Em países como Alemanha, Bélgica, Islândia, Escócia e Suécia, a semana de quatro dias de trabalho já é uma realidade. A tendência observada na Europa vai ganhando reflexos no Brasil e já há empresas em solo nacional que optam por três folgas semanais.
Historicamente o formato de redução de horas se mostrou benéfico tanto para empresas como para funcionários. O modelo de cinco dias por semana, por exemplo, foi introduzido por Henry Ford, fundador da montadora americana de veículos Ford.
Em 1926, ele descobriu que a produtividade e o lucro aumentavam com a semana de cinco dias – até então, os trabalhadores tinham apenas um dia de folga semanal, no geral.
Será que estamos passando por outra mudança estrutural? Afinal, como manter a produtividade com uma jornada de trabalho menor?
O Blog da Alelo ouviu especialistas e te ajuda a compreender os pontos positivos e desafios dessa nova forma de trabalho. Confira a seguir:
Na Islândia, considerada uma das referências na adesão com sucesso da jornada de quatro dias de trabalho, a semana de 40 horas foi reduzida para 35 ou 36 horas trabalhadas, sem impacto na remuneração. Por lá, 86% dos trabalhadores já usufruem do direito.
Na Bélgica, por sua vez, a aposta é a flexibilidade. O colaborador pode optar por trabalhar quatro ou cinco dias, mas sem que sua carga de trabalho semanal seja alterada – apenas a divisão de horas por dia. A cada seis meses o funcionário pode mudar o regime de trabalho.
Na Alemanha, são principalmente as pequenas empresas e startups que têm apostado na semana mais curta. Já no Japão, a mudança está em teste. Grandes companhias, como a Microsoft, estão dando aos funcionários um fim de semana longo por mês para testar o formato.
Lá do outro lado do mundo, na Nova Zelândia, a fase também é de testes. Por lá, a multinacional de alimentos e produtos farmacêuticos Unilever está testando a semana de quatro dias com a mesma remuneração por cerca de um ano. Se o modelo tiver sucesso, a empresa planeja expandi-lo para outros países.
Por aqui, a jornada de quatro dias ainda não emplacou em larga escala. Poucas empresas estão realizando alteração no formato de trabalho por enquanto, mas a tendência é que o assunto ganhe força nos próximos anos.
Companhias como Winnin, AAA Inovação e Crawly já adaptaram a rotina dos colaboradores brasileiros com uma semana mais curta e garantem que não houve queda na produtividade. Segundo as companhias, houve um ganho de bem-estar e satisfação entre os funcionários.
Desde 2018, a jornada de trabalho de quatro dias é rotina na Crawly. A startup mineira de tecnologia possibilita que 90% da equipe possa descansar três dias por semana, e planeja que em breve 100% do time seja contemplado pelo 4×3.
De acordo com Pedro Naroga, cofundador e CTO da empresa, a iniciativa é pontual para aumentar a qualidade de vida do colaborador e também para diminuir os índices de rotatividade.
“Acreditamos que um dia a mais de descanso por semana e a adoção do home office contribuem para deixar as pessoas mais felizes, mais saudáveis, gerando assim um ambiente de trabalho mais agradável. E é comprovado que pessoas mais felizes, descansadas e saudáveis produzem mais”, diz.
Para o psicólogo especializado em doenças do trabalho, Adriano Costia, com o crescimento das estatísticas referentes a enfermidades mentais, a jornada mais curta pode, de fato, ser uma estratégia importante para ajudar a cuidar do emocional dos colaboradores.
“Adotar modelo home office ou um dia a mais de descanso na semana, ajuda a combater as doenças relacionadas com o alto volume de trabalho. Contudo, é importante criar formas para que essa jornada menor não pressione ainda mais os trabalhadores”, diz.
Também é fundamental compreender que a jornada de quatro dias de trabalho não quer dizer que o colaborador vá trabalhar menos. “O esperado é que com a competência dele seja possível entregar o esperado pela empresa com um dia a menos. Com isso, ele terá mais tempo de descanso, mais qualidade de vida e vai dividir melhor o horário”, avalia Costia.
Para que haja um movimento em massa em direção à iniciativa, há algumas questões que devem ser levadas em consideração.
Por exemplo, ao menos no início pode ser necessário que haja um rodízio para que a empresa não fique fechada em um dia útil. Ou seja, pode haver equipes que trabalhem de segunda à quinta e outras de terça à sexta.
Além disso, a dinâmica precisa ficar clara para os clientes. Pode não ser um problema o funcionário trabalhar de segunda à quinta, mas isso pode se tornar problemático para o negócio não funcionar de segunda à sexta.
Para garantir que os quatro dias semanais sejam suficientes, ações como otimizar a comunicação e eliminar reuniões improdutivas são necessárias. “É verdade que esse formato funciona melhor em alguns setores do que em outros. Por exemplo, estabelecimentos comerciais e área médica dificilmente poderão implantar, a não ser que seja em formato de rodízio”, explica Rafael Reis, consultor de negócios.
Segundo Juliana Silva, advogada especialista em Direito do Trabalho, não há problema legal em caso de uma jornada de trabalho 4×3, desde que algumas regulamentações não deixem de ser seguidas.
Ela explica que estamos habituados com jornadas semanais de 40 a 44 horas, que é o limite máximo imposto pela CLT, sendo qualquer excedente passível de pagamento de horas extras ou acúmulo de banco de horas.
“Em um modelo 4×3 essa rotina poderia ser de até 10 a 11 horas trabalhadas em um dia. A mudança para 10 horas já é testada nos países que utilizam o modelo de quatro dias trabalhados por semana”, explica.
Quanto aos salários, Juliana esclarece que, mesmo que uma eventual redução de horários trabalhados na semana seja a opção escolhida pelas empresas, a remuneração deve ser mantida.
“É bom deixar claro que as empresas não podem escolher uma escala de trabalho alternativa se isso proporcionar prejuízos ao colaborador”, afirma.
O que você acha deste final de semana prolongado? Funcionaria na sua empresa?
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