Uma sociedade é definida por um conjunto diverso de fatores, mas podemos dizer que a cultura é um dos seus maiores patrimônios. É através dela que um povo cria a sua identidade, preserva a própria história e perpetua valores. Sendo assim, o ideal é que suas manifestações tenham o máximo de acessibilidade, não é mesmo? 

Tornar um ambiente acessível, como museus ou estádios, é uma medida que garante igualdade e é o princípio de respeito aos direitos humanos. Mas infelizmente, a acessibilidade cultural ainda é um desafio com muitas barreiras a serem superadas no Brasil.  

Nós conversamos com a artista plástica, educadora e especialista em acessibilidade cultural, Marina Baffini Castro, para entender sobre o tema. Ela também é fundadora da “Inclua-me”, que desenvolve projetos de adaptações para obras de arte e exposições para pessoas com deficiência. 

Acessibilidade no Brasil 

Antes de entender os desafios na área da cultura, é necessário compreender as barreiras de modo geral. Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país conta com 18,6 milhões de pessoas com deficiência. 

Essa pesquisa também buscou levantar as dificuldades na realização dos mais diversos tipos de atividades funcionais. As mais declaradas foram: 

  • andar ou subir degraus;
  • enxergar, mesmo usando óculos ou lente de contato;
  • aprender, lembrar-se das coisas ou concentrar-se; 
  • pegar objetos; 
  • ouvir, mesmo usando aparelhos auditivos;
  • realizar cuidados pessoais; 
  • comunicar-se.

O IBGE também revelou a dificuldade de acessibilidade na educação. A taxa de analfabetismo em pessoas com deficiência é de 19,5%, enquanto as sem deficiência é de 4,1%. Além disso, 63,3% não têm instrução ou possuem o fundamental incompleto. 

Apenas 29,2% estavam empregadas e o rendimento é 30% menor do que a média nacional.

Os desafios na busca pela acessibilidade cultural
Marina Baffini Castro – Foto: Linkedin

Inclua-me 

A Inclua-me nasceu há 10 anos com o intuito de trazer uma novidade que se refere às adaptações táteis de imagens bidimensionais. 

“Eu sou artista plástica e estava insatisfeita com o que havia de materiais no mercado, então decidi criar uma nova metodologia para traduzir a imagem bidimensional para uma apreciação tátil realista, de modo que pudesse facilitar a compreensão das pessoas cegas e com baixa visão, utilizando texturas que remetem ao objeto real que a imagem representa”, afirmou Marina. 

Posteriormente, ela relatou que percebeu que as exposições necessitavam de outros recursos além das peças táteis e iniciou produções com audioguia, videolibras, maquetes táteis, escrita alternativa, materiais lúdico-educativos, mapas e piso tátil, entre outros produtos. 

Hoje a Inclua-me atua com arquitetos, designers, artistas e consultores de projetos de acessibilidade e na venda de recursos para que os eventos culturais sejam apreciados por qualquer pessoa. 

Os desafios na busca pela acessibilidade cultural

A arte e a acessibilidade 

Para Marina Baffini Castro, o principal desafio envolvendo a acessibilidade cultural é o conhecimento. De acordo com ela, muitos gestores desconhecem os recursos que podem promover maior inclusão.

“Outro problema causado pela falta de informação é que as pessoas geralmente não consultam um especialista antes de inscreverem seus projetos em lei de incentivo, por exemplo. Aí, quando ocorre a aprovação, o valor previsto está aquém do necessário ou foram considerados recursos que não são tão fundamentais quanto outros que teriam muito mais potência para aquele evento”, explicou. 

Pode parecer óbvio, mas para superar essas barreiras é fundamental ter a participação das pessoas com deficiência nos espaços culturais, seja como consultores ou colaboradores, além, é claro, dos visitantes. 

O gestor de um evento cultural deve ficar atento ao ambiente e na questão da mobilidade. Outra medida importante é a figura dos monitores, que seriam pessoas com conhecimento sobre práticas de acessibilidade e que podem orientar ou conduzir as pessoas com deficiência nos projetos culturais. 

Consultorias são essenciais para se manter atualizado sobre novas necessidades, além de separar uma parte da verba do projeto para os recursos de acessibilidade. É necessário que isso seja algo constante, pois há sempre a necessidade de manutenção e novas demandas. 

“O papel da arte e da cultura é essencial na promoção da acessibilidade e da inclusão. Quando os espaços culturais oferecem recursos e adaptações que possibilitam às pessoas com deficiência uma rica experiência estética em suas exposições, estão promovendo a equidade e isso favorece a criação de uma sociedade mais igualitária”, finalizou Marina. 

Além das ferramentas de acessibilidade, há também a necessidade de estimular a participação desse público. Por isso, tenha uma divulgação orientada para a pessoa com deficiência, mostrando que realmente há uma preocupação com a participação dela e que não está apenas cumprindo um requisito. 

Como vimos, a acessibilidade é um fator importante na cultura, mas também em outras áreas. Você pode conferir aqui como adaptar o seu negócio para também garantir maior inclusão na sua empresa. 

Movimento Mais Acessibilidade 

Com patrocínio da Alelo, o projeto Movimento Mais Acessibilidade está transformando os teatros em espaços 100% acessíveis para todos os públicos. 

A Brain+ é a responsável pelo projeto e administra o Teatro Claro MAIS. Desde que o Movimento Mais Acessibilidade foi lançado, a programação conta com 100% de acessibilidade em comunicação. Esses recursos incluem intérprete de libras, legendas e audiodescrição. 

O objetivo é que todos possam usufruir ao máximo da experiência dentro da arena, além de despertar a consciência da sociedade sobre o tema, colaborando para a discussão de políticas públicas e iniciativas privadas sobre inclusão e acessibilidade. 

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