O argentino Cristian Galarza já tinha dois empreendimentos na área gastronômica, na capital paulista, quando decidiu abrir um novo restaurante, em sociedade com um amigo. Galarza comanda um bar-restaurante de empanadas e carnes argentinas no bairro da Moooca, o Moocaires, e tem também uma loja de empanadas na Pompeia, chamada San Telmo, ambas na cidade de São Paulo.

Com o amigo, a ideia era abrir mais um restaurante portenho no bairro de Granja Viana, na Grande São Paulo. O combinado era que Galarza assumisse o investimento e fornecesse produtos como empanadas e alfajores produzidos em uma fábrica que também dirige. “Eu entrei com o dinheiro e todo know how (conhecimento), replicando a experiência do meu negócio na Mooca, e ele ficou com a gestão, a parte operacional”, conta Galarza.
Segundo o empresário, ele e o amigo, que era seu companheiro nas partidas de tênis, se entendiam muito bem – nas quadras. “A hora que eu o chamava para jogar, ele ia. Tínhamos uma afinidade pelo esporte muito grande”, relata Galarza.

Nos negócios, porém, os objetivos se mostraram diferentes, só que o empresário só viria a descobrir isso depois.
Foram cerca de oito meses de funcionamento, até que Galarza descobriu uma série de dívidas e problemas de gestão, que fizeram com que a sociedade e as atividades do restaurante fossem suspensas.

“Fiquei sabendo que o aluguel do espaço, que estava no meu nome, não era pago há dois ou três meses, e tínhamos um ano de boletos não quitados com a Eletropaulo, fornecedora de energia. Resumindo, tive que desembolsar cerca de R$ 60 mil para resolver todas as pendências financeiras”, recorda o empresário. Sem falar nas muitas mercadorias que ele forneceu sem nunca receber por elas. “Mandava carne, empanadas, vinho, cerveja, tudo pelo CNPJ da minha indústria, e ele não me pagou nada disso”.
Para Galarza, o sócio não tinha o comprometimento que deveria. “Eu sou muito enérgico, ativo, e acredito que a única forma de conseguir desenvolver um negócio com sucesso é estar 100% focado e vivendo aquilo, o que não acontecia. Ele abria o restaurante às 12h mas só chegava lá às 14 horas, pois dizia que as pessoas da Granja Viana acordavam mais tarde. Datas como o Dia das Mães, por exemplo, de grande movimento, ele não queria trabalhar”, lembra.

De fato, fazer sociedade com amigos, pode não ser benéfico. “Muitas sociedades surgem por amizade ou de pessoas que trabalham juntas e um dia decidem empreender por conta própria. Mas mesclar sociedade e amizade não é o mais indicado”, acredita explica Marcelo Lico, especialista em governança corporativa, CEO e sócio-fundador da Crowe, rede global nas áreas de auditoria e consultoria.

Ele diz que muitas vezes, não só os sócios mas as respectivas esposas tornam-se amigas e pode acontecer até das famílias viajarem juntas. “E aí, quando surge um problema na sociedade, fica uma situação difícil. Não acho saudável, a relação nunca mais vai ser a mesma, você perde o amigo”, afirma Lico.
Para ele, além de não ser alguém do círculo próximo de amizade, é interessante que os sócios tenham perfis diferentes, que se complementem – um mais arrojado, por exemplo, outro mais conservador. “Isso pode trazer divergências, mas também ajuda a empresa a crescer”, diz.
As habilidades e a rede de contatos que cada empreendedor possui também são características que, somadas, podem fazer com que os sócios alcancem melhores resultados.

Ainda, pode ser vantajoso ter alguém com quem dividir os custos do empreendimento, os compromissos e o próprio trabalho. “É bom ter com quem conversar, discutir e sonhar. Às vezes, você pode pensar em alguma loucura e o sócio traz você para a realidade”, comenta o empresário argentino. O lado ruim da sociedade, contudo, é que se um deixa o negócio, o outro assume todas as dívidas, como ocorreu com Galarza. E se há lucros, ter de dividi-los com alguém pode ser visto como uma desvantagem. Para garantir o sucesso de um negócio em sociedade, o especialista da Crowe, lista abaixo os principais pontos que têm de ser levados em conta. Confira.

5 aspectos que fazem uma sociedade dar certo

Papeis bem definidos

O especialista destaca que o principal, numa sociedade, é definir as responsabilidades de cada um na sociedade, assim como os resultados que cada um deve atingir. “É fundamental definir quem faz o quê no negócio – se um assume a parte financeira, e o outro, a operacional. Ou se um cuida da produção e o outro do comercial, por exemplo, até mesmo para poder cobrar depois”, explica.

Clareza nos objetivos

Deixar claro e alinhados os objetivos do empreendimento também é essencial. Se a empresa faturar R$ 100 mil e sobrar R$ 10 mil, por exemplo, os sócios têm de saber previamente o que será feito com esse dinheiro. “Tudo isso tem que estar muito bem combinado. Se 30% do lucro será investido e os outros 70% distribuídos entre os sócios, por exemplo, são informações importantes e que devem estar acordadas e registradas em documento”, declara o especialista.

Diálogo constante

Também é fundamental discutir a relação, criando uma agenda recorrente para debater planos, metas e resultados, sempre buscando um consenso entre os sócios. “Se há algum combinado feito no passado que levanta dúvidas, tem que trazer para discussão. Os sócios têm que estar constantemente conversando, isso é saudável para a sociedade”, diz.

Rapidez para a solução de problemas

Além disso, Lico destaca que os sócios devem ser ágeis em resolver os problemas. “Qualquer conflito ou divergência que surgir, tem que sentar para conversar e resolver logo, pois senão vai jogando para debaixo do tapete e quando ‘estoura’ lá na frente é muito pior”, comenta.

E quanto ao número de sócios?

Para o especialista, o desafio de contar com muitos sócios é ter todos alinhados às mesmas expectativas. Além disso, pode ser necessário eleger um líder que tome as decisões finais. Outra possibilidade é fazer um esquema de rodízio, em que os sócios se revezem na presidência, um a cada ano, por exemplo.
“Baseado nos clientes que atendemos, posso dizer que se os sócios não têm funções bem definidas, não combinam os objetivos e não dialogam, são grandes as chances da sociedade dar problema. Pode não fechar, mas cada um vai para um lado – um fica na empresa e o outro sai, isso é muito comum, principalmente, em pequenos negócios”, conclui o especialista.

 

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