Passar longas horas em expediente nos escritórios e demais espaços de trabalho é uma rotina comum a muitos brasileiros. O que se deve evitar, principalmente por parte das empresas, é que esses lugares se transformem em um ambiente tóxico.
São nocivas as consequências da exposição a um local onde se tem como regras: a competitividade desleal, o comportamento desrespeitoso e a intimidação constante, fazendo mal tanto para a saúde e autoestima do trabalhador quanto para as pretensões do negócio, uma vez que essa vem a ser a principal causa de pedidos de demissão atualmente.
Por isso, o departamento de Recursos Humanos precisa agir o mais rápido possível nesses casos e colocar o detox em prática, com atitudes positivas e bem gerenciadas.
Veja quais providências tomar para eliminar de vez essas ações prejudiciais. Vamos lá?
O que é um ambiente tóxico no trabalho?
Um ambiente tóxico é aquele constituído de atitudes, comportamentos, regras e rotinas que comprometem a qualidade de vida e o bem-estar dos funcionários, causando uma baixa segurança psicológica.
Nenhum tipo de empresa, seja ela de grande ou pequeno porte, modo presencial ou home-office, ou em qualquer área de atuação, está livre da ameaça de relacionamentos prejudiciais.
Esteja atento para estes sinais:
- Comportamento desrespeitoso, incluindo bullying, discriminação, preconceito, intolerância, assédio sexual, intimidação ou linguagem abusiva;
- Punição severa de erros, criando assim uma “cultura de culpa”, onde há pouca ou nenhuma oportunidade de aprendizado;
- Comunicação falha, com falta de diálogo e mínima abertura para ouvir propostas ou soluções em reuniões e conversas em grupo;
- Fofocas e críticas constantes entre os colaboradores;
- Competição desleal “incentivada” pela diretoria, o que prejudica o trabalho em equipe e colaborativo;
- Supervisão abusiva, com gestores que criam um clima de desconfiança e desconforto.
As consequências geradas pelo ambiente tóxico
O ambiente tóxico no trabalho gera diversos problemas para o trabalhador e para a empresa. Veja as questões que mais são impactadas negativamente:
Problemas de saúde física e psicológica
Ao estar em um local de trabalho em que as relações interpessoais não acontecem de maneira, no mínimo, confortável, o colaborador inevitavelmente será afetado por problemas de saúde psicológica como: estresse, ansiedade, burnout, insônia e depressão.
Esses transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil, afetando diretamente a produtividade das empresas.
Um levantamento de 2023 do Ministério da Previdência Social mostrou que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu 288.865 benefícios por incapacidade (temporária e permanente) devido à disfunção da atividade cerebral e comportamental. O número é 38% maior do que no ano anterior.
É comum que esses problemas mentais que impactam o trabalhador derivem para doenças físicas, como demonstra um estudo feito no Hospital Brigham and Women, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, feito com 22.806 mulheres com média de 57 anos de idade.
A pesquisa aponta que mulheres expostas a ambientes de trabalho muito estressantes, em comparação com as que passam por menos situações de estresse no emprego, têm um risco 40% maior de sofrerem algum evento cardiovascular, como uma cirurgia cardíaca, infarto, derrame cerebral ou morte.
Pedido de demissão
Especialistas em psicologia do trabalho são firmes em aconselhar quem está em um ambiente tóxico no trabalho: procure um novo emprego.
E as pessoas não têm ficado muito receosas antes de seguir por esse caminho e olhar de modo crítico empresas que não valorizam um relacionamento saudável entre os integrantes da sua equipe.
Lidar com um ambiente tóxico tem sido o maior motivo de pedido de desligamento das relações trabalhistas superando outros como: falta de reconhecimento, de um plano de carreira ou de protagonismo na empresa.
Essa é a opinião de 43% dos 387 entrevistados para o “Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho”, uma parceria entre a The School of Life, organização especialista em inteligência emocional, e a Robert Half, empresa global de soluções em talentos.
Alta rotatividade de profissionais e baixa retenção de talentos
Esses relacionamentos prejudiciais minam a produtividade dos colaboradores, que começam a não desempenhar as atividades com energia e dedicação, o que ainda causa a perda da qualidade no desenvolvimento de produtos e serviços.
