Para criar um futuro melhor, é necessário encontrar novos caminhos que não se concentrem apenas na busca incessante por lucros e rendimentos a qualquer preço.
O mundo pede mudanças, e, de olho nessa movimentação, grandes empresas têm aderido ao capitalismo consciente, filosofia que busca atender às novas exigências de desenvolvimento sustentável e humanizado em prol da sociedade.
Mas como fazer para equilibrar ganhos econômicos com esse engajamento proposto pelo capitalismo consciente? Acompanhe esse conteúdo exclusivo do blog da Alelo e entenda como direcionar a sua empresa para um novo futuro. Vamos nessa?
O que é capitalismo consciente?
Como o nome sugere, nesse modelo de negócios, a proposta é equilibrar a maximização dos lucros com a responsabilidade social e ambiental, valores cada vez mais em voga.
Afinal, os valores da sociedade têm se transformado de maneira aguda, e o capitalismo consciente é a principal resposta a essas mudanças no campo econômico.
Essa moderna filosofia de negócios tem como principais teóricos John Mackey, cofundador e CEO da Whole Foods Market, e Raj Sisodia, especialista em gestão. Os dois fundaram o Instituto Conscious Capitalism (Capitalismo Consciente), em 2010.
Anne Bertoli, cofundadora do De Pessoa Pra Pessoa, uma empresa que promove a humanização dos ambientes de trabalho, utiliza dos preceitos do próprio instituto fundador do tema para definir o que é o capitalismo consciente:
“É uma maneira de pensar sobre o capitalismo e os negócios, que reflita sobre onde estamos na jornada humana, o estado de nosso mundo hoje e o potencial inato dos negócios para causar um impacto positivo no mundo”.
Anne participa também de grupos de discussões que abordam o tema, como o humanizadas.com e o Insituto Amuta.
Ela explica que, no capitalismo consciente, a visão vai para além do alcance de resultados financeiros. Também é fator fundamental para as empresas a entrega de resultados positivos para a sociedade, com um impacto em questões sociais, ambientais e econômicas que “beneficiem o coletivo”.
Entre os benefícios observados pelas empresas que aderem ao capitalismo consciente estão:
- Convivência harmônica entre empregadores e funcionários;
- Satisfação do funcionário e do cliente;
- Maior envolvimento da comunidade;
- Melhorias para a sociedade e para o meio ambiente.
Por que as empresas devem estar atentas ao capitalismo consciente?
É cada vez maior o número de gestores que acreditam que a responsabilidade social e a adoção de práticas sustentáveis precisam pautar ações empresariais.
Algo que constata esse maior engajamento com as pautas de bem-estar coletivo é o crescimento do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), uma organização que reúne mais de 100 empresas, muitas delas gigantes do mercado brasileiro.
O CEBDS observou um crescimento de 63% em dois anos no número de empresas que aderiram ao comitê.
O único caminho para a prosperidade das empresas – ao considerar que elas são partes desse ecossistema interdependente –, segundo Anne, é reconhecer a importância das pessoas e da rede de relações, como um modo de valorizar todos os stakeholders.
“É importante que nos reconheçamos como uma comunidade. [Entendermos] Que a minha existência afeta e é afetada pela existência de milhares de outros indivíduos e pelo ambiente que criamos juntos”, ressalta.
Capitalismo Consciente e práticas ESG
A abordagem ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance), assim como o capitalismo consciente, busca uma forma mais responsável e sustentável de fazer negócios.
Considerado uma resposta necessária das empresas frente aos desafios da sociedade, procura avaliar e gerenciar seus impactos ambientais e sociais com a implantação de práticas de governança responsáveis e éticas.
Anne Bertoli explica que, para que as empresas estejam alinhadas às ideias de desenvolvimento sustentável do capitalismo consciente, é preciso desapegar das formas antiquadas de se relacionar com o ecossistema.
“Gosto muito de pensar a partir da teoria do espírito do tempo, o Zeitgeist. Podemos observar que os modelos de liderança e gestão que regem as organizações estão apresentando sinais de esgotamento. O que funcionava já não funciona como antes”, analisa.
De acordo com a profissional, as organizações foram desenhadas como “máquinas”, e os líderes aprenderam a atuar de maneira a controlar pessoas e extrair delas a maior produtividade possível, com a entrega de resultados a um grupo muito restrito de stakeholders.
Entre os termos e conceitos que revelam o contexto atual de desenvolvimento dentro das empresas, Anne Bertoli aponta alguns:
- Lideranças que apoiam as pessoas, os times e a cultura organizacional na sua capacidade de responder a mudanças.
Capitalismo consciente é mais que status junto ao público consumidor
A especialista em humanização dos ambientes de trabalho entende que há uma busca inevitável pela coerência por parte das empresas, dividindo esse caminho para as organizações em três pontos: o saber, o absorver e o implementar.
