Ter um time de colaboradores constantemente atualizados em relação a entender as novas ferramentas e metodologias, em desenvolver a capacidade de comunicação, em aprender técnicas de liderança e gestão, em refinar a capacidade de inovação e em gerenciar a inteligência emocional, impacta diretamente na potencialização do capital humano das corporações.

Estimular as chamadas power skills é uma contribuição significativa, mas como o aprimoramento de nenhuma dessas habilidades vem do céu, as organizações precisam servir de ponte entre os colaboradores e cursos, treinamentos, seminários, workshops, mentoring e outras diferentes formas de capacitação da denominada educação corporativa.

Com o propósito de alinhar o aprendizado e o crescimento individual às diretrizes e necessidades da empresa, a educação corporativa é uma ferramenta estratégica, como parte de uma política importante de endomarketing.

Essa perspectiva positiva a respeito da educação corporativa é compartilhada por líderes de RH de grandes empresas. Segundo pesquisa realizada durante o evento HR First Class, 73% dos entrevistados afirmaram que a educação corporativa beneficia todo o ecossistema das empresas, e 95% acreditam que a educação corporativa é o melhor instrumento para alinhar os colaboradores à cultura da empresa.

Ao adotar a educação corporativa como regra, as organizações buscam combater questões como o baixo engajamento, um problema que afeta 62% da força de trabalho no Brasil, formada por indivíduos classificados como “não engajados” com seus empregos, de acordo com um estudo do Instituto Gallup.

Assim, sobram razões para colocar todo mundo na sala de aula em prol do futuro das carreiras e do desenvolvimento de novas ideias.

Bora analisar o assunto?

Educação corporativa para aprimorar competências

Ser uma ferramenta estratégica para que se consiga formar e aprimorar competências críticas para a organização é o que coloca o valor da educação corporativa em destaque atualmente aos olhos dos gestores.

Segundo Lina Nakata, pesquisadora e professora nos cursos de pós-graduação da FIA Business School, à medida que a empresa tem várias necessidades e competências que devem ser cumpridas pelos colaboradores, a ideia é que também consiga se atualizar constantemente e repassar esse conhecimento, que vai virar uma habilidade para as pessoas no dia a dia.

“Essa lista de competências críticas precisa ficar bem em evidência para a empresa, ficar bem claro o que é necessário para que ela consiga implementar isso no seu desenvolvimento de pessoas”, explica Lina.

Executar o trabalho com maior fluência e domínio é o foco principal do aprendizado conquistado com a educação corporativa, diz Felipe Junqueira, fundador e CEO da consultoria Números Falam.

“O colaborador vai se desenvolver como profissional e a empresa vai ter profissionais melhores, consequentemente atingindo melhores resultados”.

Treinamento e educação corporativa são diferentes?

A educação corporativa é algo contínuo, enquanto o treinamento está mais relacionado a questões pontuais e específicas, o que os coloca em prateleiras diferentes no que se refere à importância de cada um.

“O treinamento geralmente é utilizado para ensinar os colaboradores a usarem um novo sistema, para atender melhor o cliente, enquanto a educação corporativa é algo mais estratégico, se encaixando em um pensamento mais a longo prazo”, adverte Felipe.

Lina Nakata traz exemplos para demonstrar as distinções entre eles. “Se há um problema de comunicação, faz-se uma aula, um curso, passa-se um vídeo de duas horas, para conseguir melhorar a capacidade de apresentação. Já a educação corporativa é pensar de uma forma bem mais ampla”, indica.

A pesquisadora continua: “Educação corporativa é pensar nessas competências, de como o profissional vai conseguir entender o público, os objetivos, os pontos críticos e melhorar esse aspecto de como a empresa se apresenta por meio de seus representantes, com a sua imagem e a sua reputação corporativa”.

Como saber quais competências e habilidades devem ser aprimoradas?

O time de gestão de pessoas e de Recursos Humanos devem analisar diferentes pontos antes de apresentar quais os conteúdos que vão ser mais necessários para o aprendizado de cada colaborador.

