Se antes a discussão sobre licença-maternidade, auxílio-creche e outros benefícios relacionados à criação dos filhos acabava ficando mais restritoa às mulheres, esta conversa ganha cada vez mais abrangência (que bom!).
Com o reconhecimento de diferentes estruturas familiares, como: uniões homoafetivas, filhos adotivos, famílias anaparentais (grupo familiar sem pais), abriu-se espaço à nova parentalidade, o conceito que aborda a relação das pessoas adultas que compõem o núcleo mais íntimo de convívio de uma criança, responsáveis pela sua criação.
E não é à toa. Crianças precisam de cuidados. Muitos cuidados!
E essa nova parentalidade demanda mudanças inclusive nas relações trabalhistas. Isso porque além das leis que abordam o tema, uma questão chega aos times de Recursos Humanos das empresas: qual a melhor abordagem para dar suporte a colaboradores que fazem parte de novos arranjos familiares?
Neste texto, vamos entender mais sobre o tema e conheceremos também a história do Alelover Cesar Augusto Pires Armando, do time de Portfólio da Alelo.
Vem com a gente!
O que é a nova parentalidade?
O termo parentalidade inclui famílias de todos os jeitos. Seja a configuração de mãe, pai e filhos biológicos, como aquelas constituídas através de processos de adoção, famílias com casais homossexuais, com filhos concebidos por diferentes métodos e toda relação de laços afetivos que estabeleçam o papel de cuidador de uma criança.
Publicada recentemente no Diário Oficial da União, a Parentalidade Positiva aparece na nova legislação como o processo de criação dos filhos, baseado no respeito, no acolhimento e na não violência. Esta abordagem é especialmente importante nos seus primeiros anos de vida.
Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a primeira infância, período que vai da gestação até os seis anos de idade, é considerada uma janela de oportunidades para a saúde, o aprendizado, o desenvolvimento e o bem-estar social e emocional das crianças.
A nova parentalidade nas empresas
A conversa sobre parentalidade nas empresas mudou definitivamente. Agora esse assunto não se centra apenas em maternidade e paternidade, mas leva em consideração outros formatos familiares e figuras de cuidado em relação às crianças.
“Com as políticas corporativas que abarcam essas várias formações familiares, o que percebemos é que os benefícios são pensados para todas essas pessoas. Observamos um movimento de políticas específicas para quem, por exemplo, passa por um processo de adoção, famílias que passaram por uma situação de perda gestacional, ou famílias homoafetivas”, analisa a CEO e fundadora da consultoria Filhos no Currículo, Michelle Levy Terni.
Segundo ela, com esse novo entendimento da parentalidade, as empresas precisam adequar a sua própria linguagem a essas necessidades específicas.
“Isso poderia ter chegado um pouco antes, mas existe um amadurecimento natural do mercado de se preparar para essa nova realidade, sendo que antes eles não estavam nem preparados para os modelos heteronormativos”, aponta Michelle.
Essa adaptação à nova parentalidade por parte das empresas também tem ligação com questões como o acolhimento e a saúde mental dos colaboradores, algo muito em voga no pós-pandemia, explica Ellen Anholeto, especialista em Recursos Humanos.
“O apoio faz com que se sintam pertencentes à estrutura. Isso automaticamente gera um processo de produtividade para que eles se vejam acolhidos, tendo mais segurança, satisfação e apresentando mais resultados.”
Entender a nova parentalidade é investir
Parte das empresas ainda estão hesitantes e não entendem a real necessidade do valor em aderir a essa nova abordagem da parentalidade.
“Vejo muito um desafio de primeiro letramento da organização, das lideranças, de uma revisão dos processos e de consciência, principalmente do time de alta gestão, de que falar de parentalidade faz bem aos negócios. É preciso entender que, na verdade, isso é um investimento e não um custo para a organização”, destaca Michelle.
Ao investir no ambiente de bem-estar parental, a empresa consegue colher engajamento, diminuição de turnover, conquista um impacto positivo na marca empregadora, nos seus indicadores de diversidade e no número de mulheres em posições de liderança.
“Entender esse mecanismo como algo integrado ajuda as empresas a reverem a parentalidade como um investimento e não um desafio dentro da estrutura da organização”, explica a CEO da Filhos no Currículo.