“Quando o que penso, o que sinto e o que faço está em harmonia, em coerência e cooperação, estou verdadeiramente no caminho para a minha melhor, mais sustentável e próspera versão”, explica.
Segundo Anne, o reconhecimento da importância dessas pautas para a nossa sociedade é incontestável, indo além de um possível status.
“Nosso trabalho como influenciadores do mercado – afinal, todos somos influenciadores do mercado de alguma forma – é facilitar para que nossas ações façam cada vez mais sentido e se voltem ao equilíbrio do ecossistema que somos parte”.
4 princípios básicos do capitalismo consciente
São quatro princípios básicos que guiam as empresas dentro do capitalismo consciente: propósito, orientação para stakeholders, liderança e cultura consciente.
Anne Bertoli explica como é o funcionamento de cada um deles dentro dessa filosofia:
1. Propósito
Propósito é o que estabelece a razão pela qual a organização existe e como ela busca fazer a diferença na vida das pessoas, da sociedade e do planeta.
“O propósito maior deve inspirar, mobilizar e alinhar os interesses em torno de um objetivo comum. Ele expressa o significado e a intenção genuína que as pessoas atribuem ao seu papel, às relações e à visão de futuro do negócio”, salienta.
2. Orientação para stakeholders
A orientação para stakeholders representa como a organização busca colocar seu propósito em prática, gerando valor a todos os stakeholders. Dessa forma, busca-se alcançar transformações positivas e agregar valor ao trabalho.
3. Liderança ativa
Abraçar o propósito da organização, de maneira a colocar o coletivo acima do individual, é o que se espera das chamadas lideranças ativas. “Diz respeito ao jeito de ser e estar nas relações que as lideranças trazem na convivência do dia a dia”, afirma Anne.
A especialista traz alguns pontos necessários para o desenvolvimento de uma liderança ativa:
- Como as lideranças agem para servir aos processos? Há inclusão e empoderamento das pessoas com a geração de impactos positivos?
- Como está a qualidade de escuta das lideranças? Elas não fazem esforço para ouvir as pessoas ou ouvem com empatia e incluem novas visões de maneira realmente aberta?
- Para onde as lideranças estão direcionando suas equipes? Querem apenas que metas sejam atingidas ou há a sustentação do bem-estar de todos e a inclusão da diversidade?
Anne faz questão de ressaltar a necessidade de haver maior diversidade dentro das lideranças nas organizações, com pessoas com pontos de vista e trajetórias de vida diferentes.
“Precisamos de mais mulheres na liderança e de outras identidades de gênero além de homens ou mesmo de homens que sejam mais holísticos em sua abordagem, mais conscientes, que tenham inteligência emocional e espiritual. Acho que esse é o maior desafio e a maior oportunidade”.
4. Cultura consciente
A cultura consciente nada mais é do que os comportamentos e as dinâmicas que regem a teia de relações da organização. Ela tem um viés claramente positivo e é guiada por valores, como: ética, transparência e integridade.
Segundo Anne, o que as pessoas fazem na organização, como elas se relacionam e como elas percebem a estrutura organizacional são pontos a serem observados para entender em qual momento de consciência a organização está.
“Quando as empresas estão claramente em busca de desenvolvimento de forma flexível e criativa muito além de organogramas rígidos, são grandes as chances de alcançar resultados positivos e sustentáveis”, acrescenta.
Como o capitalismo consciente é absorvido pelos colaboradores?
Estudos apontam que as gerações Y (Millenials) e Z formam 75% da força global de trabalho e que, por causa da idade e da visão de mundo, esses colaboradores são mais propensos a esse modelo de gestão.
“Eles trazem consigo hábitos e interesses quanto a trabalho, consumo, relação com meio ambiente e tecnologias mais conscientes, equilibradas e flexíveis”, explica Anne Bertoli.
A especialista destaca que a geração Alpha, que em breve estará nas organizações, será ainda mais focada em flexibilidade, autonomia e com um grande potencial para trabalhar de forma colaborativa.
“Portanto, negar ou distanciar-se dessa realidade significa se colocar fora de um movimento global em prol de uma nova economia orientada aos stakeholders”, diz.
E o futuro do capitalismo consciente?
O movimento do capitalismo consciente está em expansão, e a postura antiga, com os acionistas no centro e o lucro como único objetivo de um negócio, soa como ultrapassada.
Anne garante que o processo de transição vai acelerar em pouco tempo e que é algo inevitável.
“Penso nessas mudanças como vemos o processo de ebulição da água. Uma hora ela ferve e só então notamos, mas estava ali em processo de elevação de temperatura há tempos. As mudanças começam devagar e, de repente, atingem as massas”, aponta a especialista.
A Alelo é uma empresa associada ao Instituto Capitalismo Consciente Brasil, representação oficial do movimento global aqui no Brasil. A adesão sinaliza o esforço em buscar formas para transformar o jeito de se fazer negócios, para diminuir as desigualdades sociais. <3