A discussão sobre a presença de mulheres em cargos de liderança é um assunto cada vez mais frequente nas companhias. Segundo a consultoria Great Place to Work (GPTW), a porcentagem de mulheres em cargos de chefia nas 150 melhores empresas para trabalhar no Brasil cresceu de 11% para 42, entre 1997 e 2018. Em 2016, o percentual era de 33%, o que revela um salto de quase dez pontos percentuais somente nos últimos três anos. A evolução é inegável, mas ainda há muito para ser feito em busca de uma equiparação de gêneros.
Segundo Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade e idealizadora dos fóruns Mulheres em Destaque, Gestão da Diversidade e Inclusão e Diversidade no Conselho, um dos principais fatores para o número menor de mulheres em lugares de comando é o viés inconsciente. Uma pesquisa chamada Fenômeno Global, realizada com homens e mulheres em diversos países do mundo, mostra que essa forma de pensar está relacionada a um comportamento psicológico conhecido como “think manager, think man”, que associa liderança pelas características de dominante, forte, competente, racional com a figura masculina.
Ela explica que atualmente muitas empresas estão aderindo a uma liderança mais inclusiva e colaborativa, considerando que é importante ter um perfil para cuidar e estar atento às emoções dos colaboradores. Neste caso, o perfil feminino se destaca, pois traz em suas características o comportamento colaborativo, empático, intuitivo e inclusivo.
Quais as soluções?
Mas afinal, como garantir que haja mais mulheres em cargos de liderança? Primeiramente, é importante que as empresas estejam abertas para receber as profissionais de uma forma mais adequada. Isso ainda é uma barreira. De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais de 50% das mulheres são demitidas até dois anos após a licença maternidade. Por isso, é importante que as empresas ofereçam uma política de maternidade, treinando os líderes para que acolham as mulheres nesse momento crucial para vida pessoal e carreira.
Segundo Flavia Cavazotte, Professora do IAG – Escola de Negócios da PUC-Rio, avançar além do teto de vidro, como é chamada essa barreira invisível que bloqueia a ascensão das mulheres aos quadros de gerência média e executivas das empresas, depende dos esforços de todos: das lideranças corporativas, das áreas de educação corporativa e suas iniciativas em relação ao tema, e em parte também das próprias mulheres.
“As lideranças corporativas precisam ser melhor preparadas para evitar viesses nos seus processos de tomada de decisão de promoção. A alta gestão tem um papel importante na criação de uma cultura livre de preconceitos e que favoreça o uso do critério da competência e da capacitação como prioridade”, afirma Flavia.
“A alta gestão tem um papel importante na criação de uma cultura livre de preconceitos e que favoreça o uso do critério da competência e da capacitação como prioridade”
Na prática, há políticas como estabelecimento de um mínimo de mulheres nos processos seletivos, criação de grupos femininos para discussão de políticas nas empresas e estímulos de mentoria entre mulheres. Condições físicas como sala para amamentar e até mesmo considerar a criação de creches pode ser um sinal amistoso de acolhimento. Além disso, a questão salarial também pesa na conta e a equidade é o primeiro passo.
Companhias como Schneider Electric, Natura, Louis Dreyfus Company Brasil, Alelo, CNH Industrial, Elanco e IBM têm iniciativas importantes para alavancar a presença de mulheres e podem ser exemplos interessantes. Nos sites das empresas você pode encontrar as principais diretrizes.
Os benefícios da presença feminina
O longo caminho que está sendo trilhado já mostra resultados importantes. Já é comprovado que as mulheres — e a questão da diversidade como um todo — trazem benefícios para as empresas. O último relatório da ONG americana Catalyst, aponta que as empresas listadas no Fortune 500 com a maior representação de mulheres no conselho obtiveram maior performance financeira do que aquelas com menor presença feminina. Além disso, o relatório afirma que empresas que têm três ou mais mulheres no conselho possuem performance notavelmente superior.
“A diversidade de pensamentos e experiências traz melhores resultados e empresas inteligentes sabem que a presença das mulheres no conselho pode trazer mais inovação”, diz Cris.