para todos nós. Mas, como administrar esse sentimento e transformá-lo em potência?
Entre memórias pessoais, reflexões sobre neurociência e críticas às estruturas sociais, a palestrante apresentou seu manual em cinco regras para enfrentar a transformação – um guia que coloca o protagonismo nas mãos de cada indivíduo, especialmente das mulheres.
Já anota aí!
Regra 1: sonhar com planejamento
Desde criança, Ana Paula aprendeu a sonhar – mas também a planejar. “Sonhar treina o seu cérebro para a realidade, mas se não planejar, está sendo sonhador ingênuo”, afirmou.
Diagnosticada com epilepsia aos seis anos de idade, viveu uma infância frágil, com convulsões e fazendo uso de fortes medicações com efeitos colaterais. Foi o balé, recomendado por médicos, que a ajudou a desenvolver o controle motor.
“Os médicos do Hospital de Base de Brasília recomendaram uma atividade física rigorosa para controle motor”, contou. Já que ela não tinha essa capacidade desenvolvida, não conseguia, por exemplo, amarrar o sapato sozinha.
Ana Paula recordou que sonhava em deixar Brasília – cidade onde nasceu – conhecer o mundo e se tornar jornalista, mas sabia que não bastava sonhar.
O planejamento foi necessário, fazendo a faculdade de jornalismo na Universidade de Brasília, trabalhando em rádios e TVs locais, e buscando emprego onde queria estar.
Para reforçar esse ponto, recomendou três leituras que mostram como é possível programar o próprio cérebro:
- “Positiva-mente”, de Catarina Rivero e Helena Águeda Marujo;
- “Uma viagem pelo cérebro”, de Carla Tieppo;
- “Seja quem você quiser”, de Christian Jarrett.
“Eu me transformei naquilo que eu queria ser, programando meu cérebro”, resumiu.

Regra 2: um ‘não’ nem sempre é o que parece
Ana Paula Padrão relembrou a vez em que tentava uma vaga de emprego em uma emissora de TV, e ouviu da recrutadora que ela nunca teria futuro na televisão. Na época, ela já trabalhava na TV Brasília, mas queria algo de abrangência nacional.
Em vez de desistir, seguiu trabalhando até que uma outra oportunidade surgiu. Uma pessoa da TV Globo viu o trabalho dela e a chamou para trabalhar na emissora, inicialmente, no jornalismo local. “Um não é só um indicativo de um não para aquele caminho, não é definitivo”, disse.
Dessa maneira, Ana Paula deu um recado direto: o cérebro, por instinto de sobrevivência, tenta nos poupar do gasto de energia e nos empurra a desistir diante de obstáculos, cabendo a cada um contrariar essa tendência e insistir nos próprios objetivos.
Regra 3: para mudar, entregue-se ao incômodo
Para explicar sua decisão de abandonar a bancada do Jornal da Globo após 28 anos no jornalismo, Ana Paula revelou: “A regra mais importante da mudança é que para mudar, precisa incomodar, doer, arder, provocar em você o desejo de sair dali porque não está bom, está chato, está doendo”.
Apesar do sucesso na carreira, sentia falta de vida pessoal, não havia tido filhos e enfrentava um casamento difícil. Ela contou que alimentou o incômodo até compreender que não queria envelhecer “casada com a bancada”.
Seguiu para novos desafios: o entretenimento no “Masterchef Brasil”, onde permaneceu por 10 anos, e a criação da empresa “Tempo de Mulher”, dedicada a discutir o papel feminino na sociedade e no mercado de trabalho. “Conforto demais impede a mudança”, enfatizou.
Nesse momento da palestra, ela recomendou a todos que alimentem seus incômodos para que eles cresçam e possam ter clareza do que realmente incomoda.
“Acorda e olha para o incômodo. Faz ele crescer, dê recursos para que ele se mostre. Você pode estar incomodado com a área, o tipo de trabalho que está fazendo, a cidade onde mora, o casamento, uma característica da sua personalidade. Eu fiz isso muitas vezes: alimentar o incômodo.”
Ela contou ainda que, por duas vezes, percebeu que podia mudar. “A primeira vez quando saí de Brasília e depois, mudar de profissão”.
Regra 4: sem autoconhecimento, todas as escolhas são ruins
Para fazer escolhas acertadas, o autoconhecimento é indispensável. “A gente precisa se conhecer, e essa também é uma qualidade feminina”, garantiu.
Ana Paula defendeu que a capacidade das mulheres de pensar com a cabeça do outro e de resolver situações complexas será cada vez mais valorizada. O futuro do trabalho está associado às soft skills – muitas delas desenvolvidas historicamente pelas mulheres para sobreviver em um mundo hostil.
Ela exemplificou como o mundo corporativo foi projetado para homens: ar-condicionado regulado para o metabolismo masculino, EPIs (equipamentos de segurança) que não servem no corpo feminino, cintos de segurança nos carros que não são planejados para o corpo da mulher.

“O mundo não é confortável para nós mulheres. Mas desenvolvemos qualidades para lidar com isso, e hoje essas qualidades são valorizadas.”
Regra 5: persiga a coerência, ela sempre vence
A última regra é a que costura todas as outras. “Dê um instrumento para a pessoa, que ela muda o futuro dela. A coerência sempre vence”.
Ela reforça: “Conforto demais impede a mudança.”. Se algo incomoda, ela indica as seguintes perguntas:
- Onde quero estar daqui a 10 anos?
- Qual será meu legado?
- Como unir propósito e negócio?
- Quero ensinar ou continuar aprendendo?
“Não é sobre se atirar de qualquer forma, é fazer a mudança com planejamento”, argumentou Ana Paula Padrão.
O futuro será feminino
Ao encerrar, a jornalista foi categórica: “Tenho certeza de que o futuro é feminino, é das mulheres que estão sentadas na plateia”.
Ela reconheceu que a mudança é difícil, sobretudo diante dos vieses de gênero, mas reforçou que é possível – e necessário – enfrentá-la com planejamento, coragem, autoconhecimento e coerência.
“Qualquer um na plateia pode ser aquilo que deseja ser”, disse. O manual está escrito. Agora, cabe a cada um escolher viver a própria mudança.
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