Nos momentos da vida em que a saúde mental é impactada e o equilíbrio emocional fica desajustado, além da necessidade de auxílio psicológico profissional, uma alternativa interessante é criar uma rotina de prática de atividades físicas. 

Colocar os músculos em movimento e buscar metas esportivas dão aquele gás no dia a dia e podem, inclusive, ajudar no desempenho profissional, tornando a pessoa mais proativa e disciplinada no ambiente de trabalho.

Para entender melhor a importância de cuidar da saúde mental e como ela pode se apoiar no esporte para um melhor equilíbrio emocional, ouvimos dois profissionais da psicologia: Fatima Macedo, especialista em Psicologia da Saúde Ocupacional e Terapia Cognitivo-Comportamental, e Alexander Bez, especialista em ansiedade e síndrome do pânico. 

Bora saber mais sobre essa relação?

O que é equilíbrio emocional?

Gerenciar as próprias emoções de maneira saudável e eficaz, mantendo a estabilidade em situações desafiadoras, é o modo como o equilíbrio emocional pode ser entendido.

Mas para a psicóloga Fatima Macedo, isso pode ser resumido com uma palavra: autoconhecimento.

Como essa capacidade não é de nascença, ela precisa ser desenvolvida pelas pessoas em algum momento da vida, e quanto antes melhor. 

A prática esportiva na busca pelo equilíbrio emocional
Fatima Macedo, especialista em Psicologia da Saúde Ocupacional e Terapia Cognitivo-Comportamental

“Uma pessoa emocionalmente equilibrada demonstra uma boa percepção de si mesma, tem autoconsciência, controle emocional e empatia, além de ser capaz de adaptar-se às mudanças e lidar com o estresse de forma eficaz”, analisa Fatima.

Para promover esse equilíbrio, atitudes importantes incluem:

  • Prática regular de autocuidado;
  • Estabelecimento de limites claros;
  • Busca de apoio social;
  • Adoção de hábitos saudáveis, para o corpo e para a mente.

“Por outro lado, comportamentos como: procrastinação, negligência das próprias necessidades, dificuldade em falar não e em pedir ajuda, podem comprometer o equilíbrio emocional”, afirma a psicóloga. 

Por que ter equilíbrio emocional é importante para o desempenho profissional? 

O gerenciamento das emoções feito de modo consciente, o famoso “estar com a cabeça no lugar”, é importante em múltiplos contextos da vida, como nos relacionamentos amorosos e no convívio com amigos e familiares. 

No dia a dia do trabalho, também é preciso ter um emocional equilibrado. Isso permite que as pessoas tenham relações mais saudáveis no trabalho com colegas e lideranças, contribuindo para um clima organizacional mais colaborativo e um ambiente profissional menos tóxico.

“Profissionais equilibrados emocionalmente são capazes de tomar decisões mais assertivas, comunicar-se de forma eficaz e resolver conflitos de maneira construtiva. Esse equilíbrio também diminui o risco de esgotamento e aumenta a capacidade de lidar com pressões e prazos apertados, promovendo um desempenho sustentável a longo prazo”, ressalta a psicóloga Fatima Macedo. 

A prática esportiva na busca pelo equilíbrio emocional

Qual o impacto de problemas como estresse, depressão e burnout nas atividades profissionais?

Ansiedade excessiva, estresse, depressão e síndrome de burnout – o esgotamento profissional – são quadros psicológicos muito comuns hoje em dia no ambiente de trabalho. 

O burnout, por exemplo, atinge um a cada três trabalhadores brasileiros em um patamar de 32,5%.

Segundo pesquisa da FEEx, empresa voltada a soluções para Recursos Humanos, trata-se da soma entre 18,9% que reclamam de excesso de estresse e outros 13,6% que já atingiram o esgotamento.  

Essas condições mentais conseguem incapacitar de maneira profunda quem padece delas, podendo reduzir a capacidade de concentração e a tomada de decisão, aumentar a irritabilidade e a falta de paciência, além de prejudicar o relacionamento no ambiente de trabalho. 