Assim, para a alta rotatividade de profissionais é um pulo. Afinal, ninguém quer ficar em um lugar onde o reconhecimento é pequeno, com pouca chance de conquistar posições melhores e rendimento do trabalho abaixo do possível.
A baixa retenção de talentos por empresas de ambiente tóxico também é uma realidade, uma vez que trabalhadores da Geração Z – nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e o ano de 2010 – tem pouquíssima flexibilidade e tolerância com lugares assim.
O ambiente tóxico também não permite que a empresa se transforme em um lugar inovador, já que há o desencorajamento para que as pessoas assumam riscos e expressem a criatividade.
Compromete a imagem da empresa
Empresas que não prezam pelo bem-estar dos colaboradores ficam com má reputação, perdendo assim prestígio junto aos clientes e ao público em geral, além de não serem consideradas por profissionais que estão no mercado de trabalho.
Casos mais graves de comportamento desrespeitosos, humilhantes e constrangedores com trabalhadores, quando denunciados, são julgados pela Justiça do Trabalho, enquadrados como assédio moral.
Como o RH deve trabalhar contra o ambiente tóxico?
Ao adotar algumas práticas e abordagens, o time de Recursos Humanos assume um papel de “desintoxicação” de lugares onde as relações de trabalho são insalubres.
Com base no estudo “Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho”, veja algumas estratégias de criação de ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos:
Identificação de ambientes tóxicos
Conflitos frequentes, falta de apoio ou altos níveis de estresse são sinais agudos de que as coisas não andam bem na empresa
O RH precisa estar alerta e abordar esses problemas de maneira rápida e adequada, com revisão de políticas, mediação de conflitos e, caso necessário, mudanças nas peças de liderança.
Criação de culturas de trabalho saudáveis
Por meio do respeito, da comunicação aberta e da empatia, há a construção de uma cultura de trabalho saudável.
Um modo de fazer isso é incentivando o cuidado com a saúde física dos funcionários, com assistência médica e cobertura de seguro saúde, e estímulo a hábitos saudáveis, como: alimentação nutritiva e uma vida ativa, com espaço para atividades físicas, aulas de yoga e meditação.
Treinamento em inteligência emocional
Oferecer programas de treinamento em inteligência emocional, com desenvolvimento dos powers skills, é uma boa maneira de sustentar as relações interpessoais no escritório.
Essas habilidades ajudam muito na interação entre os funcionários e se transformam em fator vital para trabalhos colaborativos e em equipe, algo cada vez mais precioso no mundo corporativo.
Promoção da saúde mental
A parceria entre The School of Life e a Robert Half revela ainda que, apesar da importância em apoiar funcionários emocionalmente abalados, 28,16% dos entrevistados afirmaram que as empresas nas quais trabalham não oferecem nenhum apoio aos profissionais que enfrentam questões relacionadas à saúde mental.
Para o bem-estar mental de todos, o RH pode colaborar com o desenvolvimento de políticas e práticas que promovam um ambiente de trabalho mais saudável.
São de grande valia workshops sobre saúde mental, abordando temas como: gerenciamento do estresse, autocuidado, habilidades de enfrentamento e prevenção do esgotamento.
Liderança consciente
O modo de agir dos líderes de equipes é fator decisivo para um ambiente seguro no trabalho.
No entanto, nem sempre a gestão tem impacto positivo, como mostra um estudo realizado com mais de 95 mil líderes, de 49 países, pelo Hay Group em parceria com a Universidade de Harvard, em que quase 50% desses agentes criam um ambiente desmotivador na empresa, e apenas 19% causam um impacto positivo.
Gestores sem empatia conseguem acabar com a saúde mental dos colaboradores, por isso, é preciso capacitar esses líderes para que promovam o cultivo da consciência, compaixão, autenticidade e compreensão em todos os aspectos da liderança e do ambiente de trabalho.
Avaliação contínua
Faça monitoramentos e avaliações regulares sobre o bem-estar dos integrantes da equipe e, a partir dos resultados, aprimore as iniciativas de promoção da saúde mental e emocional.
Os modos mais comuns para se fazer esse monitoramento são:
- Pesquisas e questionários regulares;
- Feedback contínuo;
- Acompanhamento de indicadores de desempenho;
- Feedback de saída.