Trabalhar seis dias consecutivos e folgar no sétimo. É dessa maneira a rotina de trabalho na chamada escala 6 x 1, uma jornada adotada em empresas de diversos segmentos que pedem operação contínua em dias e horários fora do padrão, em locais, como: restaurantes, bares e padarias.
Vista como necessária e flexível pelos seus defensores, mas entendida como exaustiva por aqueles que pedem seu fim, a existência da escala 6 x 1 tem gerado debates acalorados nos últimos tempos. Um abaixo-assinado que quer a proibição dessa jornada já ultrapassa o número de um milhão de assinaturas e ganha força dentro do Senado Federal.
Mas será que é possível a manutenção desse ciclo de trabalho sem resultar em prejuízos para nenhum dos lados?
Veja a seguir como gerenciar esse modelo de escala em sua empresa de forma eficiente e dentro do que diz a lei trabalhista, inclusive em relação a quem bate ponto aos domingos e feriados.
Bora lá?
O que é a escala 6 x 1?
Um tipo específico de jornada de trabalho, a escala 6 x 1 define que o colaborador trabalhe seis dias consecutivos e ganhe a folga no sétimo, independentemente do dia da semana.
Assim, esse sétimo dia pode cair durante os chamados dias úteis (de segunda a sexta-feira), no fim de semana (sábado e domingo) ou em um feriado. O importante é que seja respeitado o intervalo de seis dias trabalhados para um de descanso.
Regulamentada pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), essa escala é especialmente utilizada em empresas que pedem operação contínua, em:
- Restaurantes;
- Bares;
- Hotéis;
- Resorts;
- Supermercados;
- Padarias;
- Lojas de conveniência;
- Lojas de shoppings centers;
- Call centers;
- Empresas de suporte técnico;
- Farmácias;
- Hospitais e clínicas;
- Empresas de transporte público (ônibus, metrô);
- Companhias aéreas;
- Empresas de vigilância e patrulhamento;
- Postos de combustível.
A distribuição da carga horária de trabalho diária deve respeitar o limite máximo de 44 horas semanais, algo previsto no artigo 58 da CLT, o que alocado por seis dias chega a uma jornada diária de 7 horas e 20 minutos.
É preciso destacar que a distribuição das horas de trabalho e a organização das folgas pode variar conforme acordos coletivos ou regras internas da empresa, porém sem nunca desrespeitar o limite semanal de 44 horas.
E como ficam os domingos e feriados na escala 6×1?
Há regras trabalhistas específicas referentes à escala 6×1 que é preciso estar de olho para não sofrer penalidades.
Uma delas é o descanso semanal remunerado (DSR), direito do trabalhador relacionado ao dia de descanso semanal remunerado, a cada período de seis dias de trabalho consecutivos.
Também relativo ao salário, outra regra prevista é a remuneração adicional quando um dos dias de trabalho é aos domingos. Nesse caso, o colaborador deve receber um adicional de, no mínimo, 50% sobre o valor da hora normal de trabalho.
Já em feriados, a previsão é que a compensação seja feita com um dia de folga ou pagamento em dobro (100%).
Se a folga coincidir com um feriado, o colaborador não tem direito a um dia livre extra ou um pagamento a mais. Isso porque a folga é entendida como um dia para descanso, o que já foi realizado com o feriado.
Por que é importante gerenciar a escala 6×1?
Por características como alto número de horas trabalhadas e o pouco tempo para descanso e lazer, a escala 6×1 pode apresentar vários problemas para os trabalhadores, especialmente em termos de equilíbrio entre vida profissional e pessoal, saúde e bem-estar, gerando doenças e distúrbios como: cansaço, fadiga, estresse e síndrome de burnout.
Gerenciar adequadamente esse modelo é um desafio para os empresários, que precisam ao mesmo tempo:
- Manter os profissionais longe de doenças ocupacionais e motivados com o trabalho;
- Garantir que todos os colaboradores recebam suas folgas de acordo com a legislação, algo muito complicado em empresas com muitos funcionários.
- Evitar que faltem profissionais para a realização de trabalhos em determinados dias e locais;
- Fazer a empresa andar dentro das regras e evitar penalidades por desrespeito às leis trabalhistas.
A escala 6×1 vai acabar?
Ainda não é possível saber se a escala 6×1 se aproxima do fim, mas a movimentação nesse sentido tem sido grande, e sua diminuição pelo que tudo indica é um caminho sem volta.
Uma das propostas em análise no Senado é o projeto de lei (PL) 1.105/2023, que pede a inclusão na legislação trabalhista da possibilidade de redução das horas trabalhadas diárias ou semanais, sem perda na remuneração.
Os críticos dessa jornada de trabalho, como o grupo Vida Além do Trabalho (VAT), apontam que ela traz prejuízos à vida social e à saúde do trabalhador, que fica com pouco tempo livre para contato social, e com baixa disposição em realizar outras atividades, como exercícios físicos ou hobbies.
Há ainda outras movimentações no mundo corporativo que vão ao encontro de menos tempo no trabalho e valorização da vida pessoal.
Um deles é a quiet quitting (demissão silenciosa), uma corrente contemporânea para que se faça somente aquilo que está descrito no contrato de trabalho, sem horas extras ou compromissos adicionais.
Existe também a tendência em abolir as semanas com cinco dias úteis, apontando para uma escala 4×3. Sem a diminuição na carga horária e impacto na remuneração. A jornada de quatro dias semanais é uma realidade em empresas no mundo inteiro.
Já os defensores da escala 6×1 olham pelo lado da flexibilidade, pois ela permite um dia livre na semana. O colaborador pode usar esse tempo para descansar ou resolver pendências que só podem ser solucionadas em horário comercial.
Dicas para gerenciar a escala 6×1 de forma eficaz
Como o fim da 6×1 é somente uma discussão, os lugares que a empregam na jornada de seus colaboradores ainda precisam realizar o gerenciamento da escala da forma mais tranquila possível.
Veja algumas dicas para garantir a satisfação e a produtividade da equipe:
- Faça o planejamento com antecedência para que os colaboradores possam planejar a vida pessoal. Isso ajuda a evitar conflitos e garante que todos estejam cientes de suas folgas e dias de trabalho;
- Sempre que possível, alterne os dias de folga entre os funcionários para que todos tenham a oportunidade de descansar em dias que melhor se adaptem às suas necessidades pessoais, como finais de semana ou feriados;
- Mantenha uma comunicação clara e aberta sobre como a escala 6×1 funciona e as razões por trás dela. Explique os benefícios e as compensações envolvidas, como horas extras ou folgas compensatórias;
- A escala 6×1 pode ser desgastante, então acompanhe regularmente o bem-estar dos funcionários, identificando possíveis sinais de cansaço ou estresse. Assim, fica mais fácil fazer ajustes conforme necessário;
- Ofereça flexibilidade para troca de turnos ou dias de folga entre os colaboradores. Isso pode aumentar a satisfação e permitir que eles gerenciem melhor seus compromissos pessoais;
- Treine as lideranças para gerenciar a escala de maneira justa e eficiente. Eles devem ser capacitados para lidar com solicitações de troca de folga e resolver conflitos de forma imparcial.