Dados divulgados pelo Serasa Experian revelam que no primeiro semestre de 2024, 1.014 pedidos de recuperação judicial foram efetuados, mas por que isso é uma preocupação?
Comparando com o mesmo período de 2023, houve um aumento de 71,0% desse número, e esses dados demonstram algumas tendências sobre o mercado brasileiro.
Bora entender quais são elas?
Entendendo o cenário
O aumento dos pedidos de recuperação judicial reflete um cenário desafiador para as empresas brasileiras, independentemente do porte.
Afinal, este é o número mais elevado para o período desde o início da coleta desses dados, em 2005.
E quais são as principais tendências que eles indicam?
Ao analisar o estudo do Serasa, há algumas características comuns que a maioria das empresas que entraram com pedidos de recuperação judicial compartilham, como:
- Setor: o líder da lista, com o maior número de pedidos, é o de serviços, seguido pelo comércio, indústria e pelo setor primário.
- Perfil: as micro e pequenas empresas foram as mais impactadas, com 713 dos 1.014 pedidos registrados, seguidas pelas médias (207) e grandes empresas (94).
- Estimativas: em julho de 2024, foram registrados 228 pedidos, o maior número do ano até então, representando um aumento de 123,5% em relação a julho de 2023 e, mensalmente, foi possível observar um crescimento linear dos pedidos de recuperação.
Quais os principais motivadores para esse aumento?
Taxas de juros
Os juros praticados atualmente são um dos principais fatores de impacto no valor do crédito para as empresas.
Taxas mais elevadas tornam os empréstimos e financiamentos mais caros, o que pode acabar dificultando o acesso ao capital necessário para investimentos e expansão dos negócios ou para o enfrentamento de crises.
E isso acontece porque o aumento do custo de capital eleva as despesas financeiras das empresas, reduzindo suas margens de lucro e desacelerando o crescimento.
Inadimplência
Dados do Serasa, de maio de 2024, revelam que 6,9 milhões de CNPJs apresentavam registros de débitos, e a tendência é de que, até o momento, este número tenha aumentado.
O alto índice de empresas inadimplentes pode ser entendido como um reflexo das dificuldades enfrentadas em relação aos compromissos financeiros.
E, a persistência desse cenário pode levar a um ciclo, em que as empresas inadimplentes têm ainda mais dificuldade em obter crédito, comprometendo possibilidades de investimento, crescimento e capacidade de passar por períodos de crise.
Dinâmica inflacionária
Variações na inflação têm efeitos diretos sobre o poder aquisitivo e o consumo.
Quando a inflação sobe, os preços de bens e serviços aumentam e, muitas vezes, os salários dos consumidores não acompanham essa variação.
O que reduz o poder de compra da população, fazendo com que essas pessoas precisem priorizar gastos essenciais, adiando gastos secundários, impactando negativamente setores como o varejo e a prestação de serviços.
Ambiente econômico
O contexto econômico atual tem levado empresas a considerarem diferentes estratégias de reorganização financeira.
Entre os responsáveis por isso, podemos citar as altas taxas de juros, inflação persistente e incertezas no cenário global, influenciadas pela escassez de matéria-prima, questões climáticas e conflitos políticos e sociais.
Por isso, diante deste cenário, que não é exclusivamente brasileiro, as empresas precisam trabalhar para se adaptar e superar desafios financeiros, buscando alternativas para reduzir custos, aumentar a eficiência e manter a competitividade.
Perspectivas
Para que os pedidos de recuperação judicial diminuam, o primeiro passo é reverter a tendência de inadimplência, que é um dos principais motivadores para esses requerimentos.
O economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, prevê que 2024 pode superar o patamar de insolvência de 2016, que até então era considerado o auge dos pedidos de apoio legal para reorganizar as finanças corporativas.
Em resposta a essa situação, o governo federal lançou iniciativas como o Programa Acredita, com o objetivo de apoiar os pequenos empreendedores a partir de medidas de estímulo e facilitação de crédito para os negócios.
Além disso, foi anunciado um programa de renegociação de dívidas para microempreendedores individuais (MEIs), microempresas e empresas de pequeno porte, apelidado de “Desenrola”.
Essas medidas buscam aliviar a pressão financeira sobre as empresas brasileiras e estimular a recuperação econômica.
Existe mais um desafio nesse cenário
Embora fatores externos, como a economia nacional e global e as mudanças no mercado possam contribuir para dificuldades financeiras, existe outro fator extremamente sensível que também é responsável pelo aumento no número de pedidos de recuperação judicial: a gestão ineficaz de pessoas e recursos.
Decisões equivocadas, como gastos excessivos, falta de planejamento estratégico, má administração do fluxo de caixa, problemas de clima interno e alta taxa de turnover, podem levar empresas a situações insustentáveis.
A ausência de controles financeiros adequados, auditorias periódicas e revisões constantes dos planos de negócios aumentam a vulnerabilidade das organizações.
Muitas vezes, gestores e empresários se mostram relutantes em reconhecer problemas operacionais, atribuindo as dificuldades principalmente a fatores externos como altas taxas de juros, mas nem sempre ele é o vilão.
Em alguns casos, o negócio começa a apresentar resultados negativos antes mesmo de afetar o capital.
E, esta negação pode impedir a implementação de medidas corretivas precoces, agravando a situação financeira e tornando a recuperação judicial inevitável.
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