Como a lei trabalhista tem se adaptado à nova parentalidade?
No Brasil, a licença parental é regulamentada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sendo um direito trabalhista que permite que mães e pais tenham um período de afastamento remunerado quando uma criança nasce ou é adotada.
Contudo a lei trabalhista ainda é bem básica em relação aos direitos da parentalidade, com poucos avanços no reconhecimento e apoio às diferentes configurações familiares.
Segundo o advogado trabalhista Rafael Humberto Galle, dentre estes poucos progressos estão as licenças – maternidade, paternidade e adotante – que se aplicam a pais e mães, independentemente do estado civil ou orientação sexual.
Ele traz como exemplo a necessidade de estabelecer que casais do mesmo sexo que adotam uma criança tenham direito à licença parental, promovendo assim a equidade e o respeito à diversidade familiar. O mesmo pode se aplicar a genitores solteiros, biológicos ou adotivos.
“Apesar dos referidos avanços, é importante que existam cada vez mais políticas parentais promovendo equidade para assegurar que todas as famílias, independentemente da sua composição, sejam tratadas com igualdade nas relações laborais”, afirma Galle.
Para o advogado, ainda há desigualdade nas políticas de parentalidade e, embora a legislação reconheça esses direitos de forma ampla, o acesso a eles pode ser dificultado pela resistência de alguns empregadores em aceitar e implementar esses direitos para seus colaboradores, independentemente da composição familiar.
“É necessário continuar trabalhando para que essa igualdade seja plenamente vivenciada no dia a dia dos trabalhadores, o que inclui combater preconceitos e garantir que todos os pais e mães, independentemente de sua situação familiar, sejam tratados de forma justa e igualitária”, argumenta.
Qual o futuro dos direitos trabalhistas parentais?
O futuro dos direitos trabalhistas parentais é promissor, afirma Galle. Para ele, o apoio de grandes empresas, que têm demonstrado claras tendências de avanço e expansão, é fundamental, pois acompanham a evolução da sociedade e a diversidade das configurações familiares.
“É natural que a legislação trabalhista caminhe a passos lentos, pois o processo legislativo é burocrático e demanda tempo. Por isso, empresas modernas e humanas têm adotado um papel de protagonismo, em que por meio de convenções e acordos coletivos, ou até mesmo de simples manuais de colaboradores, estabelecem a necessidade de respeito às licenças parentais, bem como promovem a igualdade parental, concedendo, por exemplo, o mesmo prazo de afastamento para todos os tipos de licenças parentais”, explica.
Qual deve ser o suporte do RH à nova parentalidade?
Num contexto em que pais, mães, e muitas vezes avós, tios e tias assumem os cuidados com as crianças, é preciso que algumas práticas sejam revistas no âmbito do mercado de trabalho, a fim de possibilitar que o papel de cuidador seja assumido sem qualquer prejuízo às famílias.
Contudo ainda existe muito campo para melhoria deste benefício para que a nova parentalidade seja plenamente exercida, cabendo às empresas e ao departamento de gestão de pessoas analisar cada caso e adequar suas políticas visando a promoção do bem-estar dos profissionais e a parentalidade ativa.
A falta de uma cultura organizacional, preparada para lidar com esses novos desafios, é o que atrapalha a maioria das empresas a entender esse novo momento da parentalidade.
“Muitas vezes, a empresa não consegue dar uma licença-maternidade estendida, ou não consegue fornecer subsídios para o colaborador operar um trabalho remoto. Então tem algumas questões que as empresas ainda não conseguiram se adaptar totalmente, e é preciso gerar um equilíbrio para que fique bom para a empresa e tenha esse olhar para o lado do colaborador”, diz a especialista em RH, Ellen Anholeto.
E o papel da equipe de Recursos Humanos é vital nesse processo de reconhecimento da nova parentalidade, uma vez que são eles que acompanham, junto às lideranças e aos gestores, o dia a dia dos colaboradores. São tradutores da cultura da organização, diz Michelle Levy.
“São essas pessoas que vão criar um ambiente de segurança psicológica para quem concilia filhos e carreira. O RH é um grande habilitador e guardião dessa jornada.”
A CEO da Filhos no Currículo aponta, ainda, para a importante figura do business partner nessa relação, sendo esse profissional que vai dialogar com as figuras parentais e com as lideranças, tentando traduzir essas necessidades nas políticas.