Em primeiro lugar, identifica-se os gaps e necessidades que a pessoa ainda precisa melhorar para alcançar novos cargos e superar novos desafios, aprimorando competências e habilidades.

Assim, o RH vai analisar e indicar conteúdos que são mais críticos e prioritários nessa formação.

Objetivo da educação corporativa para as empresas

Qualificar os colaboradores está dentro da estratégia de crescimento das empresas. Mas de que maneira isso acontece?

A educação corporativa vem dentro de um planejamento a longo prazo, afinal é entendido que esses indivíduos vão permanecer com o crachá da empresa durante muitos anos.

Outros ganhos para as empresas que se abrem para a educação corporativa são a melhora do ambiente institucional, a produtividade da equipe e a integração dos colaboradores à cultura organizacional, valores e missão da empresa.

A integração é extremamente importante para que as empresas criem mais sinergia entre departamentos, para uma entrega de mais qualidade. Também vai gerar maior satisfação das pessoas que se sentem sempre atualizadas com o desenvolvimento”, avalia Lina Nakata.

Deixar de lado a capacitação, aliás, pode colocar os colaboradores em uma situação de insegurança em relação às suas atividades.

“O colaborador se fortalece à medida que esse desenvolvimento vai levar bastante a ideia sobre o que a empresa busca e o que ela quer em relação ao crescimento das pessoas”, argumenta a pesquisadora.

7 princípios da educação corporativa

A estadunidense Jeanne Meister, uma das mais conceituadas autoras sobre educação e universidade corporativa, entende que existem sete princípios básicos de educação corporativa.

Os princípios são: competitividade, conectividade, perpetuidade, cidadania, disponibilidade, parceria e sustentabilidade. Veja mais sobre eles:

Competitividade

A educação corporativa é um diferencial competitivo para as organizações, colocando as empresas que aderem a esse programa em um degrau mais alto em relação a quem ignora essa ferramenta educacional.

“A empresa que não investe no desenvolvimento de pessoas vai perder muito desse aspecto, porque ela não vai conseguir competir com as competências das outras empresas, principalmente dos concorrentes diretos”, afirma Lina.

Conectividade

O segundo item, que é o princípio da conectividade, indica que o processo de educação corporativa precisa estar conectado com outros procedimentos do RH.

Um exemplo é o recrutamento e seleção de talentos, um momento que, se a empresa priorizar pessoas com potencial alto, de boa formação e conhecimento, precisa disponibilizar meios de esse indivíduo se aprimorar ainda mais quando for contratado, colocando a ele desafios que atendam a essas expectativas.

“Uma coisa está conectada à outra. Também vai ter uma relação com a remuneração, vai ter uma relação com todos os outros processos, e essa conectividade é importante para mostrar que a empresa consegue pensar ali no todo”, avisa a pesquisadora.

Perpetuidade

Pensar a longo prazo é fundamental, e para isso o time precisa estar preparado para enfrentar todas as mudanças que o mercado apresenta, que são cada vez mais instantâneas.

“A educação corporativa vem para preparar o time para todas as mudanças de forma contínua”, coloca Felipe Junqueira.

Para Lina Nakata, a perpetuidade se relaciona com a educação corporativa quando essas competências e habilidades têm um valor cultural.

“Que seja, por exemplo, uma forma de entender a concorrência, o mercado, o aprendizado sobre novas tecnologias, ou outros assuntos que sejam algo perpétuo, que dê uma continuidade para tudo que vier depois”, argumenta.

Cidadania

Estimular a cidadania, a ética e o pensamento crítico estão entre os motivos da integração da educação corporativa ao alinhamento estratégico.

“Formar profissionais com esse aspecto de cidadania, no sentido de que eles vão ser também multiplicadores do conhecimento, que são responsáveis pela empresa e que fazem diferença no todo da organização. Então esse é o quarto princípio”, aponta a pesquisadora.

Disponibilidade

O material gerado pela educação corporativa precisa estar facilmente acessível aos colaboradores e stakeholders em geral.