“A produtividade tende a cair e a qualidade do trabalho pode ser comprometida. O estresse crônico pode levar ao esgotamento físico e mental, dificultando a realização das tarefas mais simples e aumentando o risco de erros”, diz a profissional

“A depressão pode causar sentimentos de desesperança e desmotivação. O burnout resulta em uma sensação de exaustão extrema e despersonalização, afetando profundamente o desempenho profissional”, complementa Fatima.

Como equilibrar o emocional para o melhor desempenho profissional?

Os desafios diários são muitos e desempenhar bem os afazeres profissionais é mais uma das batalhas que precisamos lidar.

Mas como administrar trabalho com família e outros compromissos sem cair em exaustão mental? 

Fatima Macedo explica que conseguir esse equilíbrio requer uma abordagem holística que inclui diversas estratégias.

Ela conta que trabalha com o conceito de “Caixa de Primeiros Socorros Emocionais”, em que hobbies, lazer, terapia e atividades de autoconhecimento devem estar presentes, alinhado às preferências e necessidades individuais. 

“Por isso o autoconhecimento é tão importante! A terapia pode ajudar as pessoas a se conhecerem melhor, a compreenderem e gerirem suas emoções, proporcionando ferramentas para lidar com o estresse e os desafios do dia a dia”, explica.

Ela também destaca a prática esportiva como benéfica, uma vez que colocar o corpo em movimento libera endorfinas que promovem a sensação de bem-estar, reduz o estresse e melhora a qualidade do sono.

“Além disso, o exercício físico regular aumenta as resistências física e mental, contribuindo para uma melhor gestão das demandas profissionais”, conta.

A prática esportiva na busca pelo equilíbrio emocional

Qual a relação entre atividade física e equilíbrio emocional?

A relação entre os benefícios da atividade física e o equilíbrio emocional é profunda e com inúmeros aspectos.

Ao proporcionar uma poderosa dose de bem-estar, o exercício físico cria uma sensação contínua de prazer e contentamento.

Outro benefício proporcionado é a interação social, seja em academias, na prática de um jogo coletivo ou em outros lugares que também tenham pessoas fazendo algum esporte.

“O hábito de praticar esportes é moldado pela associação mente-corpo que ocorre durante o exercício. Essa interação fortalece não apenas nosso físico, mas também nossas eventuais deficiências psicológicas, ampliando assim nossa saúde mental e proporcionando um maior equilíbrio emocional”, define o psicólogo Alexander Bez.

Alexander Bez, especialista em ansiedade e síndrome do pânico.
Alexander Bez, especialista em ansiedade e síndrome do pânico.

Exercícios físicos promovem:

  • Aumento da autoestima;
  • Redução do estresse;
  • Maior controle da ansiedade;
  • Melhor gestão da depressão. 

“Embora o exercício não seja uma cura definitiva para essas condições, ele certamente desempenha um papel fundamental no seu controle”, explica o psicólogo, que chama atenção ainda para a importância do sono de qualidade e da alimentação saudável nessa regulação. 

O papel da terapia psicológica para a saúde mental

O profissional explica, ainda, que o exercício físico por si só não faz milagre à saúde mental.

O esporte não é substituto da terapia, mas sim um coadjuvante nesse cenário, e que para resultados mais significativos é preciso buscar ajuda de um profissional da psicologia. 

“Embora a atividade física possa oferecer benefícios terapêuticos, ela não tem o mesmo efeito psicoterapêutico das sessões de psicologia ou psicanálise. O exercício pode melhorar os sintomas superficiais, mas não aborda a causa raiz do problema. Para encontrar respostas e soluções mais profundas, é essencial buscar terapia psicológica”, argumenta. 

Quais quadros psicológicos o exercício físico consegue regular?

Alexander Bez diz que o exercício físico tem demonstrado ser eficaz no combate a uma variedade de problemas emocionais e quadros psicológicos, incluindo depressão, tristeza, transtornos leves de ansiedade, dependência química e insônia, além de ajudar a lidar com preocupações com o futuro.

Os benefícios da atividade física podem ser atribuídos principalmente às mudanças neuroquímicas e hormonais que ocorrem no cérebro durante e após o exercício, com a liberação de endorfinas, serotonina e dopamina, neurotransmissores conhecidos por seu papel na regulação do humor e na redução do estresse. 

