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Como promover a inclusão de profissionais com mais de 60 anos

O Brasil está envelhecendo – e rápido. A virada de perfil que transformará o território dominado por jovens em um país grisalho acontecerá em 2030. Previsões do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dão conta de que daqui a apenas 11 anos, os idosos chegarão a 41,5 milhões (18% da população) e as crianças de até 14 anos serão 39,2 milhões (17,6%). Seremos mais avós do que netos. Até 2050, a quantidade de pessoas idosas vai triplicar no país, alcançando 66,5 milhões de brasileiros — quase 30% do todo. Esses dados implicam em muitas mudanças que vão desde questões sociais, econômicas, de saúde e também no mercado de trabalho.

Afinal, como promover a inclusão de profissionais com mais de 60 anos quando ainda há preconceito a respeito de idade no mercado de trabalho? Segundo Mórris Litvak, fundador da MaturiJobs, plataforma de empregos para pessoas com mais de 50 anos, o primeiro passo é compreender que o convívio entre as gerações deve ser encarado de forma positiva.

“As empresas que notam isso saem na frente. O envelhecimento da população não é uma tendência, é uma realidade”, diz Mórris. Segundo ele, pessoas com mais de 50 anos costumam faltar menos ao trabalho, o que diminui o índice de absenteísmo, são mais pontuais, e reduzem o turnover das empresas — uma vez que registram alto tempo de permanência nas companhias.

“Em resumo, o idoso no mercado de trabalho ajuda a reduzir os gastos das empresas. E essa nem é a principal vantagem de empregar esse público”, diz o executivo, que elenca a troca de experiência entre as gerações e o poder de compreender as pessoas com mais idade como diferenciais desse público. “Se o Brasil está envelhecendo, por que não contratar pessoas mais velhas para desvendar o que esse novo comprador quer consumir?”, questiona.

Idosos no mercado de trabalho ajudam a desvendar tendências de consumo

Ter pessoas com mais de 50 anos na equipe pode funcionar como uma carta da manga à medida em que elas são capazes de ajudar no relacionamento com clientes e a desvendar o que esse perfil de público espera do consumo no país. 

Alguns dados ajudam a entender a relevância financeira dessa parcela da população. Uma sondagem da Quorum Brasil, consultoria especializada em hábitos de consumo da população mais velha, prevê que o poder de compra dessas pessoas alcança 2,4 bilhões de reais ao ano. Mas o volume pode ser maior ainda. Um levantamento da consultoria Nielsen afirma que sozinho o setor de fraldas geriátricas movimentou 901 milhões de reais no Brasil – entre junho de 2015 e junho de 2016 –, sendo um segmento que cresce dois dígitos ao ano e revela apenas uma pequena parcela de consumo desse público. Viagens, produtos de beleza, atividade física, alimentação saudável, dispositivos eletrônicos de última geração, dentre outras propensões de compras, entram na lista de desejos de quem movimenta a chamada Silver Economy (economia de prata), impulsionada por maiores de 55 anos. 

Como receber profissionais da melhor idade nas empresas?

Não é possível descartar os preconceitos com os idosos no mercado de trabalho, mas esse tabu precisa ser dissipado. Empregar essa fatia da população pode ser interessante por vários aspectos: redução de gastos do governo com saúde, incentivo ao consumo, aumento da autoestima e ganhos econômicos para o país. 

Segundo um estudo da consultoria PwC em parceria com a FGV, se o Brasil criasse instrumentos para ampliar a empregabilidade de pessoas mais velhas poderia aumentar seu PIB em 18,2 bilhões de reais por ano. “Profissionais com bagagem e experiência na tomada de decisões só trazem ganhos para as companhias e precisam ser encarados como primordiais”, afirma João Lins, professor da FGV.

Por isso, criar um ambiente empático é fundamental. A liderança tem papel vital nessa integração. Segundo Vanessa Lins, especialista em RH, o primeiro passo é falar sobre o assunto para que ele deixe de ser um tabu. “Os mais jovens aprendem com a experiência, os mais velhos aprendem o que há de mais recente em termos técnicos. É uma via de mão dupla e esse relacionamento vale a pena”, diz.

