Com a aproximação das últimas semanas de 2024 e o fechamento do ano, os times de Recursos Humanos iniciam os preparativos para 2025, definindo o que deve ser prioridade no desenvolvimento estratégico para um ambiente mais inovador e criativo nas empresas. 

Ao fazer esse alinhamento com a definição de projetos, metas e desafios para o próximo ciclo, o RH precisa levar em consideração as políticas que vêm sendo ajustadas no contexto organizacional e observar as tendências em relação à gestão de pessoas.

Devem continuar em alta, por exemplo, questões como as práticas ESG, que segundo a pesquisa “Panorama ESG 2024”, experimentaram um crescimento de 24 pontos percentuais de implementação em empresas na comparação em relação a 2023, e o uso da Inteligência Artificial, que de acordo com o estudo “Transformação Digital do RH”, é uma ferramenta do dia a dia para três de cada dez profissionais de RH no Brasil.  

Enfim, entender o que é preciso fazer hoje para chegar ao futuro devidamente preparado, passa por adotar uma postura que implica antecipar as necessidades organizacionais, investir no desenvolvimento contínuo dos colaboradores e promover uma cultura de inovação.

Para fazer esse exercício de “futurologia”, convidamos quatro profissionais do setor para compartilharem suas visões de quem está por dentro da gestão, e quais são as propostas que serão prioridade na construção do RH versão 2025. 

Bora ver para onde os ventos levam?

Cintia Kawâbata: mudança comportamental e automatização dos processos

Após um ano marcado por desafios variados e significativos para o setor de Recursos Humanos, segundo a gerente de RH, Gente e Gestão da Consultoria KM, Cintia Kawâbata, o que deverá marcar 2025 é o trabalho que visa a mudança comportamental dos colaboradores por meio da gestão. 

Cintia também aborda a crescente tendência para automatização de processos relacionados ao recrutamento, integração e gestão de desempenho.

Segundo ela, ao mesmo tempo em que a utilização de ferramentas tecnológicas liberará o RH para focar em iniciativas mais estratégicas, há o desafio de “implementar essa tecnologia sem comprometer o toque humano, necessário na gestão de talentos, buscando um equilíbrio entre tecnologia e relacionamento interpessoal”.

Sobre a Inteligência Artificial como aliada a partir da análise preditiva para identificar talentos e personalizar treinamentos, Cintia também se coloca a favor.

“É responsabilidade do RH usar essa tecnologia de maneira ética e eficaz, garantindo que as decisões permaneçam centradas nos profissionais, enquanto educa as equipes sobre como interagir com essas ferramentas”, ressalta.

Outro ponto que não deverá sair de pauta em 2025 é o compromisso com temas como o ESG e o capitalismo consciente, que devem emergir ainda mais com o RH em posição de liderança destas iniciativas que têm objetivos para além do lucro.

“Isso significa cultivar uma cultura que valoriza a ética e a responsabilidade social, atraindo e retendo profissionais que compartilhem desse propósito e assegurando que a missão da empresa esteja alinhada com essas práticas”, analisa Cintia Kawâbata.

“O cenário para 2025 traz muitos desafios, mas também grandes oportunidades. O RH se torna um defensor da cultura organizacional e um verdadeiro agente de mudança, sempre lembrando que, no centro de todas essas iniciativas, estão os profissionais”, completa.

Renan Conde: Inteligência Artificial, uma ferramenta indispensável

CEO da Factorial, Renan Conde coloca o RH como um pilar cada vez mais estratégico, “que realmente faz a diferença na experiência do colaborador e no crescimento sustentável das empresas”, além de colocar a Inteligência Artificial como “uma ferramenta indispensável para entender o comportamento e as necessidades de cada equipe, possibilitando uma gestão personalizada”.

Para ele, a verdadeira mudança ocorre quando a tecnologia se integra de forma orgânica ao dia a dia, permeando as operações de RH mesmo para usuários com baixa proficiência digital.

Quando é alcançado um nível robusto de automação, continua Renan Conde, surgem novos horizontes de análise e insights, especialmente por se tratar de uma abordagem não apenas orientada a dados, mas focada na entrega de uma informação que seja realmente útil ao usuário.

“Ou seja, não é necessariamente só uma abordagem ‘data-driven’, é ‘user data-driven’. Cada departamento e colaborador busca por alavancas que agreguem valor prático ao seu contexto, seja ele uma padaria, uma linha de produção ou uma empresa tech na Faria Lima. É isso que transforma a tecnologia de suporte em um agente estratégico para negócios diversos”, aponta o CEO. 

Cristiane Mainardes: foco no alinhamento da cultura organizacional

Conforme o conceito de trabalho passa a incorporar valores e necessidades mais amplas, mais profundas são as relações entre colaboradores e organizações.