“Além disso, o exercício regular está associado a mudanças estruturais e funcionais no cérebro, incluindo o aumento da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar”, explica o psicólogo.

No entanto, é importante notar que o exercício pode não ser eficaz para todos os tipos de problemas emocionais.

Por exemplo, para pessoas com transtornos psicopatológicos mais graves, como a psicopatia, o exercício pode não ser tão benéfico ou até mesmo contraproducente.

“Nestes casos, é fundamental buscar outras formas de intervenção, como a psicoterapia especializada”, alerta.

Além da redução significativa do sedentarismo e da melhora da saúde em geral, o exercício físico traz a consciência corporal, ou seja, a compreensão da importância vital de nos mantermos em movimento, ajudando a coordenação motora, foco e concentração, aspectos essenciais para um dia a dia produtivo.

Há, ainda, benefícios como:

  • Prevenção da demência degenerativa primária;
  • Diminuição das chances de desenvolver osteoporose e fortalecimento do sistema ósseo; 
  • Melhora da circulação sanguínea geral e a circulação neuropsiquiátrica;
  • Otimização da atividade neuronal e neurológico-psicológica, com um funcionamento cerebral mais eficiente.

Há alguma atividade física mais recomendada para o bem-estar emocional?

Quando se trata de escolher uma atividade física para promover o equilíbrio emocional, não há uma resposta única.

Escalar uma montanha – uma prática dentro das chamadas mad skills –, jogar futebol com os amigos ou fazer uma caminhada tranquila de meia hora são atividades diferentes, mas todas têm o potencial de contribuir positivamente para o bem-estar emocional de uma pessoa.

“A chave está em encontrar atividades que mais combinem com você e que tragam alegria e satisfação. Seja qual for a atividade escolhida, é essencial considerar sua capacidade psicológica e emocional para realizá-la”, afirma Alexander Bez.

Há diferenças de benefícios emocionais para “atletas de fim de semana” e competidores? 

É gritante a diferença no aspecto físico entre alguém que treina algumas vezes na semana e uma pessoa que se dedica ao esporte de alto rendimento.

E na questão dos benefícios para a saúde mental, essa diferença também existe?

A baixa exposição ao estresse físico e ao desgaste fisiológico, juntamente com a ausência da pressão pela performance e competição, permitem que os chamados “atletas de fim de semana” desfrutem dos benefícios do exercício sem os contratempos associados ao esporte de alto rendimento.

Por outro lado, no contexto do esporte de alto rendimento, os desafios emocionais e físicos são significativamente amplificados.

Por causa da maior pressão pela vitória e exigência de desempenho, são aumentados os níveis de ansiedade, o que é antagônico aos benefícios emocionais que as atividades físicas devem proporcionar. 

“Ambos os tipos de prática podem oferecer benefícios para a saúde, porém é importante reconhecer que a prática de atividades físicas moderadas e sem a pressão da competição pode ser mais benéfica para o bem-estar emocional e físico a longo prazo”, explica o especialista.

Atividades físicas podem contribuir no equilíbrio emocional

Conselhos para quem quer começar a fazer atividades física

Para Alexander Bez, é fundamental embarcar na jornada da prática esportiva com cautela, dedicação e consistência.

“Não tenha pressa para alcançar resultados e lembre-se de que os benefícios surgem ao longo do tempo com prática regular”, coloca.

Além disso, ele indica como importante ao começar a praticar esportes:

  • Reduzir ou evitar o consumo de drogas ilícitas;
  • Limitar o consumo de álcool a três ou quatro doses por semana;
  • Iniciar em um ritmo confortável e capaz de manter;
  • Passar antes por uma avaliação médica completa. 

A atividade física, no entanto, é uma ferramenta poderosa para melhorar a saúde mental, mas não é uma cura milagrosa.

“É importante ter expectativas realistas e entender que a atividade física pode complementar outras formas de tratamento, como terapia e medicação, para promover um bem-estar emocional duradouro”, completa Alexander.

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