A crise desencadeada pela pandemia deixou claro, também, que as empresas brasileiras precisam se transformar, buscar inovação e prestar atenção às questões de sustentabilidade para a continuidade dos seus negócios.
Por isso, o termo ESG ganhou espaço e passou a ser cada vez mais ouvido. Acrônimo do inglês ambiental, social e governança, a sigla foi exposta pela primeira vez em uma publicação, de 2004, do Pacto Global da ONU, em parceria com o Banco Mundial, mas só nos últimos anos tornou-se mais popular.
O que nasceu como uma provocação do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a 50 CEOs de
grandes instituições financeiras, para integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais, agora já se estende a empresas de todos os portes.
Mas afinal, como as pequenas e médias empresas precisam fazer para se adaptar às novas exigências de sustentabilidade e por que devem se preocupar com isso?
Questões como a real preocupação com o meio ambiente, a busca por melhores relações de trabalho, a constante análise dos consumidores sobre os produtos mais sustentáveis e produzidos de forma responsável e até mesmo a atração e retenção de talentos são motivos relevantes para que as companhias — de todos os tamanhos — fiquem atentas ao ESG como um dos pilares do negócio.
Para Roseli Nogueira Machado, líder do Comitê de Sustentabilidade do Grupo Mulheres do Brasil, pequenas e médias empresas precisam entender que olhar sob a lupa ESG é uma questão de se destacar no mercado.
“Estamos falando da possibilidade de novos clientes no âmbito nacional e até internacional. Esse passa a ser um indicador importante, uma evolução da sustentabilidade”, diz.
Além disso, ela defende que cada vez mais os profissionais conectados vão optar por empresas alinhadas com ESG. “Passa a ser um critério de atração e retenção de talentos. Os candidatos já olham esses indicadores antes de aceitar um emprego”, diz.
A tendência é que as companhias de porte menor sejam cada vez mais cobradas por uma postura mais voltada para a sustentabilidade, como já acontece com as grandes empresas.
Prova disso é que em 2020, mais 250 empresas brasileiras passaram a fazer parte do Pacto Global, maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, encabeçada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, a necessidade de humanizar as questões de trabalho por conta da pandemia, a crescente preocupação com as mudanças climáticas e a recorrente necessidade de medidas anticorrupção colaboraram para esse desempenho.
A alta de cerca de 25% no volume de inscritos no Brasil foi recorde global. A iniciativa da ONU
conta com mais de 1.300 empresas brasileiras. O diretor acredita que a forte presença do mercado financeiro no assunto vai acelerar ainda mais o número de inscritos.
“A adesão de empresas do setor financeiro acaba guiando o mercado. Cada vez mais os investimentos serão pautados por questões ESG”, defende Pereira. “Isso vale para empresas de todos os portes”, afirma.
A sigla ESG é voltada essencialmente ao mercado financeiro e serve como um balizador ético e de gestão para a atração de investimentos ou para a prestação de contas de companhias listadas na bolsa de valores. Mesmo assim, as pequenas e médias empresas devem estar alinhadas com o termo e suas especificações.
Não existe um “selo ESG”, mas cada empresa pode criar seus próprios indicadores de sustentabilidade, por exemplo uma política de equidade de gênero, buscar certificações ligadas ao tema e fazer uma constante análise de fornecedores.
Outras iniciativas que podem tornar pequenas e médias empresas compatíveis com políticas de ESG são o desenvolvimento de produtos a partir de matérias-primas sustentáveis, adoção de meios de pagamentos que reduzam o uso o papel, pagamento de salários justos e criar políticas que levem em consideração a preservação do meio ambiente — como consumo consciente de água e energia.
Em uma sociedade disposta a pagar mais por produtos éticos é fundamental para o sucesso no mercado a longo prazo construir uma empresa genuinamente comprometida com os aspectos ambientais e sociais do negócio, que ao mesmo tempo adote as melhores práticas de governança corporativa.
Outro ponto de atenção é sobre como fazer a comunicação dessas iniciativas. É importante divulgar as iniciativas, mas sem exageros. Afinal, a ideia não é fazer com o que as práticas de ESG sejam marketing, mas que façam parte da real estratégia de negócio.
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