O conteúdo precisa ficar à disposição das pessoas. Não é porque o colaborador não tem agenda para o único treinamento que foi feito, por exemplo, em compliance, às quatro horas da tarde, numa quinta-feira, que ele não pode ter isso disponível em qualquer momento”, diz Lina

“Hoje em dia, esse é um assunto que é menos difícil, porque as coisas ficam realmente armazenadas em algum lugar. Mas é um dos princípios também de fazer com que qualquer pessoa possa ter esse acesso, até mesmo pessoas novas na empresa. Vamos supor que um treinamento foi feito no começo do ano, se um funcionário entra no meio do ano, ele vai poder também ter essa disponibilidade de materiais e conteúdo”, continua.

Educação corporativa: a ferramenta de aprendizado que potencializa os resultados

Parceria

A educação corporativa deve ser promovida com o apoio de fornecedores e parceiros de negócios, uma vez que aqueles conhecimentos que a empresa precisa gerar e as competências que ela precisa formar, muitas vezes não estão à sua disposição internamente.

Isso pode ser conseguido por meio de um convênio com instituições de ensino superior, com a emissão de certificados de cursos específicos

“As parcerias são bem relevantes para que a organização consiga suprir todas as suas demandas”, explica Lina Nakata.

Sustentabilidade

Fazer com que a educação corporativa se pague é colocá-la em sustentabilidade dentro da empresa. E como fazer isso, já que os investimentos em desenvolvimento geralmente são bem elevados?

“Tem que compensar. Não adianta só investir milhões de reais no sistema de educação corporativa e não entender que isso vai gerar retorno. O programa precisa ser um investimento que vai ter retorno financeiro e precisa ter esse caráter de sustentabilidade também. Esse é um dos princípios mais relevantes, senão a empresa entende que isso não vai funcionar”, aponta a pesquisadora.

Como disponibilizar a educação corporativa?

Plataformas e meios não faltam para disponibilizar material da educação corporativa aos colaboradores e identificar qual a melhor para todos é uma tarefa do RH.

Uma possibilidade é abrir o próprio portal, diz Lina, com sistema de gestão de aprendizagem, o LMS (Learning Management System).

“É um espaço em que os conhecimentos, repositórios, memória organizacional vão ficar por lá. E os colaboradores vão ter acesso”, diz a pesquisadora.

Tem empresas que fazem o seu próprio sistema e isso é um aspecto favorável. O contra é que não é de graça, pois será um sistema que provavelmente precisa de robustez, de acessos, de dashboards para o RH entender quem acessa e quem não acessa. É preciso também ter uma forma de identificar o aprendizado, de calcular o desempenho das pessoas. E existem soluções já prontas para isso”, explica.

Outra forma com prós e contras, de acordo com Lina Nakata, é da empresa adquirir uma plataforma em que já existem esses materiais já disponíveis.

O que mais joga contra isso é a falta de personalização da plataforma em relação ao que é passado aos colaboradores, não sendo possível trabalhar de maneira adequada com o público.

Nesse caso, o pró é que isso pode ficar menos caro e ser uma solução mais rápida. “Sabemos que muitas informações são básicas, então pode ser um ponto positivo de adquirir algo que já esteja pronto, mas não vai ser customizado”, adverte.

Outras opções são:

  • Universidade corporativa: “É uma ótima ferramenta, se for pensar em solução mesmo é o melhor dos mundos, porque é possível desenhar um espaço que seja físico e virtual, de ser um espaço de competitividade, conectividade, de disponibilidade, mas também a empresa precisa calcular o custo-benefício disso. As universidades cooperativas são caras, não é fácil criar e manter”, explica Lina;
  • Plataformas de e-learning: “Se for já algo pronto fica mais barato, mas sabemos que nem sempre atende da melhor forma. E existem plataformas que ficam no modelo mais híbrido, em que alguns conteúdos já estão disponíveis de uma forma mais básica, mas que outros podem ser produzidos por meio de parcerias, de professores, de instrutores, e até mesmo pelos próprios colaboradores, que podem ser multiplicadores dos conhecimentos”;
  • Programas de mentoria: “São um ótimo custo-benefício, porque se consegue juntar partes que vão trocar conhecimentos. Uma dica é fazer duplas em que um tem mais experiência do que o outro em qualquer assunto que seja de interesse da empresa, essas trocas são relevantes e não tem um custo, porque o conhecimento está ali interno e a empresa ganha bastante com isso. As empresas não aproveitam o conhecimento das pessoas que saem e isso é um grande desperdício”.
Educação corporativa: a ferramenta de aprendizado que potencializa os resultados