“Espero que cada vez mais esse colaborador seja percebido como um papel estratégico e não operacional, pois ele vai cuidar do maior recurso da organização, que é o recurso humano, que faz a roda girar”, diz.
Cuidar da nova parentalidade traz resultados positivos
Práticas de bem-estar e valorização, como os cuidados com os direitos à parentalidade em seus novos formatos, influenciam positivamente na atração e retenção de talentos das empresas.
“Quando se cuida desse momento tão importante, tão sensível na jornada dos profissionais, permitimos que ele atravesse o famoso ‘degrau quebrado’ na carreira, principalmente as mulheres. Consegue-se ajudar para que essa mulher volte e tenha um outro destino diferente de decidir sair, porque não conseguiu dar conta dos seus papéis”, indica Michelle.
Ellen explica que essa atuação tem a ver com o fit cultural da empresa, que nada mais é que o ajuste entre o colaborador e a cultura organizacional.
“Os profissionais buscam esse fit cultural com as empresas, onde eles enxergam que há um equilíbrio e não vão ter um esgotamento mental. Muitos não querem mais se sujeitar a pressões que trazem desequilíbrio para a sua vida, em trabalhar aos finais de semanas e com cargas horárias intensas”, diz a especialista em RH.
Práticas inovadoras em relação à parentalidade
As empresas que estão atentas têm adotado políticas inovadoras em relação à parentalidade. Um exemplo é a implementação de modelos universais de licenças que independem do gênero da figura parental, havendo o compartilhamento e o aumento do tempo que essa criança está cuidada.
“Então esse pai pode tirar, por exemplo, um período de licença complementar, garantindo que a criança fique assistida por mais tempo. Temos percebido isso como uma prática bastante inovadora, assim como o apoio particular das figuras maternas, em especial no retorno de licença, com programas específicos de mentoria e preparação das suas lideranças”, conta Michelle.
Um grande desejo dos profissionais com filhos é a flexibilidade em relação ao home office, pelo menos duas vezes por semana, além da possibilidade de um retorno gradual ou flexível pós-licença.
“Pensar também em modelos de trabalhos que permitam essa flexibilidade, que essa pessoa, de repente, possa voltar de maneira gradual depois da licença, é algo desejado e transformador, que pode também ajudar esse profissional a conciliar os seus papéis”, indica.
Um pensamento comum em relação à responsabilidade dos líderes e que Michelle tenta desconstruir, é que a experiência não dependa da empatia da pessoa que está no cargo.
“‘Ah, dei sorte de ter um líder empático’. Não deveria ser sorte, mas tem que ser padrão de qualidade ter uma liderança empática, seja ela uma figura parental ou não. Então, todas as organizações têm o dever de instrumentalizar suas lideranças com ferramentas para acolhimento da parentalidade”, completa Michelle Terni.
E é aqui que entra a história do nosso Alelover.
Cesar, o papai do Guto
A bolsa rompeu e o trabalho de parto começou para a família de Cesar Augusto Pires Armando, do time de Portfólio da Alelo, na tarde de uma quinta-feira, dia 20 de junho. No lugar da gestação de 9 meses, foram 5 anos na espera do Guto.
“Teve sim a mesma emoção, abraços apertados, ansiedade descontrolada e correria para conhecer o rostinho de nosso filho”, recorda Cesar.
“O telefone tocou e informou: o filho de vocês chegou. Um lindo bebê, menino, com 24 dias de vida”, continua.
As “contrações”, informando que o bebê poderia chegar a qualquer momento, não eram recentes.
“Começaram há cinco anos, quando no processo de adoção fomos habilitados pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a sermos inseridos no Sistema Nacional de Adoção, o SNA. No início eram contrações leves, uma mistura de incertezas, se o momento estava ou não chegando. Com o passar do tempo, e vendo a fila se movimentar, as contrações aumentaram, quando finalmente, a bolsa estourou”, conta.
Vida movimentada
A vida desde o telefonema sobre a chegada do filho ficou movimentada e a rotina já não é mais a mesma. Precisaram comprar rapidamente berço, fralda, roupinhas, toalhas e carrinho, explica o Alelover.