Seguindo essa linha de pensamento, a psicóloga e consultora de Gente, Gestão e Cultura do Instituto Defor, Cristiane Mainardes, explica que as expectativas não se limitam mais ao salário e ao crescimento profissional de décadas anteriores.

De acordo com ela, há agora uma maior busca em um alinhamento entre os valores pessoais dos colaboradores e o propósito da empresa, o chamado fit cultural, e que o “RH funciona como um catalisador fundamental nessa nova era”. 

“A criação de um senso de pertencimento, integrando os colaboradores na narrativa e no propósito da organização, será um dos maiores desafios. Esse sentimento de conexão é uma prioridade para os profissionais, especialmente à medida que mais gerações entram no mercado com uma visão voltada para propósito e impacto”, diz a consultora. 

O RH terá a responsabilidade, segundo estudos apontados por Cristiane, de “vincular a visão organizacional com o dia a dia dos colaboradores”, ajudando-os a ver sua contribuição no quadro maior.

“Essa conexão é essencial para que os talentos permaneçam engajados e sintam que estão trabalhando em prol de algo maior do que apenas resultados financeiros”.

Cristiane também destaca para 2025 a valorização de empresas que priorizam o aprendizado contínuo e o desenvolvimento de habilidades, algo visto com a educação corporativa e a consequente criação de “ecossistemas de educação”, por meio de treinamentos, cursos e workshops.

“Essas organizações estarão mais preparadas para manter um time de alta performance, com foco no desenvolvimento constante, uma vez que as habilidades precisam ser adaptadas a um ambiente de trabalho em constante transformação”, aponta.

A abordagem humanizada e personalizada, onde o departamento se torna um especialista em entender as motivações, é o futuro do RH. 

João Torres: cultura organizacional centrada no ser humano

O direcionamento das empresas para construir culturas onde o lado mais humano é o foco, com respeito total à unicidade e individualidade de cada colaborador, é o que deve estar no horizonte do RH em 2025, aponta João Torres, sócio-fundador da consultoria Mais Diversidade.

Essa abordagem melhora o engajamento e promove um ambiente de trabalho saudável e colaborativo, onde a empatia e a confiança são fundamentais.

“É a hora de exaltar o nosso lado mais humano, transformando culturas e modelos de trabalho ultrapassados que não fazem mais sentido”, alega João sobre as expectativas para 2025. 

O fundador da Mais Diversidade coloca também a priorização dos cuidados com a saúde mental e o bem-estar da equipe de colaboradores, segundo ele devido ao crescimento  dos casos de burnout e outras doenças e distúrbios ocupacionais. 

Sobre a questão de diversidade e inclusão, João vê como necessário o RH colocar sua força na expansão desses valores para além dos muros da empresa, influenciando parceiros e fornecedores, com o oferecimento por meio de plataformas integradas que abordem o tema com outros players do mercado.

“Assim, a cadeia de valor se torna inclusiva e equitativa, aumentando seu impacto social positivo e engajando stakeholders nas discussões por mais equidade”, aponta o representante da Mais Diversidade. 

“Essas tendências refletem a busca por um ambiente de trabalho mais humano, flexível e adaptado às novas tecnologias. As tendências em Recursos Humanos guiarão as empresas rumo a um futuro que prioriza pessoas, inovação e responsabilidade social, até que construamos um mundo com mais respeito, justiça, felicidade e amor para todas as pessoas”, acrescenta. 

Karine Carvalho: o potencial do RH nas empresas de menor porte

O avanço acelerado da tecnologia e a crescente busca por ambientes de trabalho mais significativos não trazem benefícios apenas para empresas de grande porte. Empresas de pequeno e médio porte (PMEs) também devem sair em vantagem em 2025, garante Karine Carvalho, CEO e HR Business Partner da InoveBen RH.

“Muitas dessas organizações têm potencial para se posicionar ao lado de grandes corporações em termos de performance e atratividade, desde que implementem estratégias eficazes de cultura organizacional, clima positivo e marca empregadora”, explica.

De acordo com Karine, pequenas e médias empresas conseguem se sobressair, adaptando-se rapidamente às mudanças de mercado em questões como cultura organizacional e employee experience

“Em 2025, PMEs com estratégias que envolvem o colaborador desde o processo seletivo até o desligamento serão vistas como referências em cuidado e respeito. Isso inclui desde feedbacks constantes até benefícios flexíveis e customizados, o que ajuda a criar uma jornada do colaborador rica e cheia de significado”.

A CEO da InoveBen cita ainda outros pontos positivos que precisam estar aprimorados dentro das PMEs e que fazem parte das demandas do RH, como a comunicação transparente e consistente, o feedback contínuo para ajustes rápidos e eficientes e a atuação de líderes que atuam como mentores, indo além da gestão de tarefas. 

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