Temas em alta para a educação corporativa

As tendências mudam no mundo corporativo em uma velocidade incrível, e a educação corporativa precisa estar atenta às demandas que o mercado pede.

Um dos temas mais debatidos durante o CONARH 2024, a Inteligência Artificial e todos os paradigmas que ela apresenta precisam despontar na ordem do dia das empresas que querem estar no futuro.

“A Inteligência Artificial vem para revolucionar o mercado mais uma vez, e as empresas e os profissionais precisam acompanhar isso”, afirma o CEO da Números Falam.

Lina Nakata é mais específica ao citar o machine learning, o ramo de aprendizado autônomo da IA que usa dados e algoritmos.

“É muito importante que os profissionais consigam ser mais produtivos com essas ferramentas todas e saberem que existem vários tipos de soluções. E é importante também que as pessoas tenham senso crítico, não só saibam utilizar tudo isso, mas que possam ter ali a parte humana que vai fazer toda a diferença”.

Os dois falam, ainda, de temas que estiveram ou estão em destaque, como saúde mental e bem-estar, liderança e inteligência emocional.

Se a empresa não investe em determinados assuntos, ela fica para trás. Por isso que a educação corporativa é muito dinâmica, fluida e que vários temas são importantes para que a empresa chegue à frente das outras organizações”, explica Lina Nakata.

“Depende muito também do público que se trata, pois uma coisa é falar do grupo executivo, de diretores e gerentes, que vai precisar de mais investimento. Mas a base também pode ter bastante acesso e hoje em dia fica muito menos caro, porque essa parte da disponibilidade de se ter um portal, uma plataforma, contribui bastante e o que a empresa precisa fazer é realmente atualizar os conteúdos à medida que coisas novas chegam”, garante a pesquisadora.

O poder transformador da educação

A educação foi tema da palestra “Ayrton Senna: o ídolo e seu legado”, conduzida por Ewerton Fulini, vice-presidente e porta-voz do Instituto Ayrton Senna, no último dia do CONARH 2024.

O instituto, criado pela família Senna em 1994 após a morte do tricampeão de Fórmula 1, tem como objetivo dar mais oportunidades para que crianças e jovens possam desenvolver seu potencial, por meio da educação pública de qualidade.

Durante a palestra, Ewerton Fulini explicou que a solução para problemas como baixo desenvolvimento humano e alta mortalidade infantil é a educação de qualidade e o desenvolvimento de jovens em competências socioemocionais.

Ewerton Fulini, vice-presidente e porta-voz do Instituto Ayrton Senna

“Precisamos ter consciência de como é a educação no nosso país e como isso afeta todas as esferas da nossa sociedade. A educação aqui no Brasil é para poucos. A cada 10 crianças que entram na escola, apenas seis se formam no ensino médio, três dominam a língua portuguesa e menos de um domina a matemática. Ou seja, mesmo que se formem, a maioria ainda possui uma educação formal extremamente frágil, e essas pessoas são os trabalhadores do futuro.”

“O que o Instituto Ayrton Senna faz? Nós buscamos nutrir a raiz da árvore da educação, desenvolvemos e implementamos tecnologias educacionais em escolas públicas. Temos três pilares de atuação: Inovação e Pesquisa, Disseminação de Conhecimento em Larga Escala, Mobilização e Advocacy”, detalhou.

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