“Uma ansiedade única para escolhermos cada detalhe, administrando o tempo para conseguirmos ficar o maior tempo possível ao lado do nosso filho, que estava no abrigo, no aguardo do termo de guarda, que é emitido pela Vara de Infância e Juventude. Em tempo recorde deixamos tudo pronto. O Guto finalmente chegou em casa no dia que completou um mês de vida”, recorda Cesar.
Desde então se passaram 40 dias, “os mais intensos e gratificantes da minha vida”, afirma Cesar.
“A chegada do Guto me mostrou que o amor quando completo, transborda. Ser pai é mágico e ao mesmo tempo desafiador. A intensidade de tudo que, meu marido e eu, estamos vivendo nesses últimos dias nos permite garantir que, de certa forma, nunca estivemos separados de nosso filho, e que em toda a nossa existência, o Guto sempre esteve conosco”.
E ele continua: “E mesmo com o cansaço físico que surge com toda essa intensidade, a cada sorriso ‘banguelo’ que o Guto nos presenteia, a cada vez que as nossas mãos ficam entrelaçadas a dele, a cada ‘tetê’, banho, massagem para cólica e brincadeiras com direito a dezenas de gargalhadas, a conclusão é forte e única: Nascemos para sermos os papais do Augusto”.
O sonho da paternidade e o acolhimento
A paternidade é um sonho que Cesar e o marido sempre tiveram, desde o início do relacionamento em 2011.
“Acreditamos que ser pai não está associado ao sangue, mas sim ao amor, na participação da vida da criança, no afeto, no carinho e no respeito. Esse sonho da paternidade foi se fortalecendo a cada dia em nosso relacionamento”, declara.
Cesar explica que, dentro da Alelo, esse sonho da paternidade sempre foi estimulado e compartilhado.
“A família Alelo sabe bem do que estou falando. Desde que comecei a trabalhar na Alelo, em 2021, esse sonho foi compartilhado e enraizado em cada cantinho da empresa. Fui convidado a palestrar sobre o assunto de adoção homoafetiva, até então desconhecido pela grande maioria das pessoas, e a torcida pelo estouro da bolsa só aumentou”, conta.
“A cada dia no presencial lá no escritório eu era questionado: ‘E aí, Cesar, cadê a ligação do fórum? Vamos lá todos juntos falarmos com a equipe técnica, o que acha?’ Eu sempre me diverti com essas falas, e me sentia acolhido por todos, visto que o meu sonho não estava mais só na esfera pessoal, mas também corporativa.”
De acordo com o Alelover, a sensação que teve após comunicar a Alelo foi semelhante à vitória na final de uma Copa do Mundo, com centenas de mensagens parabenizando e questionando quando o pequeno Guto iria para casa.
“Lágrimas escorreram nas dezenas de ligações de vídeos, abraços apertados e demorados, e aplausos para a realização de um sonho que foi tão vivido e abraçado pela empresa”, recorda.
Licença e homenagens
“Ah, a emoção não acabou por aí, pois fui contemplado com uma licença-paternidade estendida de seis meses. Isso é fantástico!! A fala do meu gestor no dia que o telefone tocou representa muito a cultura da Alelo: ‘Pode parar tudo que está fazendo. Chegou a hora de cuidar do Guto. O resto a gente se organiza aqui. Agora é o seu momento, papai”.
E como esse sonho foi partilhado ao longo da gestação com todos da Alelo, a família de Cesar foi contemplada com uma última homenagem, demonstrada em uma agenda surpresa de despedida, com mais de 70 pessoas em uma sala virtual, com o fundo de tela “Bem-vindo, Augusto”, com direito a depoimentos emocionantes, desejo de saúde e felicidades para a família, e de “até logo, Cesinha”.
“Trabalhar em uma empresa que abraça de forma tão genuína o seu sonho de vida, e passa a vivenciar cada momento, é enriquecedor. Saber que você tem segurança psicológica para ser quem você é também é muito precioso. Na Alelo, a minha família sempre teve espaço, sempre foi reconhecida e abraçada, assim como o sonho da paternidade, que foi vivenciada nos quatro cantos da empresa. No domingo, vivenciei o meu primeiro dia dos pais. A paternidade do afeto, da entrega, da participação, do acolhimento, da gratidão, da fé e do amor incondicional”, completa.