Empresas que contratam idosos reduzem gastos e aumentam produtividade

Algumas empresas já conseguiram compreender os benefícios de misturar as gerações no ambiente de trabalho. O Grupo Dasa fez uma campanha de contratação de talentos de 35 a 60 anos, reduziu índice de absenteísmos e notou aumento da produtividade das equipes. O Grupo Boticário iniciou uma campanha para contratação de vendedoras com mais de 50 anos para a marca Quem Disse Berenice, a fim de melhorar a qualidade de atendimento. A Leroy Merlin contratou profissionais maduros para posições de tempo parcial, especialmente para aumentar o quadro de funcionários aos finais de semana, quando os jovens não tinham interesse de trabalhar. 

“As gerações se completam. Não se pode discriminar um talento pela sua idade, isso seria um desperdício”, diz Mórris, que mantém 110 mil pessoas com mais de 50 anos no banco de dados da MaturiJobs a espera de uma vaga e ajuda na capacitação dessa mão de obra.

O assunto é inevitável e cada vez mais empresas estão apostando nos talentos grisalhos para alavancar os negócios.

A seguir, preparamos algumas dicas de especialistas da consultoria de RH Robert Half sobre como resolver eventuais conflitos entre gerações nas equipes:

1 – Canal aberto para o diálogo: Muitas vezes, a nova geração não vai se contentar em seguir as regras e tenderá a questionar e propor soluções próprias. Os mais velhos tendem a não ter muita paciência com isso. Portanto, a empresa deve favorecer o diálogo, criando um ambiente propício para essa troca de ideias, ao mesmo tempo em que consegue racionalizá-las em um projeto prático. Cabe à gestão das empresas e às lideranças das áreas evitar ao máximo os estereótipos e estabelecer uma comunicação humana e solidária entre os funcionários, incentivando a convivência sadia.

 2 – Esclareça quais são as expectativas de trabalho: Cada geração de trabalhadores tem uma perspectiva de sucesso diferente da outra. Para alguns, uma atividade entregue antes do prazo é o suficiente para classificar o profissional como competente. Para outros, cumprir os horários e se manter assíduo com as atividades de trabalho é o diferencial. Essas divergências de pensamentos em relação ao trabalho podem interferir muito no relacionamento. Para que todos estejam alinhados com os objetivos da organização, é importante expor de forma clara e objetiva quais são as expectativas da empresa em relação a seus colaboradores. Isso torna mais fácil a convivência.

3 – Estimule a comunicação no ambiente de trabalho: Passar grande parte do dia em um ambiente em que as pessoas ignoram umas às outras — e não se conhecem — interfere diretamente no clima organizacional. Por isso, é importante estimular a criação de relacionamentos entre os colaboradores, em especial entre aqueles de diferentes gerações. Criar eventos como café da manhã, happy hour ou treinamentos coletivos pode ajudar. Vale até modificar o layout da empresa para que as pessoas fiquem mais próximas.

4 – Atribua tarefas de forma clara: Antes de atribuir tarefas, pense em como essas atividades serão recebidas por cada geração de trabalhadores. Certifique-se de que as orientações sejam claras e específicas; relacione um prazo por data e hora; tenha certeza de que todos entenderam a sua função no processo.

5 – Esteja ciente dos obstáculos baseados em geração: O mundo está em constante evolução, e os recursos tecnológicos são os grandes responsáveis por boa parte dessas transformações. Garantir que todos estejam alinhados com os desenvolvimentos mais recentes, por meio de treinamentos ou até mesmo mentorias — onde há uma troca de experiências entre as gerações em um programa formal — pode ser uma alternativa para eliminar divergências e evitar o conflito.

6 – Extraia o melhor dos funcionários: O líder tem o papel de conhecer sua equipe e extrair o melhor dela. Ao montar um projeto é importante ter em mente em que área as pessoas são melhores. Por exemplo, se o projeto for elevar as vendas de determinado produto, os mais experientes podem fornecer dados sobre os históricos e hábitos dos clientes na empresa, enquanto a geração mais jovem pode ajudar com uma divulgação massiva nas redes sociais. Assim, à medida que o trabalho flui, ficará mais fácil gerenciar as diferentes maturidades no ambiente de trabalho.

Você já passou por alguma dificuldade no mercado de trabalho por conta da sua idade? Compartilhe com a gente sua experiência!

 

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